Considerado um meio que faz “jornalismo desconfortável”, El Faro, pioneiro da imprensa digital na América Latina, aborda questões que afetam as mulheres salvadorenhas em uma entrevista com Catalina Martínez, diretora regional do Centro de Direitos Reprodutivos da Colômbia.
Entre eles está o aborto obstétrico de emergência, pelo qual, segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, as mulheres salvadorenhas são criminalizadas de forma “desproporcional e injusta”.
Martínez e o Centro trabalham lado a lado com a Agrupación Ciudadana por la Despenalización del Aborto e a Colectiva Feminista em El Salvador para defender os direitos de muitas mulheres que agora estão presas por até 50 anos por algo de que não são culpadas.
As organizações levaram seus casos à Corte Interamericana de Direitos Humanos em nome de Manuela, uma mulher que morreu enquanto cumpria sua pena de 30 anos devido a uma doença não diagnosticada que provocou a perda de seu bebê. O Tribunal reconheceu que Manuela era inocente e condenou El Salvador por tortura, informou El Faro.
Com o país passando por sua maior crise de direitos humanos do pós-guerra, Martinez está ciente de que a mudança para garantir os direitos sexuais e reprodutivos é lenta e ascendente, mas ela prefere ser otimista, disse a publicação.
Não há nenhum órgão de direitos humanos que tenha visitado El Salvador que não tenha concluído que encarcerar mulheres que sofreram emergências obstétricas é uma tortura, disse o jornal.
Na opinião de Martínez, os casos de mulheres criminalizadas por emergências obstétricas são parte de um contexto sistemático de violência em El Salvador.
Em outra parte de seus comentários, a ativista disse que neste país, e particularmente na América Central, há um discurso por parte da igreja que é particularmente negacionista em relação aos direitos reprodutivos, e eu acho – ela apontou – que não podemos negar que isto de alguma forma influencia a criação deste imaginário social de que o aborto é “ruim”.
Em El Salvador, as mulheres que abortam ou perdem seus filhos devido a complicações obstétricas são consideradas homicidas pelo Estado, e atualmente há 14 mulheres no país que foram condenadas e seis estão sendo processadas porque o sistema judicial considera o aborto um crime independentemente das causas, disse ela.
Por outro lado, o diretor disse que, em um contexto pré-eleitoral, a questão do aborto será uma questão que não poderá escapar da agenda e quanto mais pessoas se juntarem à luta, mais estaremos contribuindo para sua descriminalização social.
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