Por Cira Rodríguez César
Redação Econômica
Desde o último dia 24 de fevereiro, segundo a base de dados Castellum.AI (plataforma que fornece informações sobre sanções globais), a Rússia é o país mais punido do mundo, à frente de Irã, Síria, República Popular da República Democrática da Coreia e da Venezuela.
Mais de 8.700 novas medidas restritivas são acionadas contra aquela nação, além das 2.695 que já estavam em vigor antes dessa data.
Após cinco meses de aprovação e aplicação de sete pacotes de sanções, fica claro que o objetivo de impor condições e afetar Moscou não funcionou até agora, segundo o especialista em relações internacionais boliviano Hugo Siles.
Em um balanço geral fica claro que o Ocidente, nos cadernos de projeção estratégica preparados antes da guerra, tinha o objetivo de promover na Rússia não apenas uma estagnação em sua economia, mas também um enfraquecimento estrutural de sua posição militar em um vasto Território euro-asiático, explicou Siles.
No Fórum dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de 5 a 15 de julho, o vice-chanceler russo, Sergei Vershinin, destacou que as tentativas do Ocidente de culpar os outros causaria inflação nos próprios países que acompanham Washington em sua cruzada contra Moscou, e o que é pior, uma recessão global.
Com base nisso, ele destacou que os erros nas políticas macroeconômicas, alimentares e energéticas das maiores economias do hemisfério durante a pandemia de Covid-19 levaram a uma onda de instabilidade nos mercados globais de commodities antes mesmo do início da operação especial realizado pela Rússia para a desnazificação e desarmamento da Ucrânia.
Vershinin assegurou que, apesar de tudo projetado contra a economia da nação eurasiana, ela tem capacidade para aumentar as exportações de alimentos e fertilizantes para países da África e do Oriente Médio, a fim de contribuir para a solução do problema da fome.
Referindo-se à estabilidade dos mercados de energia, o alto responsável russo sublinhou que o seu país propôs formas de pagamento que escapam às sanções unilaterais dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), enquanto em matéria financeira propôs a utilização de moedas nacionais para pagar as dívidas soberanas.
No entanto, ao ignorar tais propostas, as penalidades funcionam como um bumerangue que reverte os planos originais de destruir o sistema financeiro russo e, embora a Europa e os Estados Unidos promovam uma guerra energética contra Moscou, o mundo inteiro terá que responder por isso.
O especialista chinês Lin Boqiang também considerou que o objetivo das medidas era atingir as receitas de energia de Moscou ao menor custo possível para eles.
Mas a UE é fortemente dependente dos suprimentos russos, então o atual aumento nos preços dos hidrocarbonetos tem sido um empecilho para o bloco.
Como resultado, não apenas os Estados Unidos e a Europa enfrentariam custos potencialmente crescentes do petróleo, mas uma escalada da guerra energética entre a Rússia e o Ocidente pode trazer mudanças fundamentais na estrutura do fornecimento global de energia.
Um aumento mais acentuado dos preços do petróleo nesta situação pioraria inevitavelmente o estado da atual economia mundial, que está sob pressão da enorme inflação.
AMEAÇAS À HUMANIDADE E À ECONOMIA GLOBAL
O aumento dos preços dos alimentos, combustíveis e fertilizantes devido à guerra na Ucrânia ameaça arrastar nações de todo o mundo para a fome, com a consequente desestabilização, fome e migrações em massa em escala sem precedentes.
Tal alerta do diretor do Programa Mundial de Alimentos, David Beasley, resume uma realidade perigosa: um recorde de 345 milhões de pessoas com fome aguda estão à beira da inanição, 25% a mais do que no início de 2022.
Essa é uma das consequências mais graves do conflito na Ucrânia -o celeiro da Europa-, seu impacto na disponibilidade de alimentos e na segurança alimentar global.
É por isso que, diante da escassez de alimentos, o Ocidente está repensando as sanções contra Moscou, porque a crise ameaça causar fome generalizada devido às restrições impostas aos produtos russos.
Essa é uma das maiores preocupações, pois as repercussões aumentam um problema alarmante de segurança alimentar em todo o mundo que não será fácil de reverter e que pode desencadear instabilidade social.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em maio os preços dos alimentos aumentaram quase 30% em relação ao preço de um ano atrás, impulsionados pelo aumento dos cereais e da carne.
“Sem fertilizantes, a escassez passará do milho e do trigo para todas as culturas básicas, como o arroz, e terá um impacto devastador em bilhões de pessoas na Ásia e também na América do Sul”, disse António Guterres, secretário-geral da ONU.
A isso se soma à onda de protecionismo causada pelo aumento do custo dos alimentos, como fizeram Indonésia, Índia e Malásia ao restringir suas exportações de óleo de cozinha, trigo e frango para garantir os mercados internos.
Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, cerca de 20 países têm alguma forma de controle de exportação para reduzir o efeito da inflação sobre os alimentos.
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