Foi em Punta del Este, Uruguai, em janeiro de 1962, que a OEA, classificada como Ministério das Colônias Ianques pelo Ministro das Relações Exteriores da Dignidade, Raúl Roa, começou a cair com a expulsão de Cuba e a proclamação de uma Aliança para o Progresso, mais uma fraude dos Estados Unidos.
Desde então, com base nas denúncias inicialmente feitas por Cuba e seguidas em certos momentos por outros países como a Venezuela de Hugo Chávez, o Brasil de Lula, a Argentina de Néstor Kirchner, a Bolívia de Evo Morales, a Nicarágua de Daniel Ortega e o Equador de Rafael Correa, a demanda por seu desaparecimento é mantida com mais ou menos insistência.
Agora a organização vive seu pior momento de descrédito e para isso contribuiu muito o mercenarismo desenfreado de seu chefe, o uruguaio Luis Almagro, o mais repudiado secretário-geral de todos os que a dirigiram.
Nessas longas seis décadas, o prestígio da OEA foi degradado a tal ponto que, como disse o ex-presidente Correa, a questão não é se ela deve ser substituída, o que é dado como certo, mas como a América Latina tem suportado isso.
Mais ou menos nesse sentido corre a proposta de López Obrador e os questionamentos que o chanceler mexicano Marcelo Ebrard dirigiu a seus colegas do Castelo de Chapultepec na XXI Conferência Ministerial da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), cuja cúpula de chefes de estado será neste mês.
Ebrard perguntou se faz sentido, ou alguma perspectiva neste século, pensar em uma Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos e na necessidade desse espaço, além do antigo desejo de união regional, e ele mesmo respondeu: ‘nós precisamos e Além disso, nós a amamos e o estamos construindo entre todos nós que estamos aqui. ‘ Ao expor essa questão minutos antes do Presidente López Obrador, no mesmo ato, lançar a proposta de substituição da OEA, alguns inferiram que havia uma espécie de concatenação de ambas as ideias e que a conclusão seria que o Celac era o substituto, algo que nenhum deles jamais tornou explícito.
O presidente concordou que a OEA é um instrumento servil aos Estados Unidos e um agente de sua política intervencionista, como nos tempos da doutrina Monroe à qual os grupos de poder, republicanos ou democratas, buscam retornar, e que ela não tem mais espaço na América Latina e no Caribe.
O Ministro das Relações Exteriores, por sua vez, acredita que diante de um mecanismo interamericano fracassado e, de fato, adverso aos interesses coletivos do sul do Rio Bravo, como a OEA, é fundamental defender e fortalecer a Celac sob a filosofia de integração e a unidade.
‘Se não agirmos juntos e não falarmos em uma só voz, ninguém vai cuidar de nós, ninguém vai perguntar: Bom, e América Latina e Caribe: já terá vacinas? Será que a América Latina e o Caribe têm recursos suficientes para progredir? ‘
Obviamente que não, e é aí que reside a importância de manter, fortalecer e consolidar a Celac, algo que o México realmente conquistou nos quase dois anos em que foi pro tempore na presidência e que este mês deve transferir para a Argentina.
A pandemia deCovid-19, com seus grandes efeitos negativos para todo o continente, e a distribuição injusta de vacinas – que só começou a chegar aos países da região quando os mercados dos Estados Unidos e Canadá estavam saturados – é a prova que o México expõe para fortalecer os mecanismos de cooperação e integração solidária nos quais a Celac fundamenta suas ações.
Fazer uma comparação entre uma instituição e a outra é tão desnecessário quanto dizer que a Celac zela e defende os interesses da comunidade e a OEA, pelo contrário, ataca-os a favor dos Estados Unidos.
No entanto, é aí que surge a grande contradição, já que ambas reúnem os mesmos protagonistas: a OEA, todas com exceção de Cuba, a Celac também, mas sem os Estados Unidos.
É nesse mesmo esquema que se chocam as ideias de que uma poderia ser a instituição que suplanta a outra, porque seu principal interlocutor, os Estados Unidos, despreza a Celac e ama a OEA.
Lá, entra em vigor a expressão do ex-presidente do Equador Correa de que a questão não está na substituição, mas em como tem sido possível que a América Latina e o Caribe a tenham tolerado até agora.
A ideia, pensam alguns analistas, é que a instituição atual desapareça, que seja apagada do mapa, sem que haja a preocupação ou a obrigação de substituí-la porque já existem na região mecanismos de integração e coordenação, e mais de um, tais como o Sistema Econômico Latino-Americano (Sela).
Segundo esses pensadores, o mais importante, é que o governo dos Estados Unidos se comprometa a negociar tudo o que for negociável, seja por meio da Sela, Celac, Cepal ou algum fórum ad hoc.
Mas Washington deve expressar sua vontade de ser um interlocutor válido com o desejo de ajudar o desenvolvimento sustentável que elimina graves problemas atuais, como a migração econômica.
Por exemplo, o Grupo Puebla, formado por personalidades de 16 países, ao expressar da Argentina seu apoio à proposta do México, considera que um novo órgão poderia ser o resultado da convergência em uma nova Celac fortalecida e empoderada, ou da expansão do União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que já está se recompondo com o México, América Central e Caribe.
São ideias a considerar, mas voltando à pergunta do Ministro da Relações Exteriores Ebrard sobre se a existência da Celac faz sentido ou não, e à proposta de López Obrador de eliminar a OEA, a resposta mais racional é que a comunidade deve ter um papel decisivo na criação das condições para uma nova relação hemisférica.
E nele a presença da Organização dos Estados Americanos é impossível.
Conforme afirma o presidente do México, neste momento da evolução histórica do continente americano, a política dos últimos dois séculos caracterizada por invasões para colocar e destituir governantes ao sabor da superpotência (os Estados Unidos) já é inaceitável, como aconteceu sob a égide da Doutrina Monroe.
O governo de Washington, seja republicano ou democrata, deve admitir que está em uma mudança de época, e não em uma simples era de mudança.
Isso inclui também admitir a necessidade de uma nova visão em suas relações hemisféricas, bastante contrária e distante da doutrina Monroe à qual parece que pretendem retornar.
* Correspondente-chefe da Prensa Latina no México
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