Quem é o líder deste projeto dedicado ao restabelecimento dos laços bilaterais e que cesse a política unilateral? Seu principal promotor é o acadêmico cubano-americano Carlos Lazo, natural da cidade de Jaimanitas, em Havana, que visitou a ilha em agosto passado.
Como parte de sua agenda, o professor manteve um diálogo com o presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez e, com exclusividade à Prensa Latina, reconheceu a vontade do presidente de avançar no caminho da normalização das relações entre os cubanos do país e seus emigrantes.
O que o projeto Pontes de Amor promove?
Segundo Lazo, a iniciativa, proveniente de aulas com seus alunos de várias escolas públicas dos Estados Unidos, desperta esperança e impacta o imaginário popular, principalmente na comunidade de cubanos que vivem no exterior.
Sua premissa é a frase do apóstolo José Martí: ‘Fazer é a melhor maneira de dizer’ e com ela resiste diariamente ao bombardeio de mentiras, difamações e à versão distorcida da realidade sobre Cuba, baseada no rancor e na punição, propagadas na mídia fora da ilha.
‘Quase não houve vozes aqui que mostrassem o outro lado da moeda. Se bem que, advirto, que a maioria de nós defende uma reaproximação entre as duas nações, muitos têm medo de pressão, assédio e ofensa nas redes sociais’, disse Lazo.
Em 2017, ensinou seus estudantes a conjugar verbos em espanhol como cultivar e arrancar, frequentes na poesia de Marti, por meio da canção Guantanamera, de José Fernández, mas cuja versão mais conhecida inclui estrofes dos ‘Versos Sencillos’ (Versos simples) do intelectual cubano.
A partir daquele momento, desejavam fazer um intercâmbio com crianças deste país caribenho e três meses depois, graças ao apoio da organização Cuba Educational Travel, chegaram a Havana 40 pessoas entre educandos e pais, num total de 200 em mais quatro viagens de 2018 a 2020.
‘Ficam fascinados de ir a Cuba e nesses encontros conheceram artistas como Waldo Mendoza, o grupo Buena Fe e Omara Portuondo. Outra parte significativa, relacionada a origem e impulsionamento do projeto são meus vizinhos jaimanitas, minha infância ali e minha tia Victoria, de San Diego de los Baños (província de Pinar del Río) ‘, lembrou.
Puentes de amor, inicialmente formada por adolescentes estadunidenses e hoje com uma página na rede social Facebook seguida por 70.000 usuários, não é uma organização formal, mas representa um movimento e ideia daqueles comprometidos com o diálogo entre os dois povos e governos.
‘Quando (o presidente dos Estados Unidos Donald) Trump, como parte das 243 medidas contra a ilha, suspendeu as viagens por categorias educacionais, não pude ficar calado. Tive que buscar alternativas para levar meus alunos, defender seu direito de conhecer Cuba e enfrentar àqueles que atrapalham esses laços ‘, disse Lazo.
Propostas contra o bloqueio imposto a Cuba
Foi a partir de 2019 que a voz do acadêmico ganhou maior destaque na chamada diáspora cubano-americana com ações como a arrecadação de doações para os atingidos em Havana pelo tornado de janeiro daquele ano.
Algum tempo depois, em 11 de julho de 2020, fez uma viagem de bicicleta de Seattle, na costa do Pacífico, a Washington DC e, durante a viagem de 5 mil quilômetros, inúmeras pessoas apoiaram a reivindicação ao fim do bloqueio.
Em outubro daquele ano, pediram ao atual presidente Joe Biden – na época aspirante à Casa Branca – a reativação da embaixada, a normalização da emissão de vistos e do restante dos serviços consulares, e a restauração de Programa de Reunificação Familiar, suspenso em 2017.
As demandas, assinadas por mais de 27.000 pessoas até o momento, incluíam também o restabelecimento de voos das companhias aéreas dos Estados Unidos às províncias cubanas, remessas ilimitadas e estímulo a investimentos econômicos, intercâmbios científicos e culturais.
Outra nova peregrinação, a pé e por dois mil quilômetros, de Miami a Washington DC começou no último dia 27 de junho com a reivindicação a Biden do fim das sanções contra a família cubana e a promoção da generosidade e da humanidade diante do ódio e da intolerância.
