Mas hoje, depois de quase um ano na Casa Branca, a paciência de quem vive nas sombras e de quem os apoia já atingiu seu limite, segundo análise publicada pelo Conselho Editorial do jornal californiano La Opinion, um dos meios de comunicação com mais propriedade no assunto.
A situação é que a suposta reforma que Biden apresentou em seus primeiros dias de governo até agora não deu frutos e, pior ainda, há ações como a portaria de que os migrantes devem permanecer no México enquanto aguardam o trâmite de seus processos, causa irritação nas pessoas afetadas.
Poucos dias depois de 6 de novembro, quando o 35ú aniversário da promulgação pelo ex-presidente Ronald Reagan de uma reforma da lei de imigração, o ar está soprando contra o atual governo e os migrantes.
A luz no túnel sombrio e escuro não é vista, enquanto o desespero dos indocumentados cresce diante da realidade recorrente de seus problemas serem mantidos reféns dos interesses partidários nos Estados Unidos.
As organizações que defendem os migrantes estão certas em suas críticas à administração Biden por não fazer o suficiente para ajudar os migrantes sem documentação. A explicação da Casa Branca de estar de ‘mãos atadas’ frente aos tribunais em sua tentativa de eliminar a política também tem sua lógica, segundo o jornal.
O caminho é complicado para quem foge de situações, principalmente econômicas, que Washington ajudou a promover em seus países. É o conflito político entre o que é prometido, o que é possível, o que é desejável e o que é conveniente.
‘No meio de tudo isso estão milhões de migrantes que passaram décadas vivendo nas sombras, trabalhando e pagando impostos secretamente, construindo uma família e um futuro nesta terra’, afirmam seus defensores.
No entanto, e diante de pressões crescentes, a Casa Branca toma medidas, algo que pode fazer para ajudar aqueles que estão nos Estados Unidos e mais ao sul, na fronteira com o México.
Nesse sentido, os democratas no Senado aperfeiçoam a nova proposta que protegeria os migrantes indocumentados da deportação e lhes concederia Autorização de Trabalho por até 10 anos, mas primeiro deve ser aprovada pela parlamentar Elizabeth MacDonough, para ser integrada ao Processo de Reconciliação que agora permanece estagnado no Congresso.
Os indocumentados poderiam ser protegidos da deportação por meio de uma figura legislativa conhecida como ‘parole’, bem como obter uma Autorização de Trabalho por cinco anos, renovável por outro período semelhante.
Qualquer pessoa que tenha chegado aos Estados Unidos antes de 1ú de janeiro de 2011 e não tenha um registro de crime significativo pode se inscrever neste processo. Eles teriam uma permissão de trabalho e proteção contra deportação por até 10 anos se obtivessem o endosso do Congresso.
Este plano, de acordo com um estudo do Center for American Progress (CAP – Centro para o Progresso Estadunidense, em inglês), beneficiaria 7,1 milhões de pessoas, mais de 50% das que permanecem ilegais de acordo com números conservadores.
Se esta iniciativa dos democratas avançar e for incluída no processo de reconciliação, o pacote econômico de 3,5 trilhões de dólares que sustenta o plano Build Back Better (Reconstruir melhor) de Biden, os democratas terão alcançado uma parte do que aspiram, bem como os indocumentados e seus defensores, caso avance no Senado.
Sobre a questão da imigração, muitos se lembram dos avisos aos democratas de que as barreiras à imigração levantadas pelo ex-presidente Donald Trump seriam difíceis de derrubar e levariam tempo no melhor dos casos. Essa é a realidade agora. A herança do magnata não é fácil de ser revertida no debate jurídico e público.
Os protestos das pessoas afetadas, incluindo uma ampla coalizão Welcome With Dignity (Bem-vindos com dignidade), que reúne defensores dos migrantes e organizações americanas de direitos humanos e civis, são inúteis.
Por exemplo, o programa ‘Permanecer no México’ da era Trump, apesar das tentativas da Casa Branca de anulá-lo, é mantido por decisão judicial.
Segundo Maribel Hasting, assessora do American Voice, a obstrução republicana e as promessas democratas são suficientes para escrever um livro. Ambos os lados usam os imigrantes como bola política, sem uma solução favorável à vista para seus problemas. Além disso, os dois lados no Congresso devem lembrar que os latinos já ultrapassam os 60 milhões de habitantes dos Estados Unidos, e pelo menos 20 milhões irão às urnas em 2022, número não desprezível que pode influenciar o domínio do fórum legislativo.
Já a justificativa dos democratas, ‘tentamos mas não conseguimos, e será para o próximo’ perdeu valor e os migrantes pedem ação.
mem/lb/cm