Numerosos veículos de imprensa e jornalistas foram censurados e perseguidos ao longo da história por publicarem informações verdadeiras, consideradas uma alternativa à mensagem hegemônica inserida na maioria dos principais meios de comunicação da região.
As vozes de solidariedade com o jornalista australiano, fundador do Wikileaks, e denunciando as tentativas de isolá-lo para a vida nos Estados Unidos (pedem 175 anos de prisão), são valiosas, mas ainda insuficientes.
Personalidades como o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador e organizações jornalísticas latino-americanas e europeias têm alertado para o perigo iminente em que Assange se encontra, simplesmente por falar a verdade sem medo.
Por meio de sua organização, ele tornou públicos milhares de documentos políticos e militares secretos – nunca negados – do governo estadunidense sobre crimes de guerra em diferentes partes do mundo.
A perseguição implacável revela a admissão da Casa Branca da veracidade das revelações de Assange.
Denunciando o atropelo de todos os preceitos da liberdade de informação, 57 organizações espanholas que compõem o Movimento Estatal de Solidariedade com Cuba ressaltaram que a campanha contra Assange é também “uma vingança imperial contra sua luta pela liberdade humana, a mesma que a de países como Cuba”.
O fato é que a concentração da informação e sua manipulação têm raízes antigas nesta parte do mundo, onde desde meados do século passado apenas duas agências estrangeiras, ambas estadunidenses, monopolizaram quase cem por cento das informações internacionais publicadas pela imprensa nacional.
Esta agência de notícias latino-americana, Prensa Latina, que está prestes a celebrar 63 anos de trabalho ininterrupto apesar do ataque estadunidense, surgiu precisamente para quebrar este monopólio de notícias com a arma mais temível: a verdade.
Seus fundadores, Fidel Castro, Ernesto Che Guevara e Jorge Ricardo Masetti, perceberam, vários meses antes do triunfo da Revolução Cubana, no meio da guerra na Sierra Maestra, a necessidade de Cuba e da América Latina terem sua própria voz.
A Prensa Latina nasceu em 16 de junho de 1959, no calor do triunfo revolucionário e da indispensável “Operação Verdade”, chamada por Fidel Castro apenas três semanas após a vitória popular para mostrar a 400 jornalistas estrangeiros a realidade diante das poderosas campanhas anti-cubanas.
Em um recente aniversário da Operação Verdade, o proeminente intelectual cubano Eusebio Leal, historiador de Havana, insistiu que “o testemunho verdadeiro, a capacidade de transmiti-lo e torná-lo conhecido, é mais necessário do que nunca”.
É essencial compreender, disse ele, o que está acontecendo atualmente com o refluxo dos movimentos progressistas e anti-imperialistas no continente americano e a afirmação de grupos de extrema direita e supremacistas, bem como o que está acontecendo com o controle da informação e a suposta neutralidade das agências internacionais.
Desde o seu início, a Prensa Latina assumiu grandes desafios sob o lema de Masetti: “objetivo, mas não imparcial”, porque nenhuma pessoa decente, disse ele, pode ser imparcial entre o bem e o mal, entre a guerra e a paz.
Antes do Segundo Encontro Internacional de Jornalistas em Baden, Áustria, em 1960, ele argumentou que dizer a verdade constituía o maior ‘pecado’ e ‘crime’ da Prensa Latina, segundo Washington, a mídia estadunidense e a Associação Interamericana de Imprensa.
Durante a guerra, enfatizou naquele discurso histórico, eles combateram o povo de Cuba com estilhaços e bombas; quando a guerra terminou, eles lutaram e estão combatendo a Revolução Cubana com falsas notícias.
“Fomos atacados de todas as maneiras, sendo uma pequena agência, o mínimo que podemos fazer é fazer chegar a verdade ao povo da América Latina. Sendo nossa tarefa mínima, o que tem sido feito contra nós tem sido enorme, por causa de todo o poder de propaganda dos EUA”, denunciou Masetti.
E ele enfatizou: “assim como nosso povo fez a Revolução, nós, os jornalistas revolucionários da América Latina, queríamos revolucionar o ambiente jornalístico latino-americano, revolucioná-lo de uma forma muito simples, muito clara, sem nada mais do que a verdade”.
rmh/jl/vmc
*Diretor de Comunicação Social e Imagem da Prensa Latina