Hanói, 31 jul (Prensa Latina) Já no século I, a cidade vietnamita central de Hoi An abrigava o maior porto do Sudeste Asiático, por isso a afirmação dos vizinhos de que um de seus pratos tradicionais resume a história do local.
Mas quando o visitante passa por ela e no final prova um cao lau, pedaço por pedaço, reconhece os lugares e os costumes pelos quais passou. E se a qualquer momento ler Marcel Proust, verá que através desta experiência gastronómica única poderá ir ’em busca do tempo perdido’.
Por ser um eixo portuário de primeira importância, Hoi An – hoje Patrimônio da Humanidade – foi um caldeirão onde os estilos que os comerciantes chineses, japoneses, indianos, franceses, holandeses e portugueses vestiam de todos os lados.
A miscigenação é perceptível nas edificações, com traços da arquitetura desses países, e a fala tem muitas palavras ’emprestadas’, assim como a gastronomia.
Neste último campo, o maior exemplo de transculturação é o cao lau, cujos principais ingredientes são macarrão de arroz, torresmo, vegetais, broto de feijão e ervas frescas, tudo mergulhado em uma pequena quantidade de caldo.
O macarrão tem a peculiaridade de ser embebido em água com alvejante, o que lhe dá textura e cor próprias, e o líquido com que o caldo é preparado deve vir de um antigo poço local. É por isso que os habitantes locais afirmam que, se for preparado fora de Hoi An, a receita não é genuína.
Quanto às influências, é claro que do Japão no macarrão; o da China, nos temperos com que se marinam os torresmos, e o da Índia, nas pimentas. Os mais distantes – da França, Holanda e Portugal – estão na base de sabores que só um especialista gourmet poderia distinguir.
Seu nome significa ‘andar superior’ em vietnamita, e era assim chamado porque em outros tempos era reservado apenas para os ricos, que quando iam aos restaurantes ocupavam o espaço de cima. Agora é servido em qualquer lugar, é claro, e não há um único visitante em Hoi An que não experimente.
Com tanta mistura é impossível determinar a origem exata do prato, mas a verdade é que a história milenar da cidade cabe em uma tigela de cao lau.
(Retirado do Orbe)