Em entrevista à Prensa Latina por ocasião do 169º aniversário do nascimento de Martí, Pedro Pablo Rodríguez, PhD em Ciências Históricas, disse que a atual relevância dos fundamentos de Martí não está apenas em sua intenção de impedir a anexação de seu país e do resto das Antilhas aos Estados Unidos, mas também em sua expansão territorial e econômica sobre os vizinhos do sul.
Ele também refletiu que sua validade se devia ao fato de estar tentando impedir que a verdadeira emancipação de Cuba e Porto Rico – que também era um de seus objetivos e do Partido Revolucionário Cubano (PRC) – se tornasse uma força que imporia seu poder ao resto do mundo.
É nesse sentido, disse Rodríguez, que ele impulsionou a unidade entre os lutadores pela independência do pátio, os porto-riquenhos e com o povo que desejava o bem de Nossa América, como ele chamou a América Latina.
“Martí começou a trabalhar para este caminho de unidade em uma idade muito jovem. No início dos anos 80, ele sabia”, disse o especialista, “que aqueles que aspiravam à soberania tinham que se unir, desde o fim da Guerra dos Dez Anos (1868-1878) – a primeira tentativa de alcançar a liberdade – e tal tentativa de unidade tinha falhado, entre outras razões, por causa de divisões internas”.
O que estava em jogo, refletiu, era que essas divisões não deveriam continuar a crescer nos anos seguintes a esse retrocesso, como na Guerra Chiquita (1879-1880), que durou apenas 11 meses.
Rodríguez acrescentou que o objetivo era unir dois critérios que estavam em desacordo desde a Guerra dos Dez Anos e que ainda estavam vivos na polêmica entre os revolucionários da época.
Por um lado, disse ele, havia aqueles que queriam que as decisões na guerra contra a metrópole estivessem inteiramente nas mãos dos líderes militares e que se encerrasse o aparelho civil da República em armas – criado na Assembleia de Guáimaro em 1869 – e, por outro, acrescentou, havia os civis, com receios lógicos, dado o panorama das tiranias militares prevalecentes na América Latina.
Martí encontrou a maneira de conciliar as duas posições no PRC; isto é, em uma organização que se movia com os princípios, mais ou menos, que orientavam as lutas políticas do mundo moderno e na qual todos podiam se mover igualmente e tomar decisões que fossem necessárias para a independência.
Foi assim que o jovem patriota conseguiu organizar uma base de apoio para a conspiração dentro do território da ilha, que mais tarde funcionaria de fora.
Rodríguez assinalou que para o Mestre, a soberania cubana só poderia ser perfeitamente ajustada se houvesse apoio de outros povos latino-americanos, e é por isso que ele tentou por todos os meios consegui-lo, e ao mesmo tempo fazer com que esses países entendessem que sua própria liberdade seria garantida pela liberdade alcançada na maior das Antilhas.
Ele deixou claro que não se tratava de criar uma suprarrepública, um estado que se estendesse do Rio Bravo à Patagônia, mas de buscar formas de coexistência e colaboração entre as nações. E aí reside, sublinhou ele, seu gênio político.
Ele sustenta que Martí era um homem de seu tempo; tanto assim que entendeu quais caminhos tinham que ser tomados na luta revolucionária na ilha e em nossa América – e até mesmo no resto do mundo – para defender os povos que estavam sendo engolidos, naquela época, pela expansão das potências imperiais, que estavam dividindo o mundo em todos os continentes.
“Ao mesmo tempo, salientou, ele tentou assegurar que esta unidade e soberania nacional pudesse ser mantida com apoio continental. Essa é sua contribuição, e isso não só a torna válida”, comentou, “mas sempre será relevante aqui, porque neste momento como em qualquer outro, nós cubanos devemos manter essa unidade em assuntos essenciais, naquilo que queremos”.
Para o estudioso das obras de Marti, ao mesmo tempo devemos buscar a integração continental a fim de trabalhar para o bem de Nossa América. Desse modo, ele apontou, todos nós estaremos trabalhando para o bem do mundo.
Em sua opinião, Martí não foi apenas um homem de seu tempo, mas também de todos os tempos, e seus ensinamentos serão úteis para qualquer sociedade e etapa histórica na qual o bem da humanidade seja o lema.
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