Na entrada do Palácio do Planalto (sede do Poder Executivo), jornalistas perguntaram a Mourão no dia 18 de abril se ele acreditava que a revelação das gravações que retratam estupros e martírios no regime militar (1964-1985) poderia motivar uma investigação.
“Investigar o quê? Os meninos estão todos mortos, cara. (risos). Você vai trazer os meninos de volta do túmulo?”, respondeu o general da Reserva do Exército.
O portal Metrópoles indica que a ação entregue à Justiça também pede que as palavras de Mourão sejam anexadas ao caso, no qual o presidente Jair Bolsonaro é acusado de descumprir sentença por violações de direitos humanos na Guerrilha do Araguaia.
Tal movimento guerrilheiro existiu na região amazônica brasileira ao longo do Rio Araguaia, entre o final da década de 1960 e a primeira metade da década de 1970.
“Assim, a revelação do conteúdo dos áudios torna ainda mais insustentável a continuidade sistemática da inércia do Estado brasileiro, caracterizando um periculum in mora (na legislação nacional representa medo) para toda a sociedade”, indica o texto.
Refere que se impõe o cumprimento imediato da sentença, pois houve “uma flagrante inconstitucionalidade por descumprimento do estatuto do artigo 68, um da Convenção Americana de Direitos Humanos, devidamente ratificado pelo Brasil”.
Da mesma forma, o PSOL argumenta no documento que a desobediência à decisão implica uma violação massiva de direitos fundamentais, “chegando à transgressão da dignidade humana”, dada a natureza da questão, como a ditadura militar, considerada pelo partido como crimes contra a humanidade .
O escândalo dos áudios veio à tona depois que parte do material veio à tona na semana passada por meio da jornalista Miriam Leitão, do jornal O Globo.
A colunista revelou trechos de conversas gravadas pelo Superior Tribunal Militar durante o regime militar, caracterizadas por intensa repressão a grupos de oposição, como políticos do campo democrático e artistas, além de censura ao trabalho da imprensa.
Criada por lei em 2014, a Comissão Nacional da Verdade apresentou um relatório final e concluiu que durante a ditadura a prática de prisões arbitrárias, torturas, execuções, desaparecimentos e ocultação de cadáveres foi resultado de uma política de Estado contra a população civil.
No total, foram identificados 434 casos de mortes e desaparecimentos de pessoas sob responsabilidade do Estado brasileiro durante o período 1946-1988.
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