Definido como uma das prioridades pelo vice-primeiro ministro e chefe da Economia e Planejamento, Alejandro Gil, enfrentar este fenômeno que torna a vida dos cubanos mais cara também está ligado ao cuidado com pessoas vulneráveis, outra das questões priorizadas pela liderança do país.
É uma questão complexa que não tem uma única solução, Gil insistiu em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, acrescentando que todas as alternativas possíveis estão sendo estudadas que não são de natureza neoliberal, para as quais especialistas econômicos e acadêmicos estão contribuindo.
Entretanto, ele enfatizou que sem aumentar a oferta não é possível aspirar a um controle efetivo dos processos inflacionários, algo que no contexto cubano, com o flagelo da Covid-19, o bloqueio econômico e as mais de 240 medidas unilaterais dos Estados Unidos apertando a garganta do país caribenho, é um desafio e tanto.
Apesar disso, a ilha está atualmente passando por um processo gradual de recuperação econômica e pretende terminar o ano com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 2%, disse o vice-primeiro ministro.
Ele advertiu, entretanto, que levará tempo para retornar aos níveis de atividade de 2019, pois o objetivo é recuperar dos 10,9% de contração experimentados em 2020.
A inflação é, para a população, a face mais visível desta queda, tendo que pagar no mercado ilegal até sete vezes o valor das necessidades básicas, como a alimentação, devido à insuficiência da oferta no mercado formal.
A isto se soma o impacto do processo de reorganização monetária iniciado em 1ú de janeiro de 2021, que envolveu a desvalorização do peso cubano em relação ao dólar (1 a 24), o aumento dos preços e do poder aquisitivo, uma vez que os salários e as pensões também aumentaram.
Tudo isso significa que, no momento, as autoridades econômicas são incapazes de dizer o quanto a inflação aumentou.
Gil explicou que embora seja possível comparar os preços oficiais de 2021 com os de 2020, este cálculo mostraria apenas parte da realidade, o que inclui o impacto da desvalorização da moeda, mas não se pode evitar que muitas pessoas não comprem produtos no mercado estabelecido, mas no mercado ilegal.
‘Não há dúvida de que a inflação é alta’, disse o Ministro da Economia, mas ele afirmou que o objetivo político do país é enfrentá-la sem recorrer a soluções neoliberais.
Ele mencionou a eliminação de tarifas sobre importações de alimentos e medicamentos, bem como sobre insumos trazidos do exterior pela administração não estatal; um sacrifício fiscal que procura evitar a transferência desses custos para os preços finais.
Da mesma forma, foram autorizadas as vendas de garagem, cerca de 60 casas de comissão foram abertas no país e os obstáculos que existiam para a comercialização de estoques ociosos foram removidos, o que contribui para aumentar as ofertas.
O vice-primeiro ministro deu um papel importante ao aumento da produção agrícola e referiu-se ao controle da liquidez nas mãos da população, mas disse que as medidas fiscais, monetárias e outras medidas administrativas terão apenas um efeito limitado.
‘Enquanto houver escassez de oferta e pessoas envolvidas na revenda, se houver uma demanda capaz de adquirir esses produtos aos preços que eles têm no mercado hoje, os processos inflacionários continuarão’, disse ele. O valor da moeda estrangeira na economia subterrânea também tem um impacto sobre este fenômeno, uma vez que implica o acesso a produtos em moeda livremente conversível; entretanto, explicou Gil, o país não está em condições de vendê-los e combater seu câmbio ilegal.
Ele acrescentou que a responsabilidade social e a ética também desempenham um papel na abordagem do problema, porque em um país como Cuba, que não cobra pelos serviços de saúde, educação e outros benefícios, é eticamente insustentável aumentar excessivamente os preços.
‘Temos que chamar todos os atores para entender a situação e não tirar proveito das necessidades do povo’, disse ele.
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