5 de November de 2024
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Desaparecimento da OEA, antiga demanda renovada

Desaparecimento da OEA, antiga demanda renovada

México (Prensa Latina) A proposta do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, de substituir a Organização dos Estados Americanos (OEA) por uma instituição não intervencionista, renova uma antiga reivindicação de 60 anos atrás, quando começou sua queda.

Foi em Punta del Este, Uruguai, em janeiro de 1962, que a OEA, classificada como Ministério das Colônias Ianques pelo Ministro das Relações Exteriores da Dignidade, Raúl Roa, começou a cair com a expulsão de Cuba e a proclamação de uma Aliança para o Progresso, mais uma fraude dos Estados Unidos.

Desde então, com base nas denúncias inicialmente feitas por Cuba e seguidas em certos momentos por outros países como a Venezuela de Hugo Chávez, o Brasil de Lula, a Argentina de Néstor Kirchner, a Bolívia de Evo Morales, a Nicarágua de Daniel Ortega e o Equador de Rafael Correa, a demanda por seu desaparecimento é mantida com mais ou menos insistência.

Agora a organização vive seu pior momento de descrédito e para isso contribuiu muito o mercenarismo desenfreado de seu chefe, o uruguaio Luis Almagro, o mais repudiado secretário-geral de todos os que a dirigiram.

Nessas longas seis décadas, o prestígio da OEA foi degradado a tal ponto que, como disse o ex-presidente Correa, a questão não é se ela deve ser substituída, o que é dado como certo, mas como a América Latina tem suportado isso.

Mais ou menos nesse sentido corre a proposta de López Obrador e os questionamentos que o chanceler mexicano Marcelo Ebrard dirigiu a seus colegas do Castelo de Chapultepec na XXI Conferência Ministerial da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), cuja cúpula de chefes de estado será neste mês.

Ebrard perguntou se faz sentido, ou alguma perspectiva neste século, pensar em uma Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos e na necessidade desse espaço, além do antigo desejo de união regional, e ele mesmo respondeu: ‘nós precisamos e Além disso, nós a amamos e o estamos construindo entre todos nós que estamos aqui. ‘ Ao expor essa questão minutos antes do Presidente López Obrador, no mesmo ato, lançar a proposta de substituição da OEA, alguns inferiram que havia uma espécie de concatenação de ambas as ideias e que a conclusão seria que o Celac era o substituto, algo que nenhum deles jamais tornou explícito.

O presidente concordou que a OEA é um instrumento servil aos Estados Unidos e um agente de sua política intervencionista, como nos tempos da doutrina Monroe à qual os grupos de poder, republicanos ou democratas, buscam retornar, e que ela não tem mais espaço na América Latina e no Caribe.

O Ministro das Relações Exteriores, por sua vez, acredita que diante de um mecanismo interamericano fracassado e, de fato, adverso aos interesses coletivos do sul do Rio Bravo, como a OEA, é fundamental defender e fortalecer a Celac sob a filosofia de integração e a unidade.

‘Se não agirmos juntos e não falarmos em uma só voz, ninguém vai cuidar de nós, ninguém vai perguntar: Bom, e América Latina e Caribe: já terá vacinas? Será que a América Latina e o Caribe têm recursos suficientes para progredir? ‘

Obviamente que não, e é aí que reside a importância de manter, fortalecer e consolidar a Celac, algo que o México realmente conquistou nos quase dois anos em que foi pro tempore na presidência e que este mês deve transferir para a Argentina.

A pandemia deCovid-19, com seus grandes efeitos negativos para todo o continente, e a distribuição injusta de vacinas – que só começou a chegar aos países da região quando os mercados dos Estados Unidos e Canadá estavam saturados – é a prova que o México expõe para fortalecer os mecanismos de cooperação e integração solidária nos quais a Celac fundamenta suas ações.

Fazer uma comparação entre uma instituição e a outra é tão desnecessário quanto dizer que a Celac zela e defende os interesses da comunidade e a OEA, pelo contrário, ataca-os a favor dos Estados Unidos.

No entanto, é aí que surge a grande contradição, já que ambas reúnem os mesmos protagonistas: a OEA, todas com exceção de Cuba, a Celac também, mas sem os Estados Unidos.

É nesse mesmo esquema que se chocam as ideias de que uma poderia ser a instituição que suplanta a outra, porque seu principal interlocutor, os Estados Unidos, despreza a Celac e ama a OEA.

Lá, entra em vigor a expressão do ex-presidente do Equador Correa de que a questão não está na substituição, mas em como tem sido possível que a América Latina e o Caribe a tenham tolerado até agora.

A ideia, pensam alguns analistas, é que a instituição atual desapareça, que seja apagada do mapa, sem que haja a preocupação ou a obrigação de substituí-la porque já existem na região mecanismos de integração e coordenação, e mais de um, tais como o Sistema Econômico Latino-Americano (Sela).

Segundo esses pensadores, o mais importante, é que o governo dos Estados Unidos se comprometa a negociar tudo o que for negociável, seja por meio da Sela, Celac, Cepal ou algum fórum ad hoc.

Mas Washington deve expressar sua vontade de ser um interlocutor válido com o desejo de ajudar o desenvolvimento sustentável que elimina graves problemas atuais, como a migração econômica.

Por exemplo, o Grupo Puebla, formado por personalidades de 16 países, ao expressar da Argentina seu apoio à proposta do México, considera que um novo órgão poderia ser o resultado da convergência em uma nova Celac fortalecida e empoderada, ou da expansão do União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que já está se recompondo com o México, América Central e Caribe.

São ideias a considerar, mas voltando à pergunta do Ministro da Relações Exteriores Ebrard sobre se a existência da Celac faz sentido ou não, e à proposta de López Obrador de eliminar a OEA, a resposta mais racional é que a comunidade deve ter um papel decisivo na criação das condições para uma nova relação hemisférica.

E nele a presença da Organização dos Estados Americanos é impossível.

Conforme afirma o presidente do México, neste momento da evolução histórica do continente americano, a política dos últimos dois séculos caracterizada por invasões para colocar e destituir governantes ao sabor da superpotência (os Estados Unidos) já é inaceitável, como aconteceu sob a égide da Doutrina Monroe.

O governo de Washington, seja republicano ou democrata, deve admitir que está em uma mudança de época, e não em uma simples era de mudança.

Isso inclui também admitir a necessidade de uma nova visão em suas relações hemisféricas, bastante contrária e distante da doutrina Monroe à qual parece que pretendem retornar.

* Correspondente-chefe da Prensa Latina no México

lma / hb

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