21 de December de 2024
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México: Cooperação vs. inflação, abra caminho ao caminhar

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México: Cooperação vs. inflação, abra caminho ao caminhar

Cidade do México (Prensa Latina) O golpe que a inflação internacional está dando nas economias latino-americanas e caribenhas, quase igualmente nos países mais ricos e mais pobres, quebra os sonhos de alcançar, ainda que em nível mínimo, o bem-estar social.

Por Luis Manuel Arce Isaac

Principal correspondente no México

É um apreço do Presidente Andrés Manuel López Obrador ao calcular como está o país nesta área, que apesar de possuir recursos naturais valiosos que servem para amenizar o golpe dos preços elevados, sente-o profundamente.

Isso, mesmo quando o peso, sua moeda nacional, se valoriza como nenhuma outra no mundo, o investimento estrangeiro aumenta incessantemente e com ele o emprego, e as remessas de seus compatriotas ao exterior batem recordes a cada ano.

Esse panorama róseo, porém, torna-se roxo na bodega e nos supermercados quando o mexicano sai em busca de sua tortilla, carne, ovo ou tomate e diante da caixa registradora tem que pagar mais dinheiro hoje do que ontem pela mesma quantidade de produtos. O estômago é o primeiro a sentir os efeitos negativos da inflação.

Nas farmácias é ainda pior e os laboratórios continuam ganhando de mão beijada como na fase da Covid-19, quando a renda subiu como nunca antes. A diferença com o super é que nestes a inflação se torna uma arma mortal.

E é essa sequência diária nos mercados e farmácias de um filme cujo começo não se lembra e o fim não aparece, que angustia e faz com que o presidente López Obrador expresse sua pregação pelo humanismo, ou uma invocação pela dignidade da pessoa.

“Esse é o nosso desafio, a inflação, embora esteja caindo, mas devagar, 7,91 em janeiro e no concerto das nações, ou seja, na comparação: Colômbia, 13,3; Chile, 12,3; Rússia, 11,8; Reino Unido, 10,1; Alemanha, 8,7; México, 7,9; Estados Unidos, 6,4; França, 6,0; Canadá, 5,9; Espanha, 5,9; Brasil, 5,8″.

Foi nesse momento que o presidente mexicano revelou uma iniciativa que já vinha amadurecendo desde seu encontro com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, em Campeche.

Juntou-se a quem vê que o mundo está em mudança de tempos e não em tempo de mudança, que a própria vida está dando uma guinada substancial na globalização, razão pela qual propôs aos seus parceiros na América do Norte uma integração racional com o Sul, mas não foi ouvido, em particular pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Além dos prós e contras dessa proposta frustrada, e de todo o debate que desencadeou uma suposta integração continental com os Estados Unidos – desacostumados ao hegemonismo e à imposição -, a inflação atual tem sua origem em uma distribuição criminalmente desigual da riqueza social.

Resulta numa concentração nunca vista do capital em poucas mãos, que agem como um imã sobre os mais afetados e os unem na busca de soluções.

FATO INEGÁVEL

Há um fato inegável: diante da ganância dos centros de poder que usam a atual crise econômica recessiva e sistêmica revelada pela pandemia de Covid-19 como arma política ao expor a falência do neoliberalismo -e não pela guerra em Ucrânia – que é uma consequência, não uma causa – a integração latino-americana e caribenha torna-se um imperativo.

Infelizmente, os mecanismos que a região tem em mãos para alcançá-lo não funcionaram nesse sentido:

Nem os próprios, como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e o Sistema Econômico Latino-Americano e Caribenho (SELA), nem os mais estrangeiros gerados nas Nações Unidas, ou falhos e mercenários como os do sistema americano, em particular a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Neste contexto complicado e até contraditório, é mais abertamente conhecida esta iniciativa de López Obrador de acordar testamentos, primeiro de um pequeno grupo de países, mas de peso importante na balança económica regional, uns, e política outros, como contrapeso ao avanço integracionista na zona norte do continente com o T-MEC.

