A leitura que o mundo faz do que aconteceu na sessão inaugural da nova Assembleia Legislativa (Parlamento) é que o Presidente da República, Nayib Bukele, pretende monopolizar todos os poderes do Estado, após vencer o Executivo e o Legislativo nas urnas e apreender o Judiciário ao infringir as leis.
Até a Organização dos Estados Americanos, que fez vista grossa quando Bukele militarizou a Assembleia em fevereiro de 2020, rejeitou a destituição dos magistrados da Câmara Constitucional do Supremo Tribunal de Justiça e do procurador-geral, Raúl Melara, por meio de procedimentos irregulares.
As Nações Unidas, a União Europeia, os observatórios internacionais dos direitos humanos e mesmo o governo dos EUA, que Bukele costumava considerar o seu ‘parceiro de confiança’, expressaram preocupação com a violação do princípio da separação de poderes e a falta de independência do sistema judicial.
Por sua vez, tanto Bukele quanto seus deputados e seus apoiadores alegam que esse tipo de expurgo foi confiado a eles pelo povo, que votou em massa pela mudança nas eleições presidenciais de 2019 e em fevereiro passado, quando o partido no poder obteve 64 de os 84 assentos da Assembleia.
‘O povo não nos mandou negociar. Eles estão indo embora. Todos’, frisou Bukele em seu relato na rede social Twitter, de onde alertou a comunidade internacional o que acontece em El Salvador não é de sua conta.
No entanto, várias vozes dentro da sociedade civil não acreditam que a mudança exigida nas urnas fosse que os recém-chegados reproduzissem vícios de outrora, e fizessem e quebrassem conforme a conveniência, em nome do ‘povo’.
Analistas de reconhecida objetividade, como a consultora política Nayda Acevedo, observaram que ninguém garantirá que os novos magistrados e funcionários que chegarem não atenderão aos interesses daqueles que os nomearam.
Por enquanto, tudo indica que o governante vai agora buscar o atual Ministério Público de Defesa dos Direitos Humanos, o Tribunal de Contas, o Procurador-Geral da República e o Tribunal Superior Eleitoral, que são um dos poucos mecanismos que ainda propõem um contrapeso democrático neste país.
Ao mesmo tempo, os apelos à mobilização popular não penetraram muito numa cidadania dividida entre os que mais se preocupam com a sobrevivência quotidiana e os que presumem que com Bukele estão a fazer história.
(Retirado do Orb) / fav