A investigação do chamado Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes (GIEI-Bolívia) constituiu uma nova prova daquele golpe cujos culpados ainda não pagam por ele, comentaram autoridades como o presidente Luis Arce.
O relatório apresentado terça-feira confirmou as denúncias das vítimas da repressão aos protestos de opositores ao golpe que destituiu o presidente Evo Morales e de instituições vigentes após as eleições de outubro de 2020.
A declaração do CIEI também ofereceu provas de tortura, perseguição, detenções ilegais, manifestações de racismo e graves violações dos direitos humanos fundamentais, provocadas pela quebra da ordem constitucional.
A mídia local cedeu amplo espaço à reportagem do GIEI, que investigou os acontecimentos durante oito meses, por meio de entrevistas com 400 pessoas, análise de 120 mil arquivos e depoimentos de organizações sociais.
O documento também confirma que os tiros que causaram 38 mortos e dezenas de feridos durante os atos repressivos contra as manifestações de novembro de 2019 tiveram origem nas Forças Armadas e na Polícia.
Integrantes do Grupo Interdisciplinar também apresentaram à população de Senkata o relatório sobre os massacres de 2019 do governo de fato naquela cidade do município de Alto, a exemplo do ocorrido em Sacaba, no departamento de Cochabamba.
‘A homenagem que podemos fazer é vir compartilhar com vocês o trabalho depois de ouvir suas histórias, consultar documentos, estudar arquivos e ler todas as informações de diferentes fontes’, disse Patricia Tappatá, integrante do GIEI.
Os militares causaram 10 mortos e 78 feridos em Senkata, aplicando força desproporcionalmente em novembro de 2019, diz o documento trazido pelo perito, em conjunto com colegas do Grupo como Jaime Vidal e Julián Burger.
O relatório lembra que o Decreto Supremo 4.078 do governo de fato liderado pela presidente de fato Jeanine Áñez autorizou uma operação em 19 de novembro de 2019, que protegeu os uniformizados de responsabilidade criminal.
A apresentação do documento nesta terça-feira teve repercussão em setores populares e em instituições como o Ministério Público, que, após recebê-lo, ofereceu seu apoio com as investigações sobre as denúncias sobre os excessos do golpe de Estado.
O órgão judicial acrescentou que fará justiça e evitará a impunidade. ‘Nosso compromisso como Ministério Público é encontrar a verdade’, disse o procurador-geral Juan Lanchipa.
Da mesma forma, a assessoria de imprensa anunciou que iniciará ações judiciais contra os ataques a jornalistas e meios de comunicação nacionais e estrangeiros durante as ações violentas de 2019.
O relatório do GIEI sobre esses eventos nos permite tais medidas contra aquelas pessoas que tentaram nos silenciar, acrescentou a Confederação Sindical dos Trabalhadores da Imprensa.
A repressão aos comunicadores partiu não só das autoridades, mas também dos civis que assumiram cargos oficiais, destacou o executivo da entidade, Héctor Aguilar.
As investigações revelaram atos violentos contra 58 jornalistas e incluíram uma reportagem da National Press Association que registrou ataques contra 76 repórteres e 14 veículos de imprensa durante os meses de outubro e novembro de 2019. Por sua vez, a população comemorou a denúncia, enquanto vítimas da violência em Senkata e Sacaba clamou por justiça por seus 38 mortos.
‘Não te esqueças nem perdoes. Os mortos não revivem’; ‘Não é vingança, é justiça’; ‘Não foi uma fraude, foi um golpe’; ‘Memória, verdade e justiça’; ‘Sacaba e Senkata não são esquecidos’, lêem-se os cartazes expostos na apresentação da reportagem.
O secretário executivo do Grupo independente, Jaime Vidal, disse que, após a entrega do documento de sua instituição, a Bolívia deve aplicar a lei e reparar as vítimas para conseguir um contexto de reconciliação.
‘A ideia principal que levamos é que o país caminhe para a verdade e avance com esse precedente e a necessidade efetiva de justiça, sublinhou o especialista.
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