Por Ernest Vera
Redação Cuba
Nesse cenário, a potência hegemônica em declínio direciona seus esforços para exacerbar tensões e conflitos geopolíticos fora de seu território, como o desencadeado no Leste Europeu, na tentativa de manter a hegemonia a todo custo.
Segundo o diretor do Centro de Pesquisas Políticas Internacionais (CIPI), José Ramón Cabañas, esta conflagração se apresenta como uma questão entre Rússia e Ucrânia, quando na realidade é uma ofensiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com Washington na liderança, contra o poder eslavo.
Isso, frisou, começou muito antes do início da operação militar russa na região de Donbas, em 24 de fevereiro, e não terminará com o fim dessas ações.
Em entrevista exclusiva à Prensa Latina, o especialista explicou que o mundo vive um momento de transição para uma ordem internacional diferente, que alguns estudiosos definem como multipolaridade, que expressa a relativa perda de influência e a capacidade dos Estados Unidos de impor sua hegemonia e liderar um grupo de países.
Para o doutor em Ciência Política e ex-embaixador cubano na capital dos Estados Unidos (2012-2021), até recentemente aquele país era uma economia eficiente, e hoje vê como pioram suas estatísticas econômicas e sociais.
Enquanto isso, outras nações e associações econômicas apresentam indicadores muito positivos de crescimento, progresso tecnológico, investimento, eficiência, produtividade e estabilidade.
A análise das votações realizadas nas Nações Unidas em relação ao conflito na Ucrânia, com a intenção de sancionar a Rússia, revela a falácia de que os Estados Unidos lideram uma grande coalizão, apontou Cabañas.
Na realidade, disse ele, a maioria das nações do mundo não demonstrou apoio irrestrito a Washington.
A instabilidade global hoje, do ponto de vista econômico, político e militar, também se reflete em uma crise de liderança em muitos países europeus.
Nas nações ocidentais daquela região, tradicionais aliadas do poder esatdunidense, a distância entre a classe política e a população está se acentuando, o que vê como, devido a esse alinhamento, há uma queda retumbante no valor do euro e da aumento do custo de vida, o que aumenta a incerteza sobre o futuro imediato. Vários destes países dão sinais, a nível ministerial, de questionar esta política e o real impacto que tem nas suas economias. Mas o mais interessante – destacou o acadêmico – é a velocidade com que essas fraturas ocorrem, “em dias ou semanas”.
Enquanto isso, no resto do continente europeu e no mundo há nações que entendem que o alinhamento com os Estados Unidos não lhes é conveniente e começam a se agrupar com base em seus interesses nacionais e vínculos vitais. Ou seja, esse apoio não é monolítico, ressaltou.
Na opinião do professor, esses processos de rearranjo, que têm base econômica prática, com relativa independência de ideologias, não podem ser evitados por meio de medidas coercitivas, sanções e bloqueios ou ameaças.
Por outro lado, existem vários países com capacidade nuclear e o perigo de um erro é latente. O mais inteligente seria relaxar as tensões, negociar.
Infelizmente, não há canal diplomático no conflito, e os Estados Unidos não querem que a Ucrânia negocie, pois pretende manter sua hegemonia a qualquer preço, ressaltou.
A ACADEMIA CONTRA A DESINFORMAÇÃO
Para o especialista, na chamada grande imprensa, os assuntos realmente essenciais são tratados de forma muito superficial, quando são abordados, e há grandes distrações; enquanto as redes sociais e plataformas de internet são palco de um constante bombardeio de desinformação.
Uma das funções da Academia é alertar quais são as reais questões que afetam a sociedade, para facilitar a tomada de decisões políticas adequadas.
“É necessário fortalecer o apoio das instituições acadêmicas às iniciativas de integração latino-americana e caribenha e com o sul global, que atualmente é insuficiente, bem como a conectividade entre instituições, grupos de especialistas, para contribuir com a explicação dos problemas e sua solução”, aponta.
No CIPI tentamos contribuir neste sentido: a VII Conferência de Estudos Estratégicos, promovida pelo Centro, em conjunto com o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), é dedicada a essas questões e é um exemplo de nossa visão sobre o assunto.
Sob o título Polos de poder, multilateralismo e dilemas da transição para uma nova ordem internacional, o encontro debaterá de 26 a 28 de outubro, em formato híbrido, como novas alianças e hegemonias regionais podem gerar mudanças nas estruturas e formatos de tomada de decisão em escala global.
Seu principal objetivo é contribuir para a construção de um mundo mais justo, equitativo e pacífico, a partir das alternativas e propostas do sul global.
Segundo o diretor do CIPI, esses debates serão transmitidos ao vivo pelo canal do YouTube CIPICuba, e as gravações das mais de 50 apresentações e intervenções especiais serão divulgadas pelo site do Centro e perfis institucionais, enquanto as apresentações escritas permanecerão em formato digital.
arb/evm/cm