25 de December de 2024
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Lula e os desafios de transformar (novamente) o Brasil

Lula e os desafios de transformar (novamente) o Brasil

Brasília (Prensa Latina) Se eleito nas urnas em 2 de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará uma série de adversidades para governar o Brasil e terá que atacar problemas sociais que recuaram nos últimos anos.

Por Fernando Braga

Editor sênior e jornalista do Metrópoles.com, um dos veículos digitais mais relevantes do Brasil. Colaborador da Latin Press.

Categoricamente, em 15 de abril de 2021, a eleição presidencial no gigante sul-americano começou a ser decidida. A quase um ano e meio dessa data, os brasileiros elegerão o presidente que governará o país pelos próximos quatro anos.

Naquele dia, o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu, por oito votos contra três, anular as sentenças proferidas a Lula no âmbito da operação judicial desarticulada Lava Jato.

A polêmica investigação realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público apurou um esquema de lavagem de dinheiro ocorrido durante os governos em que o Partido dos Trabalhadores, PT, esteve no poder de 2003 a 2016.

Segundo o órgão máximo da justiça brasileira, a Justiça Federal de Curitiba, capital do estado do Paraná, não tinha competência para julgar o caso, que corresponderia à Justiça Federal do Distrito Federal.

A decisão veio após a revelação de mensagens privadas que mostravam a proximidade do ex-juiz Sérgio Moro, encarregado de conduzir o processo, com promotores que acusavam Lula, algo que viola a Constituição brasileira.

Esse evento ocorreu cinco anos após o terremoto político que abalou o país e levou o ex-presidente à prisão por 580 dias em Curitiba. Com isso, recuperou seus direitos políticos e viu um caminho claro para concorrer às eleições de outubro de 2022.

Mesmo com a liderança desastrosa do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia, que incluiu minimizar a Covid-19, ser contra o uso de máscaras, pregar contra o isolamento social e retardar o processo de vacinação, o atual líder do Poder Executivo desfrutou de uma confortável posição frente a possíveis futuros concorrentes ao Palácio do Planalto (sede oficial da presidência).

No momento, nenhum nome parecia forte o suficiente para desacreditar uma das figuras mais sombrias, polêmicas e autoritárias criadas pela direita nos últimos 34 anos da democracia brasileira.

Até o início de 2021, Bolsonaro desfrutou do poder, obtendo importantes vitórias no Congresso Nacional com a ajuda dos chamados partidos de centro (ou Centrão), conhecidos por votar contra ou a favor de projetos de lei – dependendo da conveniência e quantidade de votos. ou estratégicos que lhes são oferecidos -, e sempre manteve o apoio de uma participação média de 30% dos eleitores.

No entanto, o fato de os casos envolvendo Lula retornarem ao ponto de partida teve, pelo menos, uma consequência: a prescrição dos crimes mencionados nas condenações. E isso foi fundamental para mudar o tabuleiro de xadrez da política brasileira.

Ao ajuizar definitivamente a ação, a Justiça Federal deferiu o pedido do Ministério Público, que considerou impossível concluir a investigação no prazo estabelecido em lei. Houve, portanto, a chamada prescrição punitiva, ou seja, o fim do prazo para punir os supostos crimes atribuídos a Lula.

A parcialidade de Moro foi atestada pelo STF dois meses depois, em junho de 2021, confirmando as suspeitas sobre a atuação do ex-magistrado durante a Lava Jato. As provas coletadas foram invalidadas, não podendo ser utilizadas em um possível novo julgamento.

Vale ressaltar, no entanto, que Lula não foi considerado inocente pela justiça brasileira, pois não foi julgado dessa forma. É correto dizer que ele foi absolvido e o processo anulado, pois o Ministério Público não ofereceu nova denúncia no caso por não ter conseguido reunir provas para corroborar a tese acusatória.

Dessa forma, como defendem os juristas do país, com a anulação da condenação, Lula “é tão inocente quanto alguém que nunca foi processado”.

