Havana (Prensa Latina) Mais de 16 meses após o estabelecimento do Emirado Islâmico (governo do Talibã) no Afeganistão, as perspectivas naquela nação centro-asiática continuam na mesma espiral descendente.
As promessas da liderança do Talibã – como a eleição de um gabinete oficial ou os direitos das mulheres – permaneceram na retórica, enquanto os apelos de organizações internacionais sobre a crise humanitária continuam sendo ignorados.
Uma das razões para a disfunção na liderança do país é que a comunidade internacional ainda não reconhece o governo talibã, que voltou ao poder em agosto de 2021 após 20 anos de ocupação americana. Outro problema prende-se com a incoerência política da gestão do Emirado Islâmico, explicou o analista Mohammad Zalmai Afghanyar.
Assim que possível, o Emirado Islâmico deve anunciar seu gabinete oficial e permanente, do qual todos os afegãos participam.
“Quanto mais rápida for a ação sobre este assunto, mais cedo o reconhecimento internacional virá”, disse o professor universitário Parwiz Stanikzai.
Em outubro passado, o porta-voz do Emirado Islâmico, Zabiullah Mujahid, alertou que seria necessário mais tempo para a formação do gabinete formal.
É uma questão que leva tempo. A Constituição ainda não foi formada. Os afegãos que vivem no exterior ainda não chegaram. Esses são os princípios do governo, desde que haja respeito por esses critérios, a situação voltará à normalidade, destacou Mujahid.
Reconhecimento internacional
Apesar dos poucos avanços nesse sentido, o governo interino continua cobrando reconhecimento do mundo nas diversas plataformas multilaterais.
O ministro interino das Relações Exteriores, Amir Khan Muttaqi, recentemente instou a comunidade internacional a se envolver com o Emirado Islâmico.
Minar o governo interino do Afeganistão será prejudicial para o mundo inteiro. “A comunidade internacional deve apresentar-se para um envolvimento positivo conosco “, declarou Muttaqi.
O ministro também pediu aos afegãos no exterior que voltem e apoiem o atual governo.
Seus comentários vêm em meio a críticas constantes de dentro e de fora da deterioração da situação econômica e social do país.
Direitos das mulheres e meninas
O chefe do Ministério do Interior, Sirajuddin Haqqani, reiterou ao enviado da Missão de Assistência das Nações Unidas para o Afeganistão (Unama), Markus Potzel, que foi buscada uma solução dentro da Sharia (lei islâmica), de acordo com a cultura afegã, para o caso dos direitos das mulheres e meninas.
Potzel alertou que a decisão do Talibã de proibir as trabalhadoras humanitárias teria um impacto negativo na assistência da comunidade internacional.
Ao chegar ao poder, o Emirado Islâmico negou o acesso à educação para meninas com ensino superior à sexta série.
Posteriormente, o Talibã limitou o emprego de mulheres e, principalmente, com aquelas que trabalhavam em escritórios do governo, enquanto em dezembro passado proibiu a contratação de mulheres em organizações não-governamentais.
Numa recente conferência de imprensa, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, considerou alarmantes as últimas restrições impostas às mulheres no Afeganistão, e anunciou que planejava viajar para lá para discutir o assunto com vários funcionários do governo talibã.
O Afeganistão é o pior dos piores, e essa é uma expressão que deveria ser para todos no mundo do norte ou no mundo do sul um lembrete do que pode levar a pensar sobre a pobreza, ou seja, reprimir as mulheres na estrada, declarou Türk.
A representante da ONU acrescentou que o que está acontecendo é inigualável, por isso devemos agir em solidariedade com o setor feminino para garantir que essa realidade não seja a norma no futuro. Após essas declarações, o porta-voz do Talibã, Zabiullah Mujahid, refutou as afirmações de Türk, repetindo – mais uma vez – que o Emirado Islâmico estava se esforçando para resolver cada uma das deficiências.
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