Mesmo a 9.582 quilômetros (distância entre Havana e Moscou), embora aqueles tempos de sincera amizade com a ex-União Soviética (URSS) estejam distantes, aqui ainda ao se dizer Cuba começam as lembranças de Fidel, muitas perguntas são feitas e não se abrem poucas portas.
O carinho pela ‘Ilha da Liberdade’, como eles repetem, permaneceu enraizado em russos, tadjiques, usbeques, quirguizes, azerbaijanos, armênios, cazaques, ucranianos, bielorrussos e pessoas de todas aquelas repúblicas que há tempos foram um só povo.
Na Rússia, em qualquer conversa sobre Cuba, surge uma anedota sobre um amigo, parente ou conhecido que ali serviu, quer defendendo as suas costas durante a chamada Crise dos Mísseis, quer como treinador de boxe, médico, engenheiro agrícola ou cosmonauta que descansou em Varadero.
Nesta quarta-feira, o canal russo Europa para Cuba, transmitido por amigos da ilha no YouTube para planejar o seu apoio ao país do Caribe e a sua luta contra o bloqueio dos EUA, intitulou o programa Caminhando pelo Planeta Fidel.
E para além das histórias de respeito e admiração pelo líder histórico da Revolução Cubana, uma das maiores atrações do programa foi o número de fotografias e vídeos que partilharam sobre a sua vida e as suas visitas à URSS.
Da tela, Fidel voltou a contagiar com o seu sorriso barbado, usando um casaco grande, como ele, e com a cabeça protegida por uma chapka (boné), rodeado por marinheiros da então Leningrado, lenhadores na Sibéria, aldeões, muitas crianças, ou dizendo Pátria ou Morte em frente à Praça Vermelha de Moscou.
E por trás de cada história, cada confissão, está o nome de Fidel, o seu exemplo, o David contra Golias, aquele que ganhou na Baía dos Porcos, aquele que não pôde ser derrotado pelos seus eternos inimigos, aquele que ajudou a libertar em África, aquele que defendeu a América Latina até os seus últimos dias, aquele que foi atacado mais de 600 vezes e morreu rindo da morte.
Fidel Castro é um passaporte para os cubanos que sentem a sua falta no seu 95ú aniversário, e também para outros que não o amavam e não o amam, mas que se beneficiaram da sua luta e das conquistas que alcançou para Cuba juntamente com o seu povo.
Há quem responda afirmativamente quando lhes é perguntado: de Cuba, da de Fidel? E dizem que sim, mesmo que não queiram, porque sabem que por detrás dessa resposta estará o afeto ou repúdio com que são tratados.
Numa viagem de comboio desta capital para Minsk, há muito tempo atrás, sentei-me por acaso diante de um clássico ‘mujique’, um daqueles gigantes russos cuja mera presença desperta mil preocupações. Era de manhã cedo e decidi não dormir para evitar qualquer problema.
Mas houve um momento em que olhamos um para o outro, segundos que pareciam imensamente longos. De onde és?, perguntou-me ele. Eu respondi, de Cuba. E o seu rosto mudou. Imediatamente, a pergunta esperada veio: De Fidel?
Como escreveu o jornalista ucraniano Oleg Yasinsky, ‘Fidel tornou-se uma obra coletiva do povo cubano’, as pessoas o têm tatuado nas suas almas.
É por isso que a maioria ainda defende a sua ilha irreverente, e quando o inimigo aparece, quando o perigo ameaça, começam a levantar o seu novo grito de batalha: ‘Eu sou Fidel’.
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