DESAFIOS PARA LULA

Sem entraves à sua candidatura, Lula desponta como líder nas principais pesquisas de opinião entre os candidatos à Presidência da República. No entanto, se for escolhido, não terá uma tarefa fácil pela frente.

Em primeiro lugar, ele deve pacificar o país que desde 2013 está dividido entre a direita conservadora e a esquerda progressista.

Além disso, ele precisará contar com o apoio da maioria no Congresso Nacional se quiser aprovar medidas importantes e necessárias para o desenvolvimento do país.

No entanto, isso exige negociar novamente com os líderes dos partidos centristas, conhecidos pela chamada política de tirá-lo daqui, na qual se comprometem a apoiar projetos de lei, não baseados em ideias eles ou bandeiras, mas em meros interesses para liberar fundos para seus estados representados.

Esses partidos foram um dos principais responsáveis pelo impeachment (julgamento político) da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, e se alinharam com o atual governo em uma série de contratempos que afetaram indistintamente os brasileiros, sejam eles trabalhadores, empresários, pobres ou famílias, classe média.

No entanto, o principal desafio que Lula terá que enfrentar refere-se ao aspecto social. Em quatro anos de governo de Bolsonaro, o Brasil acelerou o declínio nessa área.

Depois de sair do Mapa da Fome em 2014, quando 9,5 milhões de pessoas (cinco por cento da população) lutavam todos os dias por um prato de comida, o Brasil viu 33,1 milhões de cidadãos (15% da população) viver em situação de miséria. Esta é a mesma taxa de 1992.

Um estudo recente publicado pela Organização das Nações Unidas confirmou que o país caiu oito posições no Índice de Desenvolvimento Humano, ocupando a 87ª posição entre 191 nações avaliadas, atrás de 15 nações da América Latina e Caribe, incluindo Chile, Argentina, Uruguai e Peru.

Durante a crise da saúde, a expectativa média de vida caiu de 75,3 anos em 2019 para 72,8 em 2021. A queda levou o país ao mesmo patamar de 2008, quando era de 72,7 anos.

No mesmo patamar de 2015, as intenções de consumo das famílias caíram em 2021. O endividamento atingiu 77,7% das famílias brasileiras, o maior em 12 anos, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.

A inflação aumentou consideravelmente. A taxa passou de 3,75% ao ano em 2018 para 10,06 em 2021. Com isso, nos últimos cinco anos a moeda brasileira (real) perdeu 31,32% de seu poder de compra.

Ou seja, com o equivalente a 100 reais (pouco mais de 20 dólares), os brasileiros podem comprar apenas dois terços dos produtos que trouxeram para casa em 2017. Os que sofrem são sempre os mais pobres.

Verdadeiramente, em nenhuma área Bolsonaro conseguiu ser tão destrutivo quanto na questão ambiental. Com incentivos do governo, ele desmantelou órgãos de proteção ambiental e permitiu que empresas ilegais operassem nas florestas, especialmente na Amazônia.

Enquanto em 2012 a área desmatada nessa região era de 1.769 quilômetros quadrados (km²), em 2021 o número chegou a 10.362 km², segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia.

Tudo isso sem contar a inflação, o aumento de combustível e energia elétrica, desemprego, evasão escolar, juros altos e baixa cobertura vacinal, o que coloca em risco o retorno de doenças já erradicadas como sarampo, rubéola e poliomielite.

Em 1955, Juscelino Kubitschek, um dos presidentes mais conhecidos do Brasil e responsável pela construção de Brasília, chegou ao poder com a promessa de fazer o país crescer “50 anos em cinco”. Com Bolsonaro, a nação se viu retroceder 20 anos em quatro.

Para que o país volte a crescer e melhore as condições de vida da população, é fundamental sair (de novo) desses índices arcaicos.

Uma nação só pode se desenvolver com cidadãos que saem da pobreza, com oportunidades para todos e esperança de dias melhores. É isso que todos os brasileiros esperam do próximo presidente. Seja Lula ou qualquer outra pessoa que receba a faixa presidencial em 1º de janeiro de 2023.

arb/ocs/fb/ml

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