O lutador exemplar pela libertação dos povos deixou relatos rigorosos e diários de campanha de suas experiências nesses três países, assim como numerosos ensaios, documentos, testemunhos, poemas e até cartas pessoais, que mais tarde foram transformados em livros publicados em vários idiomas e distribuídos em todo o mundo.
Che também se destacou por sua oratória direta, sintética, convincente, gravada em numerosos audiovisuais.
Em Sierra Maestra de Cuba, cenário da guerrilha liderada pelo líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, ele estava entre os fundadores da Rádio Rebelde, uma estação de rádio que teve um grande impacto no país, apesar de seu limitado alcance territorial.
Após o triunfo de 1959, junto com Fidel Castro, ele promoveu a fundação da agência de notícias latino-americana Prensa Latina, criada para defender Cuba das campanhas desestabilizadoras dos Estados Unidos e para dar à América Latina uma voz própria diante do monopólio noticioso de Washington.
‘Che tinha esse interesse e esse hábito’, lembrou Tomás Escandón, membro da equipe de guerrilheiros de Che no Congo (1965), em entrevista exclusiva à Prensa Latina, que disse que uma de suas características era ‘sempre se manter informado e também informar Fidel sobre a situação da missão’.
No Congo, ele valorizava muito as comunicações, o recebimento e a transmissão de informações. Ele mantinha contato com as diferentes frentes de guerrilha, forneceu informações e orientação, apesar das deficiências de alguns de nossos equipamentos, Escandón apontou.
Ele estava sempre atualizado com as notícias, especialmente da Europa. Ele me pediu as frequências da Rádio França Internacional, que sintonizou graças ao seu domínio da língua francesa. Ele também ouviu a Rádio Habana Cuba para obter informações de Cuba e do resto do mundo, disse ele.
Para isso, ele acrescentou, usamos um receptor de rádio portátil de ondas curtas Zenith Transoceanic, que era muito moderno na época.
Atualmente encarregado das comunicações técnicas da Prensa Latina, Escandón recontou as diferentes formas de transmitir e receber mensagens criptografadas durante os últimos meses das tropas de Che no Congo, especialmente a retirada através do lago Tanganyika para o porto de Kigoma, na Tanzânia.
Somente nos últimos 30 dias de atividade, 110 mensagens foram transmitidas e 60 recebidas, de acordo com o Che.
Vindo das Forças Armadas Revolucionárias Cubanas e tendo se formado como especialista em comunicação na então União Soviética, Escandón disse que Che também teve um treinamento técnico muito superior ao dos demais oficiais.
‘Ele inspecionou pessoalmente o nosso trabalho, uma pequena equipe de comunicadores. Ele organizou as guardas para nós’, disse ele.
Ele ia constantemente para a cabana onde havíamos instalado os instrumentos de comunicação e trocado constantemente com o chefe dos comunicadores, Justo Rómulo Rumbaut.
Citado no livro Los Hombres de Tatu, de Ramón Torres Zayas, Rumbaut disse que Che (Tatu) ‘reconheceu que, graças a nós, foi capaz de manter contato com Fidel e aprender sobre os principais problemas de Cuba. Em algum momento, ele confessou que nosso trabalho o ajudou a não se sentir isolado’.
Suas tropas, menos de 200 homens, incluindo cubanos e congoleses, estavam sendo sitiadas por tropas inimigas, incluindo mercenários belgas, então ele ordenou que os combatentes fossem para o sul, o que deveria ser comunicado a Kigoma para que eles pudessem enviar dois grandes barcos.
Escandón lembrou que eles tinham que deixar o equipamento escondido em uma caverna perto do acampamento e usar outro ‘que nós tínhamos preparado como reserva’.
Che descreveu a tarefa da seguinte forma: ‘Eu estava esperando pelo equipamento de comunicação; às seis horas tivemos que tentar a primeira comunicação (…). Isso foi desesperador; uma colina que leva dez minutos para descer, os camaradas demoraram três horas para fazê-lo, e tiveram que recuperar o fôlego antes de continuar caminhando’.
Tentamos fazer a habitual comunicação de 10 horas e falhamos. Seguimos o ritmo lento imposto pelos três camaradas que estavam totalmente desacostumados a caminhar em colinas e que marchavam apenas com seus espíritos, acrescentou Che.
Ele disse que finalmente, às três horas da tarde, eles conseguiram passar uma mensagem pedindo que os caças fossem pegos o mais rápido possível, indicando o ponto de coleta.
A esse respeito, Ulises Estrada, um dos chefes dessa missão, revelou em uma reunião com comunicadores internacionalistas que Che fez ‘uma avaliação muito, muito, muito positiva, e eu digo muito, muito positiva três vezes porque você sabe que Che foi muito crítico em sua avaliação’.
Oscar Fernández Mell, outro membro da equipe geral do Che, afirmou que ‘na retirada bem sucedida, as comunicações desempenharam um papel essencial, pois o momento e o ponto exato da retirada do navio para a passagem para a Tanzânia era conhecido’.
Escandón, que usou o nome de guerreiro ‘Julio’ e, mais tarde, ‘Raúl’, não tinha encontrado Che pessoalmente até sua chegada ao Congo, onde o líder guerrilheiro o identificou fraternalmente como um ‘técnico’.
O especialista, orgulhoso de seu trabalho como comunicador naquela missão, guarda inúmeras lembranças de sua experiência internacionalista no Congo, que, segundo ele, acabou influenciando a independência de vários outros países africanos e o fim do Apartheid. arb/jl/vmc
(*) Diretor de Comunicação e Imagem da Prensa Latina