Havana, 30 out (Prensa Latina) Como a chegada dos centro-americanos à fronteira sul dos Estados Unidos continua hoje, os especialistas consideram que a política de imigração do presidente Joe Biden é tão xenofóbica quanto a das administrações anteriores.
Para Antonio Aja, chefe do programa Casa de las Américas sobre latinos nos Estados Unidos, a estratégia do atual executivo democrata é uma continuação de outras como as de Bill Clinton (1993-2001), Barack Obama (2009-2017) e Donald Trump (2017-2021).
Antes da chegada de Biden à Casa Branca, as caravanas começaram a chegar aos Estados Unidos e desde então a posição da pessoa que agora ocupa a Sala Oval tem sido a de rejeitar a chegada de imigrantes, comentou Aja em declarações à Prensa Latina.
A vice-presidente Kamala Harris reafirmou esta posição durante sua visita a alguns dos países de origem na região em junho, quando disse categoricamente “Não venha”.
Mesmo assim, o número de pessoas detidas na fronteira com o México continua a crescer, atingindo um recorde de 1,7 milhões de migrantes no ano passado, o maior número registrado desde 2000, incluindo 145.000 menores desacompanhados.
Embora o presidente esteja tomando medidas para refrear as fortes críticas de sua administração por não tomar medidas enérgicas contra a expulsão de migrantes na fronteira, as deportações e a discriminação persistem.
A única diferença entre este governo estadunidense e o anterior é que ele assumiu uma postura diferente em relação às crianças e famílias, o que Trump não fez, mas a longo prazo é uma posição xenófoba e anti-imigrante, disse o diretor do Centro de Estudos Demográficos da Universidade de Havana.
Entretanto, o analista destacou a suspensão da construção do muro na fronteira com o México, uma obsessão do Trump, embora ele tenha apontado que não é uma ideia original dele, porque as barreiras existiram de uma forma ou de outra tanto na administração democrática como na republicana.
É mais do mesmo, com alguns ajustes relacionados principalmente com a relação migratória entre os Estados Unidos e o México, cujo presidente, Andrés Manuel López Obrador, salienta que a solução do problema envolve desenvolvimento e investimento nas nações de origem, ressaltou o especialista.
O pacto migratório promovido pela ONU não está sendo cumprido no caso da América Central porque os Estados Unidos não fornecem ajuda para o desenvolvimento regional, advertiu a Aja.
Ele indicou que a posição de Washington de fornecer fundos a essas nações não funcionará se não for levada a sério o suficiente.
Ele também mencionou como a corrupção e a ingovernabilidade nos estados da região também são fatores que incentivam a emigração porque complicam o cenário econômico e social.
Ele também enfatizou a dependência das economias centro-americanas das remessas enviadas por seus cidadãos no país norte-americano, que não somam grandes somas individualmente porque provêm dos salários dos trabalhadores que vendem sua mão-de-obra.
Portanto, é uma grande falácia dizer que os imigrantes são um fardo público, quando na realidade eles estão em necessidade, disse o especialista.
Os latinos nos Estados Unidos são a maior minoria com uma população de 50 milhões de habitantes que, como aponta Aja, têm grande visibilidade demográfica e enorme invisibilidade econômica e política.
Eles são supostamente culpados como um fardo, mas os números do censo de 2020 indicam que mesmo muitos dos 11 milhões de indocumentados contribuem para a economia, principalmente nos setores de serviços e agricultura.
Do ponto de vista demográfico, um território envelhecido como os Estados Unidos se beneficia dos que chegam de outros países para aumentar sua população e sua força de trabalho.
Apesar de ser um país de imigração, a ideologia predominante nos Estados Unidos é xenófoba, racista e rejeita qualquer pessoa que não venha de onde supostamente se origina a população anglófona branca, e este ponto é reproduzido de geração em geração, apontou o pesquisador.
Além do fato de que cada país tem o direito de aceitar quem quiser, os estadunidenses veem os imigrantes como algo necessário, mas de forma seletiva e discriminatória, destinados a ocupar um lugar específico no estrato social, disse Aja à Prensa Latina.
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