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Cuba 1958 e o assassinato das mensageiras

Cuba 1958 e o assassinato das mensageiras

Havana, 16 Set(Prensa Latina) A água salgada arde nas feridas abertas do crânio, as mensageiras cubanas Lídia e Clodomira permanecem inertes em sacos de areia que seus torturadores submergiram a intervalos no mar hoje há 63 anos.

As investigações históricas coincidem em apontar este cenário como o último vivido pelos dois revolucionários, anteriormente indignados na Décima Primeira Delegacia desta capital durante a ditadura de Fulgencio Batista (1952-1958).

Lidia Doce, de 42 anos, foi principalmente mensageira da coluna guerrilheira comandada por Ernesto Che Guevara, enquanto Clodomira Acosta, duas décadas mais jovem que a primeira, foi a articuladora do líder do Movimento 26 de Julho (26-7), Fidel Castro, na Sierra Maestra (leste).

As duas se conheceram em Havana em setembro de 1958 e se hospedaram no apartamento 11 do prédio Santa Rita 271, no bairro Juanelo, na cidade de Regla, junto com outros quatro integrantes da luta clandestina.

Na madrugada do dia 12, em resultado de uma denúncia, o coronel da polícia Esteban Ventura comandou um assalto àquela casa e assassinou todos os jovens, membros do Movimento que não tinham mais de 23 anos.

O cabo policial Eladio Caro explicou anos depois que Clodomira e Lídia, esta última ferida por um tiro, foram espancadas até a delegacia, onde foram jogadas no porão.

‘Claro que a mulher (Lídia) não conseguia ficar de pé, mas o guarda bateu nela com um pau na cabeça para mandar. (…) a mulata magrinha (Clodomira) me soltou e subiu escada acima, rasgando tirá-lo. a camisa enquanto cravava as unhas em seu rosto ‘, disse Caro.

‘Tentei tirá-la de cima, mas ela se virou e saltou em forma de garfo na minha cintura. Ariel Lima teve que tirá-la de cima de mim com uma vara limpa até que ela nocauteou’, acrescentou.

Segundo o depoimento de Caro, as mulheres não responderam ao interrogatório e o então chefe do Serviço de Inteligência Naval, Julio Stelio Laurent, pediu no dia 14 daquela noite que fossem encaminhadas a ele.

‘Ventura respondeu: estes animais bateram tanto nelas para fazê-los falar que a mais velha está inconsciente e a mais nova tem a boca inchada e quebrada pelos golpes, só se entendem palavrões’, disse o ex-policial.

O então delegado nacional de ação do Movimento, Delio Gómez, confirmou posteriormente que Lídia conhecia os pontos de encontro do 26-7 na capital, quase todos os membros da direção, bem como os locais onde se guardavam os mantimentos para a guerrilha.

‘Depois que Laurent falhou em sua tortura sem conseguir arrancar uma palavra delas (na madrugada do dia 15), já morrendo, eles as colocaram em um barco, em La Puntilla, no fundo do Castillo de la Chorrera’, confirmou Caro.

A indignação continuou com elas em sacos de areia e constantemente submersa naquela área do mar.

As investigações relatam que entre aquela manhã e 17 de setembro, Laurent deu a ordem de jogar seus corpos no fundo.

Esteban Ventura é famoso por seus abusos e assassinatos (confessado em seu livro de 1961), incluindo os de quatro outros jovens no massacre conhecido como Humboldt 7 (1957).

De acordo com um estudo da Revista Bohemia, entre 1952 e 1958 mais de 600 corpos de homens e mulheres chegaram ao necrotério de Havana, mortos por choques elétricos, espancamento, enforcamento ou tiros.

A cifra equivale a 5% dos mortos nesses anos pelos órgãos repressivos da ditadura de Fulgencio Batista, informa a publicação.

Esteban Ventura e Julio Laurent morreram livres com mais de 80 anos de idade nos Estados Unidos, sem que aquele governo concorde com sua extradição para processá-los em Cuba por seus crimes de guerra.

rgh/idm/jcfl

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