Essa jornada gerou grande repercussão no país com a primeira parada na Rússia, onde foi recebido por seu par, Vladimir Putin, e de lá deixou várias mensagens, entre elas, uma que levantou poeira dentro da oposição e principalmente no ex-presidente Maurício Macri.
Relaciona-se a fala do presidente quando enfatizou abertamente que era hora da Argentina se libertar da dependência econômica do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos Estados Unidos e abrir caminho para outros lados.
Na opinião do destacado cientista político Atilio Borón, Fernández respondeu a uma realidade da necessidade de uma margem de autonomia nacional, já que infelizmente esta parte do mundo está altamente condicionada pelos Estados Unidos há dois séculos com a Doutrina Monroe.
Borón disse ao canal C5N que, para alguns “espíritos delicados”, dizer que a Argentina deve se libertar dos Estados Unidos pode ser um osso difícil de engolir, mas o que ele disse é verdade e o fato de a oposição criticar é um bom sinal, comentou.
A atenção recaiu também sobre a extensa visita do governante à China, que coincidiu no quadro de meio século de relações diplomáticas com aquele país.
No gigante asiático, ele participou da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno e teve um frutífero encontro com Xi Jinping, no qual assinaram um memorando de entendimento para canalizar a cooperação por meio da iniciativa do Cinturão e da Rota da Seda, direcionadas a construir uma megaplataforma internacional de trocas com lucros compartilhados.
Também selaram acordos em setores como desenvolvimento verde, economia digital, espaço, inovação técnico-científica, educação, cultura, agricultura e medicina nuclear, bem como o uso do sistema chinês de navegação por satélite BeiDu e concordaram em aprofundar a associação estratégica integral entre os dois países, consolidar a confiança política e os intercâmbios em diferentes níveis.
Fernández recebeu o título de Professor Honóris Causa da Universidade de Tsinghua, a mais importante da China, que reconheceu sua luta para promover a solidariedade, o multilateralismo e promover a paz e também esteve em um encontro com as autoridades do Grupo Farmacêutico Nacional da China, a quem destacou o papel dessa nação no fornecimento de vacinas Sinopharm anti-Covid-19 para a Argentina.
Precisamente, durante uma entrevista coletiva que ofereceu em sua viagem, Fernández dirigiu-se àqueles que, de um ponto de vista bipolar, criticam as negociações e acordos alcançados com a China e a Rússia e apontaram que o mundo em que a Argentina deve viver e se desenvolver é aquele do multilateralismo.
Essa foi uma das principais mensagens em que ele insistiu nessa jornada: a necessidade de adotar uma visão multilateral da geopolítica.
Depois dessa viagem, na qual foi acompanhado por vários membros de seu gabinete, governadores, senadores e deputados, o presidente argentino também chegou a Barbados, onde no dia anterior participou de um encontro com a primeira-ministra, Mia Mottley.
Temas como o fortalecimento da relação estratégica entre a América Latina e o Caribe, bem como a cooperação diante dos desafios das mudanças climáticas, estiveram no encontro, no qual o presidente argentino agradeceu a Barbados e aos demais países caribenhos pela negociação que seu país leva adiante com o FMI.
Em sua função de presidente pro tempore da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), cuja posição a Argentina assumiu no mês passado, Fernández também liderou uma reunião com representantes de Antígua e Barbuda, Dominica, Granada, Saint Kitts e Nevis, Saint Vincent e as Granadinas e Santa Lúcia, países que compõem a Organização dos Estados do Caribe Oriental (OECS).
Sua presença em Barbados teve grande significado simbólico. Essa nação tornou-se independente do Reino Unido em 1968 e, em novembro de 2021, abandonou a monarquia e se tornou a República Parlamentar mais jovem do mundo.
Além disso, faz parte da Comissão Especial de Descolonização da Organização das Nações Unidas, que recomenda insistir no diálogo como forma de resolver as reivindicações argentinas de soberania sobre as Ilhas Malvinas, território usurpado pelo Reino Unido, que levou a uma guerra em 1982. msm/may/cm