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Mulheres bolivianas batem forte contra o “muro patriarcal”

Mulheres bolivianas batem forte contra o “muro patriarcal”

La Paz, 26 fev (Prensa Latina) Os resultados do Ano da Revolução Cultural pela Despatriarcalização: Por uma vida livre de violência contra as mulheres na Bolívia, constituíram um passo importante para mover os alicerces desse "muro".

Por Jorge Petinaud Martinez

Correspondente-chefe de Prensa Latina na Bolívia

“Sei que não transformamos tudo o que precisa ser transformado, mas demos um passo muito importante, que não é apenas agir com o conceito de despatriarcalização, mas também começar a mover as bases desse muro patriarcal, que é o que conseguimos juntos, unidos”, assegurou a Ministra da Presidência, María Nela Prada, numa avaliação desta política de Estado durante 2022.

Prada afirmou que essa tarefa contou de uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, com o comprometimento de todos os poderes do Estado: Executivo, Legislativo, Judiciário e Eleitoral, além do Ministério Público, da Polícia, das Forças Armadas e Organizações Sociais.

Entre outros sucessos, ela descreveu o empoderamento econômico das mulheres e os programas sociais de apoio às vítimas de violência e suas famílias.

Nesse sentido, mencionou o Programa Viviana Mallque, que leva o nome dessa jovem de 28 anos, que permaneceu em estado vegetativo por quase sete meses antes de morrer em La Paz devido às agressões de Rubén C., pai de seus dois filhos.

Ela deixou um diário onde anotou todo o sofrimento que sofreu ao lado do pai de seus filhos.

“Li e chorei impotente pela forma como sofria”, confessou Prada durante a cerimônia que contou com a presença de María Quispe, mãe de Viviana e beneficiária de um lar da iniciativa que leva o nome da filha.

Ela explicou que esse projeto permitirá que famílias desfeitas por crimes de feminicídio, como é o caso dos filhos de Viviana, hoje sob a guarda da avó, recebam uma casa financiada pelo Estado.

A manchete destacou a elaboração do Protocolo de Tratamento Informativo da Violência de Gênero pelo Vice-Ministério de Comunicação.

Do mesmo modo, elogiou o atual quadro curricular que se aplica no sistema educativo nacional porque inclui a abordagem da despatriarcalização, convivência em harmonia, respeito pelos direitos e prevenção da violência.

DADOS DE INTERESSE

“Em 2022 houve uma redução de 12% nos números do feminicídio, não é suficiente”, disse Prada, com base em dados do Observatório de Segurança Cidadã do Ministério do Governo, “claro que queremos que chegue a zero (… ), ainda temos um longo caminho a percorrer.”

Em seu relatório sobre o trabalho desde fevereiro de 2022, quando foi declarado o Ano da Revolução Cultural pela Despatriarcalização, destacou que no tempo transcorrido se alcançou cerca de 90% de eficácia na atenção prioritária aos casos de feminicídio.

Ela comentou que, para fazer a avaliação, foram definidos os campos de educação, saúde, economia e transformação cultural e prevenção.

Enfatizou que um dos elementos iniciais foi a formação da Comissão de Revisão de Casos de Feminicídio, dirigida pelo presidente, Luis Arce, em 1º de fevereiro de 2022, diante do comportamento de operadores de justiça que beneficiaram livremente feminicídios, apesar das sentenças de 30 anos de prisão.

Em 120 dias de trabalho, a equipe interveio em todas as varas de execução criminal e viabilizou o processo para 15 dos 18 juízes que favoreceram feminicídios com prisão domiciliar por razões médicas ou outras justificativas.

10 juízes foram destituídos e 21 condenados foram recapturados e presos novamente.

Como resultado do trabalho dessa Comissão, também foi possível a promulgação da Lei de Proteção às Vítimas de Feminicídio, Infanticídio e Estupro de Crianças, Meninas, Meninos e Adolescentes.

Seis leis referentes a aspectos relacionados a medidas cautelares, imprescritibilidade, prevaricação, consórcio e prisão domiciliar foram modificadas.

Da mesma forma, a Bolívia finalizou a primeira sentença com enfoque de gênero e depatriarcal, emitida pelo Tribunal Constitucional Plurinacional, que determina que a prisão domiciliar só será realizada em casos de doença terminal.

No que diz respeito à prevenção, Prada destacou a consolidação do primeiro escritório integral da Força Especial de Combate à Violência (Felcv) no município de Sacaba, Cochabamba, onde atuam de forma concentrada todas as entidades vinculadas ao atendimento às mulheres vítimas de violência.

Antecipou que o Governo garantirá a construção e equipamento da Felcv integral nas cidades de La Paz, Cochabamba e Santa Cruz, assim como no resto do país.

Outro resultado de destaque foi a autonomia econômica das mulheres, com o objetivo de quebrar o ciclo da violência.

Nesse sentido, a ministra destacou que o banco estatal Banco Unión concedeu empréstimos a 681 mulheres com juros preferenciais, outras 3.459 tiveram acesso a financiamentos do Banco de Desenvolvimento Produtivo (BDP) e 20 famílias foram beneficiadas com as hortas urbanas da cidade de La Paz.

Já a Unidade de Projetos Especiais (UPRE) viabilizou a contratação de 828 mulheres nas obras que financia. A meta proposta para os próximos meses é garantir uma fonte de emprego para 7.393.

Referindo-se à propriedade da terra, Prada enfatizou que agora 45% dos títulos de propriedade são detidos por mulheres, contra 10 em 100 na década de 1990.

Todos esses indicadores, sem dúvida, constituem fortes golpes contra os fundamentos do antigo sistema patriarcal na sociedade boliviana.

arc/jpm/cm

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