O porta-estandarte da coalizão de esquerda Apruebo Dignidad, que inclui a Frente Ampla, o Partido Comunista e outras forças, venceu as eleições de 19 de dezembro com 55,87% dos votos, uma vantagem de 11,74 pontos sobre seu rival, o de extrema-direita José Antonio Kast, da Frente Social Cristã.
Sua vitória foi retumbante, conquistando 4,6 milhões de votos e vencendo em 11 das 16 regiões do país.
Boric tem uma árdua tarefa à sua frente. Ele assumirá um país impactado pela Covid-19, pela alta inflação e pelos problemas estruturais gerados pelo modelo neoliberal que provocou em 2019 os maiores protestos desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
“Os tempos à frente não vão ser fáceis. Devemos enfrentar as consequências sociais, econômicas e sanitárias da pior pandemia que nosso país viveu em mais de um século e também as causas do surto social que ainda persiste”, reconheceu Boric em seu primeiro discurso ao país.
Como desafios, ele mencionou a realização de cuidados de saúde que não causem discriminação entre ricos e pobres, pensões decentes para todos os aposentados, crescimento e distribuição justa da riqueza, melhor acesso à moradia, o fortalecimento da educação pública e aumentos salariais.
“É evidente que nem tudo pode ser feito ao mesmo tempo e teremos que estabelecer prioridades para alcançarmos progressos que nos permitam melhorar, passo a passo, a vida de nosso povo”, enfatizou ele.
Ele também prometeu defender a Convenção Constitucional encarregada de elaborar uma nova constituição para substituir a que estava em vigor desde a ditadura e, de fato, uma de suas primeiras atividades após ser eleito foi reunir-se com os diretores deste órgão.
“Esta é uma questão de Estado, uma questão de longo prazo. Se vai bem para a Convenção, vai bem para o Chile”, disse ele.
Em declarações ao Orbe, o analista político Pablo Jofre descreveu como muito importante a vitória de Boric sobre um candidato como Kast, que representa o pinochetismo e uma inversão de todo o progresso feito em termos de gênero, direitos sexuais, defesa do meio ambiente e outros.
Entretanto, ele acredita que os desafios enfrentados pelo próximo presidente são enormes porque ele terá que lidar com um Parlamento dividido: uma metade centro-esquerda e a outra metade centro-direita.
Por outro lado, disse ele, a próxima administração terá que enfrentar uma ala direita que está espancada e ferida, mas que ainda está viva e tem uma presença parlamentar muito poderosa, e isso impedirá que se avance em leis que não têm um consenso entre as partes em disputa.
O especialista em assuntos internacionais acredita que a vitória de um candidato progressista sobre a extrema-direita também é positiva para a América Latina.
A vitória de Boric no Chile, junto com as obtidas em países como Peru, Bolívia, Argentina e Brasil com a possibilidade de Lula vencer, comentou, marca uma mudança na região, onde os problemas são resolvidos entre os latino-americanos, sem a interferência dos Estados Unidos e da União Europeia.
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(Extraído de Orbe)