Ontem, o presidente Sebastián Piñera entrou em ação e anunciou que o governo alocará um fundo de 100 bilhões de pesos (cerca de 130 milhões de dólares) para ajudar essencialmente os pequenos e médios agricultores, os mais afetados pela falta de água.
O presidente descreveu a seca, que vem ocorrendo há 13 anos e é uma consequência direta da mudança climática, como um ‘terremoto silencioso’, e lembrou que o déficit pluviométrico está entre 60 e 80 por cento das médias históricas em grande parte do país.
Ele também disse que a rede de estações de purificação de água do mar continuaria a ser reforçada, especialmente nas regiões de Coquimbo e Valparaíso, as mais afetadas pela escassez do líquido.
Ao mesmo tempo, ele anunciou que serão feitos esforços para progredir no uso de aquíferos naturais injetando água quando houver uma abundância do líquido.
A falta de chuvas levou a uma redução no fluxo de muitos rios, alguns dos quais estão à beira de secar, disse ele.
O problema tem sido exacerbado nos últimos meses pelas temperaturas anormalmente altas do inverno austral, que está prestes a terminar, impedindo o acúmulo de neve em grandes áreas da Cordilheira dos Andes, o que é a garantia de água suficiente na primavera e no verão, tradicionalmente seca neste país.
A crise é mais aguda na área central, que é precisamente onde se concentra a maior parte da população e as principais áreas agrícolas, e em muitos lugares o número de famílias que são abastecidas com água por caminhões-tanque está aumentando.
Na semana passada, o governo decretou uma emergência agrícola nas regiões de Coquimbo, Valparaiso, O’Higgins e Maule, à qual se acrescentou neste fim de semana a Região Metropolitana, onde se localiza a capital e que por si só compreende oito dos 19 milhões de habitantes do Chile.
Enquanto isso, a agricultura está sofrendo e a principal evidência disso é o aumento gradual dos preços de frutas e vegetais devido à redução da oferta.
Por sua vez, os grandes produtores temem uma diminuição das colheitas, o que poderia ter um impacto negativo no que é, após a mineração, um dos principais setores de exportação do país.
Mas a crise da água não se deve apenas à falta de chuvas, mas também ao uso inadequado da água disponível, como repetidamente denunciado por numerosos grupos ambientais e setores da oposição.
Este recurso, fundamental para a vida, está quase inteiramente nas mãos de empresas privadas, que transformam a água em apenas mais uma mercadoria, seguindo o padrão do modelo neoliberal vigente no país.
A Constituição imposta durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) é possivelmente a única no mundo que não estabelece o acesso à água como um direito.
Entretanto, apesar da crise atual, um projeto de lei introduzido há cerca de uma década para reformar o Código de Águas, em vigor desde 1980, está avançando de forma incrivelmente lenta no Congresso Nacional.
A proposta busca estabelecer o direito essencial a este recurso, dar segurança jurídica ao exercício do direito humano de acesso à água potável e ao saneamento, e reafirmar o uso público da água.
Também visa a estabelecer novas regulamentações para a concessão, uso e extinção dos direitos da água e proporcionar proteção para a preservação da água nos ecossistemas terrestres.
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