5 de November de 2024
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Estados Unidos e os ataques sônicos: das microondas ao grilo

Estados Unidos e os ataques sônicos: das microondas ao grilo

Havana (Prensa Latina) Um relatório desclassificado do Departamento de Estado ratificou uma verdade que o governo americano ainda tem dificuldade em admitir: nunca houve ataques acústicos contra seus diplomatas em Havana.

Publicado no site digital BuzzFeed News – que se dedica à divulgação de furos de alta visibilidade –, o documento escrito pelo grupo consultivo Jason, rejeitou em 1 de outubro a teoria das causas por trás dos alegados ataques acústicos alegados em 2017 por autoridades americanas.

O conselho científico de elite argumentou que era improvável que as razões para os alegados incidentes fossem microondas ou raios de ultrassom e provavelmente grilos.

Desta forma, o argumento político utilizado pela administração do ex-presidente Donald Trump (2017-Janeiro de 2021) para reforçar o bloqueio americano contra Cuba é mais uma vez desmantelado.

Nessa ocasião, os Estados Unidos acusaram Cuba, sem provas, de um suposto ataque deliberado contra seu corpo diplomático credenciado em Havana, o que as autoridades da ilha negaram categoricamente desde o início.

O Departamento de Estado notificou o Ministério das Relações Exteriores em fevereiro de 2017 sobre a ocorrência de alguns incidentes de saúde registrados desde novembro do ano anterior.

Diz-se que os ‘pequenos ruídos’ causaram uma série de alegadas lesões neurológicas ligadas a sintomas como tontura, visão embaçada, perda de memória e dificuldade de concentração.

O Ministro das Relações Exteriores cubano Bruno Rodríguez negou as acusações e advertiu que seu país nunca perpetrou nem perpetrará ataques de qualquer tipo contra funcionários diplomáticos ou suas famílias, sem exceção, e que não permitiu nem permitirá que este território seja utilizado por terceiros para tal fim.

ESCALADA DE DECLARAÇÕES E AÇÕES

O falso argumento foi levado à letra e serviu ao então presidente republicano para desmantelar a embaixada de Washington na capital cubana e posteriormente adotar mais de 240 medidas adicionais – ainda em vigor – em uma inversão do cerco unilateral da ilha antilhana.

Em julho passado, o Presidente Joe Biden ordenou ao Departamento de Estado que examinasse a possibilidade de aumentar o pessoal de sua representação em Havana, em meio à revisão há muito promissora da política em relação a Cuba.

Algum tempo depois, a mídia noticiou que a Casa Branca havia aprovado uma mudança no status diplomático de seu pessoal em Havana, pois desde outubro de 2017 e sob o pretexto destes supostos ataques acústicos, o governo dos EUA estabeleceu que sua embaixada em Cuba era um lugar de certo perigo.

Nos últimos quatro anos, os funcionários foram nomeados por apenas 12 meses e sem família ou companheiros, portanto, a modificação anunciada significa que agora lhes será permitido trazer um cônjuge ou um adulto com eles, mas os filhos ainda são proibidos.

Uma fonte disse à Prensa Latina, sob condição de anonimato, que ‘tudo isso é um ato hipócrita’, pois em Cuba há total segurança para os diplomatas.

É uma questão de princípio, explicou ele, porque Cuba cumpre com toda a seriedade e rigor com as obrigações que lhe são impostas pela Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas, no que diz respeito à proteção da integridade dos funcionários credenciados em território nacional.

A história dos incidentes de saúde e das falsas acusações foi a base para uma escalada das declarações e ações da administração Trump, disse Johana Tablada, vice-diretora geral para os Estados Unidos no Ministério das Relações Exteriores, na época.

O objetivo, ela enfatizou na época, era apertar o bloqueio e redobrar a hostilidade contra o país antilhano.

Outro relatório do Departamento de Estado, desclassificado no início deste ano, indicou que a decisão de Trump de reduzir seu pessoal em Havana foi uma resposta política atormentada por má administração, falta de coordenação e descumprimento de procedimentos.

INSETOS NO ESPAÇO

O documento agora lançado observou que ‘os sons gravados (provas) são de origem mecânica ou biológica, e não eletrônica’ e que a fonte mais provável ‘é o grilo de cauda curta das Índias’.

Esta hipótese não é nova, tendo sido apresentada antes como uma possível explicação para o que dizem ter acontecido, embora a Casa Branca a tenha rejeitado com base em outro relatório médico encomendado pelo próprio Departamento de Estado e publicado por um painel das Academias Nacionais de Ciências em 2020, que voltou à teoria das microondas.

Até hoje – tentando colocar nomes e sobrenomes em uma ‘síndrome’ inexistente – o governo dos EUA alega que quase 200 incidentes similares aos alegadamente registrados em Havana ocorreram, apenas em lugares tão diferentes como Índia, Rússia, Vietnã e até mesmo Washington, DC.

Em 28 de setembro, a Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA aprovou um projeto de lei para compensar o pessoal ‘afetado’ por uma doença de saúde que provavelmente será um produto da imaginação.

Em junho, o projeto de lei foi aprovado no Senado e sua descrição autorizou a CIA, o Departamento de Estado e outros órgãos a fornecer pagamentos aos funcionários e suas famílias após manifestações desta ‘síndrome’ enquanto servindo no serviço externo ou em solo estadunidense.

Logo após a divulgação do novo relatório, o Ministro das Relações Exteriores de Cuba reafirmou que não houve ataques acústicos e que houve manipulação política da questão para prejudicar as relações entre os dois países.

Por meio de sua conta oficial no Twitter, Rodríguez lembrou que resultados classificados e provas de pesquisas científicas não públicas sobre esses chamados incidentes de saúde continuam a aparecer, provando o já óbvio: a inexistência de qualquer ataque acústico.

Nesse sentido, a Academia de Ciências cubana expressou em um relatório técnico recente que tais ‘ataques’ eram cientificamente inaceitáveis.

‘A narrativa da síndrome do mistério sobreviveu devido a um uso tendencioso da ciência, na qual as opiniões divergentes foram suprimidas e as evidências publicadas foram escolhidas para reforçar uma narrativa falsa e não científica’, advertiu, enfatizando que ‘explicações mais simples e menos esotéricas devem ser exploradas para se chegar à verdade’.

arb/lb/dfm/vmc

(*) Jornalista da redação da Prensa Latina na América do Norte

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