Nessa viagem de várias semanas, os participantes, segundo Lazo, reuniram amigos e explicaram aos seus concidadãos de qualquer raça, religião e credo a necessidade de acabar ‘com aquela política obsoleta e desumana que, após seis décadas de tensões, só tem deixado miséria, dor e ressentimentos’.
Lazo também colaborou com a proposta solidária ‘Jeringuillas para Cuba’ (Seringas pela Cuba), organizada pela Campanha Salvando Vidas e a organização Global Health Partners para contribuir com o programa de vacinação contra Covid-19 e enfrentar a crise econômica.
‘Escrevo artigos, poesias e canções; organizo viagens e iniciativas culturais como arrecadação de fundos diante de situações difíceis e faço passeatas à bicicleta a caminho de Washington DC para falar sobre a necessidade de construir pontes de amor. Somos uma fábrica de sonhos e projetos ‘, argumentou.
Para Lazo sempre haverá ações nessa luta por causas justas e em benefício da família cubana, da alegria, da música e da certeza de que ‘vamos a uma festa de amor, quando Cuba e Estados Unidos deem as mãos, se estabeleça a solidariedade e não haja tentativa de afogar a ilha’.
Frequentemente recebe ameaças de morte, ofensas, cyberbullying e agressões físicas: ‘no mês passado a caminho de Washington jogaram-nos um camião que quase provocou um acidente, da mesma forma, vários carros tentaram atropelar os jovens durante a sua mobilização’, denunciou.
Quem é Carlos Lazo?
Lazo nasceu em 1965, em uma pequena vila de pescadores a oeste de Havana e, como disse à Prensa Latina, sua infância se passou em um ambiente saudável e a menos de 200 metros do mar: ‘Eu ia brincar com meus amigos, e às 12 horas ouvi a voz da minha mãe ao longe: Carlitos, vamos almoçar’.
Quando criança queria ser marinheiro ou engenheiro naval e na juventude seu sonho era a medicina, mas vários acontecimentos em sua vida determinaram uma mudança drástica nos planos: o ano de 1980 representou para o professor e para muitas famílias cubanas ‘a lágrima e a ruptura ‘.
Seu irmão refugiou-se na Embaixada do Peru e foi para aquele país; depois, sua mãe viajou para os Estados Unidos e, aos 15 anos, Carlos foi deixado sozinho em Havana.
‘Passei o pré-universitário a duras penas graças ao professor Rolando Ardiles. Depois de 40 anos nos encontramos novamente em agosto passado na minha visita a Cuba. Naquela época, ele me abrigou quando algumas pessoas, por razões políticas e ideológicas, me deram as costas’, disse Lazo.
Ele chegou aos Estados Unidos em 20 de outubro de 1991, e foi entregador de pizza, garçom de restaurante, motorista de caminhão no sul da Flórida e, em 1998, após se mudar para Seattle, trabalhou por dez anos como conselheiro de pessoas com doenças mentais.
Naquela época, ele era membro da Guarda Nacional, estudou enfermagem e, em 2003, participou da guerra no Iraque. Sua experiência durante essa agressão, iniciada em 20 de março do mesmo ano e até 2011 com a retirada das tropas norte-americanas, o fez pensar em Cuba e nos custos dessa intervenção humanitária.
‘Eu não queria isso para o meu país. Foi uma experiência muito forte testemunhar ao vivo e a cores as consequências dos conflitos de guerra sobre os povos e aquela dor e desgosto quando os homens se voltam uns contra os outros e resolvem problemas com violência e morte’, afirmou.
Ao retornar da guerra em 2005, enfrentou as medidas impostas pelo então presidente George W. Bush (2001-2009) em relação às viagens de cubano-americanos ao país caribenho, que limitavam as visitas a parentes próximos apenas uma vez a cada três anos.
‘Com dois filhos na ilha, naquela época me tornei um ativista contra aquelas sanções cruéis usadas como castigo para as famílias cubanas. Hoje, com o mesmo argumento de derrubar o governo cubano, as sanções persistem e Biden não cumpriu sua promessa eleitoral ‘,explicou.
* O autora é jornalista da Redação Cultural da Prensa Latina
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