Quinze anos antes, começou a profunda transformação econômica, política e social que significou o triunfo da Revolução e a derrubada da tirania de Fulgencio Batista (1952-1959), mas imperava a necessidade de constituir instâncias representativas do poder do povo na nação.
Os protagonistas desses momentos recordam a experiência inicial iniciada na província ocidental de Matanzas, depois a sua legitimação na Carta Magna aprovada em 1976 e as primeiras eleições para delegados municipais dia 10 de outubro daquele ano.
Também comemoram a sessão da Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP, Parlamento de Cuba) em dezembro e a eleição do primeiro Conselho de Estado.
Desde então, já se passaram 45 anos no constante amadurecimento desses órgãos, desde a adoção de leis e regulamentos que transformam a realidade social ou as reformas feitas na Constituição.
Só para citar um exemplo, a Lei de Leis em vigor e aprovada por 86,85 por cento dos eleitores em 2019 optou por uma transformação nas suas estruturas e conferiu aos Municípios a personalidade jurídica necessária para potenciar os processos de consulta popular, tomada de decisão, identificação de problemas e busca de soluções.
Uma característica distintiva do Poder Popular em Cuba é que 50 por cento dos delegados eleitos nos bairros e comunidades compõem o Parlamento, de forma que todos os municípios têm pelo menos uma representação, e essas cadeiras são preenchidas por representantes de todos os setores da sociedade.
O da ilha caribenha constitui o segundo Parlamento do mundo com maior participação feminina (53,2 por cento), superado apenas por Ruanda (61,3) na África Ocidental.
Na sua estrutura primária e no restante, estes órgãos são hoje chamados a aperfeiçoar os métodos e estilos de trabalho e a potenciar os espaços onde os delegados respondem pela sua gestão perante quem os elegeu, imposta por lei a possibilidade de revogá-los de seus cargos.
O secretário-geral da entidade Legislativa Homero Acosta destacou recentemente que é uma reivindicação cardeal libertar os órgãos do Poder Popular das formalidades e trabalhar por uma maior descentralização nas decisões.
Um exemplo do quanto pode ser alcançado nessa empreitada são as transformações que vêm ocorrendo em comunidades vulneráveis há dois meses, graças ao trabalho dos delegados de base, dos próprios moradores, ministérios e organizações estudantis e de massa.
Em diálogo com a Prensa Latina, o delegado mais jovem da localidade de Cerro em Havana, Roberto Soto, afirmou que esses representantes devem ser líderes comunitários, cuidar da aproximação dos cidadãos e enfrentar a indolência da administração.
Da mesma forma, são chamados a combater as ilegalidades e a garantir a qualidade do trabalho realizado em benefício da população.
Com apenas 20 anos, o jovem assumiu em 2017 a tarefa atribuída pelos seus vizinhos e desde então a sua gestão tem facilitado a instalação de uma central telefónica para benefício de todos os lares, a melhoria da qualidade da iluminação pública e a viabilização de uma nova parada de ônibus, só para citar alguns resultados.
‘Acima de tudo, estou orgulhoso das conquistas alcançadas no trabalho com as crianças, promovendo a história e o trabalho comunitário integrado, aquele que tem participação popular, com a marca dos vizinhos’, disse e insistiu nos problemas a serem resolvidos como o asfalto das ruas e a abertura de novos serviços.
Para Soto, o gabinete que estabelece semanalmente com os seus constituintes para recolher propostas e reclamações, e dar respostas aos problemas do bairro, é fundamental. ‘Este é um dos processos mais importantes que desenvolvo como delegado’, comentou.
‘Temos que ser mais pró-ativos. Não devemos esperar por indícios para resolver problemas elementares, devemos ter iniciativa para gerar soluções. O delegado não pode ser o protagonista do descontentamento social, quando a gestão está em suas mãos para evitá-lo’, reafirmou.
São desafios que estão em sintonia com o pedido do presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, quando há poucos dias, em um tour pelo bairro de La Corbata, em Havana, exortou a romper com tudo o que pode levar à imobilidade destes órgãos que por definição e forma surgiram para uma evolução contínua.
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