Paris (Prensa Latina) No domingo, 26 de dezembro de 2004, muitas coisas mudaram, entre elas a percepção do risco que os tsunamis representam para a humanidade e, em particular, para as comunidades costeiras, fenômeno cuja simples menção causa horror, sem que o Caribe venha à mente como uma das regiões mais ameaçadas.
Naquele dia, o evento conhecido como terremoto Sumatra-Andaman mostrou a fúria da natureza no Oceano Índico com ondas de mais de 30 metros de altura, com um saldo de mais de 250.000 vítimas e destruição em cidades da Indonésia, Tailândia, Sri Lanka, Índia e Maldivas.
O Caribe pode vivenciar um cenário semelhante de destruição e morte?A ciência responde de forma pouco animadora, mas sem alimentar especulações ou alarmismos, e o apelo aos Estados para que trabalhem na prevenção e na preparação de comunidades em risco.
Segundo a UNESCO, a organização das Nações Unidas também responsável pelas ciências oceânicas, os tsunamis são fenômenos relativamente infrequentes, mas seus efeitos mortais são devastadores, com consequências subsequentes na vida, nos meios de subsistência e no meio ambiente por muitos anos. .
A Prensa Latina conversou sobre o assunto com Bernardo Aliaga, principal especialista em tsunamis da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, que considerou que a ameaça de ocorrência desses eventos no Caribe não deve ser subestimada.
Na sua opinião, as respostas a tal risco são o aperfeiçoamento dos sistemas de alerta e o trabalho com as pessoas para prepará-los, para que possam reagir nos domínios da prevenção e actuação adequada face a eventuais fenómenos.
Sobre a primeira pergunta, ele destacou que a região apresenta avanços importantes, mas na segunda, insistiu que, como outras do planeta, deve fortalecer a preparação do ser humano.
Nesse sentido, saudou a iniciativa lançada pela diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, para formar cem por cento das comunidades costeiras vulneráveis à ameaça de tsunamis com vista a 2030.
Azoulay apresentou o ambicioso programa no contexto da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, organizada em Lisboa, Portugal, no final de junho
HISTÓRICO NO CARIBE
Embora apenas 10% dos tsunamis registrados tenham ocorrido no Caribe, há evidências que confirmam a importância de não ignorar a ameaça.
Temos um histórico na região, onde alguns terremotos e deslizamentos submarinos podem gerar tsunamis, este último mais difícil de prever, explicou Aliaga.
Fortes eventos dessa natureza são conhecidos no Caribe, como os de 1692, que destruíram Port Royal, na Jamaica; 1867 nas Ilhas Virgens Britânicas, considerada uma grande catástrofe, e 1946 em Samaná, República Dominicana.
O de Port Royal foi desencadeado por um deslizamento subaquático muito grande, um fenômeno incomum e, portanto, menos estudado, lembrou o especialista. Questionado sobre qual seria a explicação para o fato de que nas últimas décadas a região do Caribe não tenha lidado com tsunamis de impacto significativo, Aliaga mencionou a separação das placas, que se reúnem na área em uma velocidade menor do que em outras mais perigosas. , como o norte do Chile, sul do Peru, Sumatra ou Japão.
As placas se juntam e acumulam energia, que em algum momento deve ser liberada, e no Caribe isso ocorre a uma taxa entre quatro e oito milímetros por ano, enquanto no já mencionado entre 10 e 14, especificou.
Segundo o especialista, existem falhas importantes na região, como a que passa por Puerto Plata e Santiago de los Caballeros, que se estende sob o mar entre Jamaica e Cuba.
A CONSCIÊNCIA DO CARIBE
Um passo fundamental diante de qualquer perigo é reconhecer sua existência e, nesse sentido, o Caribe assume a percepção do risco que os tsunamis representam, o que permite abordar aspectos como a prevenção.
Em março deste ano, mais de 400.000 cidadãos, ativistas e autoridades de 32 países e territórios participaram do exercício Caribbean Wave 22, com o objetivo de testar planos nacionais e locais de resposta a tsunamis na região.
A Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO destacou a nova versão da iniciativa anual, que permite fortalecer a coordenação entre Estados e instituições por meio de simulações.
Em suas declarações à Prensa Latina, Aliaga reconheceu o nível de conscientização alcançado no Caribe e as ações em andamento diante da ameaça.
Acho que o povo caribenho está sensibilizado, como nas ilhas do Pacífico Sul e em outros lugares, o que vemos nos fóruns intergovernamentais, comentou.
Segundo o especialista, Cuba é um dos países que trabalha para fortalecer os sistemas de alerta e preparar a população.
temos contato com instituições como o Centro Nacional de Pesquisas Sismológicas e o Instituto de Oceanologia, que trabalham o importante tema em conjunto com a Defesa Civil, acrescentou.
Aliaga destacou que no leste da maior das Antilhas, em frente ao Haiti, há risco de terremotos, e um deles pode causar um tsunami.
A ameaça de deslizamentos submarinos, eventos menos previsíveis, também está no Caribe, insistiu.
Sobre as alterações climáticas, afirmou que situações como o aquecimento global e a subida do nível do mar multiplicam o efeito destrutivo dos tsunamis, pelo que reiterou o apelo das Nações Unidas para que actuem sem demora na protecção do planeta e dos seus habitantes.
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