Não dá para entender que um país europeu… em pleno século 21 tenha aquela mentalidade de que não houve golpe. Não se entende, declarou Morales em extensa entrevista publicada esta quinta-feira pela plataforma digital de jornalismo investigativo Declassified UK.
Segundo o líder indígena, que governou o país sul-americano de 2006 até ser deposto pela extrema direita apoiada pelos militares em novembro de 2019, as grandes potências acreditam que alguns países são propriedade de outros.
Eles pensam que Deus os escolheu e que a soberania do mundo lhes pertence, como é o caso dos Estados Unidos, Reino Unido e alguns países que fazem parte da OTAN, acrescentou.
Entrevistado pelo Declassified UK em Villa Tunari, a pequena cidade da Amazônia boliviana onde vive desde a restauração da democracia na Bolívia em outubro de 2020, Morales apontou que essa arrogância colonialista é a causa de rebeliões e revoltas.
Para eles, a superioridade, a capacidade de dominar, é o mais importante, acrescentou o ex-presidente, que destacou que “ao contrário de nós que somos pobres e humildes”, as grandes potências carecem do princípio de humanidade e fraternidade.
A publicação digital garantiu em março do ano passado que o governo britânico apoiou o golpe contra Morales, em troca do acesso às reservas de lítio que o país sul-americano possui.
Segundo o Declassified UK, que citou documentos publicados pelo Foreign Office do Reino Unido, um mês após a saída do líder indígena do poder, Londres pagou a uma empresa sediada em Oxford para otimizar a exploração dos chamados depósitos de ouro branco do século XXI.
Ele também destacou que a embaixada britânica em La Paz atuou como “parceira estratégica” do governo golpista, ao organizar um evento internacional sobre mineração apenas quatro meses depois de sua criação.
Na entrevista ao Declassified UK, Morales expressou admiração pelo fundador do WikiLeaks, Julian Assange, chamando sua prisão no Reino Unido enquanto aguarda eventual extradição para os Estados Unidos um ato de intimidação para evitar maior exposição de crimes contra a humanidade cometidos pelos diferentes governos norte-americanos.
Ele também defendeu o lançamento de uma campanha destinada a eliminar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), argumentando que a aliança militar liderada por Washington não é uma garantia para a humanidade ou para a vida.
O ex-presidente boliviano também questionou o Ocidente por excluir a Rússia do Conselho de Direitos Humanos após sua operação militar na Ucrânia, enquanto os Estados Unidos, disse ele, nunca foram expulsos ou questionados por intervir no Iraque, Líbia e muitos outros países nos últimos anos.
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