Sete candidatos de um amplo espectro político aspiram ao Palácio de La Moneda, mas quase todas as pesquisas de opinião concordam que aqueles que têm a maior intenção de votar não chegam a 30 por cento.
As pesquisas, que nos últimos dois anos falharam em suas previsões eleitorais, colocam Gabriel Boric, da coalizão de esquerda Apruebo Dignidad, e o candidato de extrema direita José Antonio Kast, do Partido Republicano, no topo da lista.
Tampouco é membro dos partidos que governaram o país nas últimas três décadas, o que se deve ao descrédito das formações políticas tradicionais, especialmente após a convulsão social de 2019.
Boric, com apenas 35 anos de idade, é o mais jovem candidato à presidência chilena, vem das manifestações estudantis de 2011 e atualmente é deputado do 28º distrito da Região de Magallanes e da Antártica Chilena.
Kast, do Partido Republicano, é um defensor da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e suas posições são próximas as do presidente brasileiro Jair Bolsonaro e as do ex-presidente estadunidense Donald Trump (2017-2021).
De origem alemã, Kast tem estado no centro da controvérsia por negar os assassinatos e desaparecimentos durante a ditadura de Pinochet, por querer cavar uma vala na fronteira para impedir a passagem de migrantes, e por separar o país do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
São duas visões muito diferentes: uma de Boric, que quer avançar nas mudanças para que haja mais estabilidade, e outra que está empenhada no confronto, em negar os problemas e varrê-los para debaixo do tapete, como é o caso de Kast, disse o deputado Giorgio Jackson.
Também concorrem na corrida pela presidência Yasna Provoste, da coalizão centro-esquerda Novo Pacto Social; Sebastián Sichel, do pró-governo Chile Podemos Más; Marco Enríquez-Ominami, do Partido Progressista; Eduardo Artés, da União Patriótica; e o economista Franco Parisi, do Partido do Povo.
Mas poucos dias antes das eleições, 58% dos eleitores não sabem em quem votar, de acordo com um estudo publicado pela Consultora Rebaño, um laboratório de comunicações baseado em inteligência digital.
Somado a isto está o problema estrutural da abstenção. Desde que a votação voluntária foi aprovada em 2012, o comparecimento dos eleitores caiu, a ponto de o atual Congresso Nacional ter sido eleito em 2017 com 48% e o Presidente Sebastián Piñera com 50%.
Quem for eleito para o mandato de 2022-2026 enfrentará um cenário difícil, marcado por problemas de saúde, econômicos e sociais decorrentes da Covid-19.
A pandemia está sob controle no país, onde foram registradas mais de 38.000 mortes e 1,7 milhões de infecções, embora nos últimos meses tenha havido uma recuperação no número de casos.
A isto se soma a crise migratória no norte e o conflito na região sul de La Araucanía, onde o povo mapuche exige o retorno das terras ancestrais.
Quem substituir Piñera no Palácio de La Moneda terá que dirigir o processo em andamento para dotar o país de uma nova constituição para substituir a que está em vigor desde a ditadura.
Esta foi uma das exigências do clamor social de 2019, e um ano depois o povo decidiu por maioria esmagadora (78%) alterar a Constituição para fortalecer o papel do Estado e garantir os direitos sociais para todos os chilenos.
A convenção encarregada de redigir o texto é composta por 155 constituintes, incluindo 17 representantes dos povos indígenas, e terá nove meses, prorrogáveis por mais três, para redigi-lo.
O próximo presidente terá que acompanhar o processo de implementação da nova constituição, que deverá ser submetida a um referendo para ratificação em meados de 2022.
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