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Em Santiago de Cuba, o Apóstolo renasce aos 170 anos

Em Santiago de Cuba, o Apóstolo renasce aos 170 anos

Santiago de Cuba, 25 jan (Prensa Latina) José Martí renasce todos os dias após o 170º aniversário de seu nascimento, naquele 28 de janeiro, porque assim o sentem milhões de cubanos em uma vocação espalhada por todo o arquipélago e além.

Por Marta Cabrales

Correspondente em Santiago de Cuba

Por isso, as datas que marcam o seu calendário transcendem significativamente e é especialmente o caso da sua chegada ao mundo em 1853.

O Mausoléu onde repousam suas cinzas no cemitério patrimonial Santa Ifigênia, nesta cidade, exerce seu magnetismo desde que foi inaugurado em 30 de junho de 1951.

No entanto, a permanência do Herói Nacional cubano no local data de 27 de maio de 1895, após múltiplas vicissitudes, pois mesmo morto sua grandeza desafiou as forças inimigas.

A construção do conjunto monumental obedeceu ao projeto apresentado pela dupla Benavent-Santí ao concurso convocado para tal e iniciado em 1947. Na sua concepção foram forjadas aproximações aos apotegmas de Martí.

A frente, flanqueiam a rua 28 monólitos que aludem aos acampamentos onde permaneceu durante a guerra, desde o desembarque a 11 de abril até à sua queda em combate a 19 de maio de 1895.

Um pedestal em forma de cone permite o acesso ao ambulacro, de onde se avista o túmulo. Ao seu redor, em forma de hexágono, seis cariátides de seis metros de altura evocam as províncias cubanas da época.

Acima, a claraboia permite a entrada de luz natural e que em determinados momentos do dia os raios solares entrem diretamente. Abaixo, em um pentágono regular, repousa a cripta, escoltada pelos escudos das 20 repúblicas americanas, em ordem alfabética.

Os restos sagrados repousam numa urna de bronze, sobre um punhado de terra trazida de todos os países do continente. Acima, uma bandeira cubana e um buquê de flores cumprem o desejo expresso em um dos Versos Simples.

A INDIGNAÇÃO DE GLORIA CUADRAS

Antes do triunfo da Revolução, em 1º de janeiro de 1959, as homenagens ao Herói Nacional prestavam-se à manipulação política e aos desmandos dos governantes de plantão que içavam seu legado por conveniência.

Exemplo disso se reflete no depoimento da lendária lutadora clandestina Gloria Cuadras de la Cruz, que registrou em suas memórias as impressões do polêmico momento da cerimônia solene, quando a urna foi transferida para o complexo monumental.

A revolucionária de Santiago, falecido em 1987, lembrou que o presidente Carlos Prío Socarrás (1948-1952), governando pelo Partido Autêntico, tentou capitalizar a atenção popular com aquele gesto de justiça e apaziguar o descontentamento com a corrupção reinante.

A peregrinação a partir do Palácio do Governo Provincial, recordou, foi conduzida pelo presidente e no final pela população.

Também esteve presente o líder ortodoxo Eduardo Chibás, “que se fez acompanhar por aqueles de nós que, como ele, verdadeiramente sentimos amor, respeito e profunda veneração pela memória do Apóstolo da Independência, que morreu por ideais que ainda não tinham, na realidade, se realizado”.

Na sua evocação, Cuadras salientou a rejeição expressa a Prío e a simpatia para com Chibás por parte do povo reunido para a cerimônia. Da mesma forma, a prova de contenção e serenidade dada por este ao testemunhar como aquelas mãos enlameadas carregavam a caixa “que continha o maior tesouro da Nação”.

LESCAY, HODELÍN E MARTHA HERNÁNDEZ

Nesta cidade, Martí é uma presença que vai além do icônico e para comprová-lo basta ir ao antigo quartel Moncada, assaltado pelo histórico líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, e jovens revolucionários em 26 de julho de 1953, precisamente no ano do Centenário daquele que consideravam o idealizador do evento.

Muito perto do que já foi uma importante fortaleza militar do país, no cruzamento da avenida que leva seu nome com a Rodovia Central (Avenida de los Libertadores), uma escultura de Alberto Lescay o faz caminhar no intenso trânsito de veículos e pedestres.

Desde 19 de maio de 2002, uma guarda de honra permanente reforça a reverência e confere comovente solenidade a um local já trêmulo. Por ocasião do 107º aniversário da morte de Martí em Dois Ríos, jovens soldados começaram a escoltar seu túmulo em nome de toda Cuba.

30 de julho de 2007, o então presidente Raúl Castro acendeu a chama eterna que arde em sua memória e na de tantos que fizeram da independência da nação caribenha o maior significado de suas vidas.

Desde o alvorecer da transformação e da liberdade, a homenagem a José Martí fez sentido na realidade e a cada data relacionada à sua vida e obra patriótica, o Mausoléu abriga uma espécie de prestação de contas dos cubanos ao legado do herói.

Nessa perpétua homenagem do povo de Santiago, em nome dos cubanos e de tantos outros que o admiram em diversas latitudes, constam também as investigações do neurocirurgião Ricardo Hodelín Tablada, que publicou livros sobre as doenças sofridas por Martí e continua investigando essas e outras arestas de sua vida.

Igual devoção tem a historiadora Martha Hernández, da Curadoria da Cidade, que durante muito tempo cuidou com zelo do valioso patrimônio da necrópole e, em particular, do meio ambiente vinculado ao Herói Nacional.

Há um sedimento especial que sustenta o domínio sobre o Mausoléu: a participação na sinalização do percurso funerário do seu cadáver do Jobo de Damajagual, realizada por ocasião da comemoração do centenário da queda em combate do Apóstolo.

Da mesma forma, após esses 100 anos, fez parte da equipe que realizou, em 1994, a primeira restauração integral do monumental sítio de Santa Ifigênia.

Enorme responsabilidade histórica para o povo de Santiago em cuidar dos restos gloriosos. Agora, 170 anos após a primeira aparição de Martí, esse compromisso é renovado.

arb/mc/cm

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