É importante que o México seja o promotor do que López Obrador chamou de plano antinflacionário de ajuda mútua para o crescimento e intercâmbio econômico-comercial com os países latino-americanos.

Ao mesmo tempo, é uma engrenagem muito importante, ainda mais do que o Canadá, do mecanismo tripartite de Acordo de Livre Comércio do Norte, erroneamente considerado o maior centro comercial do mundo, mas cuja influência internacional ninguém contesta.

Como país de dobradiça entre as Américas do Norte e do Sul, o México pode conseguir uma inserção mútua nos programas econômico-produtivos de cada lado do continente no contexto de uma mudança de época, à qual os Estados Unidos não podem continuar a lhe dar as costas por muito tempo.

Reconhecer isso leva a desenraizando sua Doutrina Monroe existente da América para si mesmos.

A incerta guerra na Ucrânia, que, como sempre, é travada pelos Estados Unidos como principal protagonista fora de suas fronteiras e sua indústria militar sai como a mais beneficiada, deve se tornar a última expressão do regime de concentração de capitais e o início do novo que já perde

Também é muito importante, pela condição de país pivô, que López Obrador tenha decidido tornar públicos seus telefonemas com seus pares na Argentina, Brasil, Colômbia e Cuba.

POR UMA CÚPULA LATINO-AMERICANA ANTI-INFLAÇÃO

E também que o presidente mexicano deu até datas prováveis para uma cúpula latino-americana antinflacionária, como aquelas reuniões históricas promovidas pelo líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, em Havana sobre a dívida externa.

Estas reuniões deram muito bons resultados e sensibilizaram para as origens e grandes saques da América que ainda persistem, tendo como principais protagonistas então o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

López Obrador divulgou um vídeo com trechos de suas conversas com Alberto Fernández, Luiz Inácio Lula da Silva, Miguel Díaz-Canel e Gustavo Petro, onde manifestou interesse em convidar também os governantes do Chile e da Bolívia nesta primeira fase.

Começará com uma teleconferência em 5 de abril e talvez em maio seja realizada a cúpula presidencial com os líderes presentes e o México como sede.

Há muito a ser feito e o terreno já foi adubado com a Celac e outras instituições, mas também é um momento politicamente bom e humanamente razoável para tentar um esforço conjunto para colocar a América Latina e o Caribe no ponto certo do comércio internacional.

É um grande mercado e um grande produtor, especialmente de alimentos básicos e matérias-primas, incluindo lítio, petróleo e gás, e muitos minerais estratégicos.

No vídeo das conversas com os quatro presidentes, López Obrador mencionou alguns desses produtos para sugerir que uma das primeiras medidas a serem coordenadas seria melhorar as condições do comércio intrarregional.

Ele deu como exemplo a eliminação de barreiras tarifárias de alguns produtos para favorecer a redução da inflação, aproveitando, por exemplo, que o Brasil tem uma importante produção de aves; Argentina, carne; Colômbia e Cuba, de cimento, além disso, o México teria vários produtos a oferecer.

A ideia, muito bem recebida pelos convocados, é começar com uma troca de pontos de vista, “para nos unirmos e nos ajudarmos e enfrentarmos o problema inflacionário”, explicou López Obrador, já que existem muitas oportunidades de intercâmbio econômico comercial.

Esta grande e quase obrigatória ação começaria, segundo a projeção, com uma troca imediata que já está se concretizando entre os secretários de Finanças, Comércio e outros da área econômica para avançar nas análises e propostas rumo ao encontro virtual.

Em seguida, a reunião presencial será realizada como uma cúpula antinflacionária, que já deve começar a ser trabalhada pelas chancelarias dos governos envolvidos, e todo o processo terá um elemento adicional, mas importante:

Convide produtores, distribuidores, comerciantes, importadores e exportadores, para que também participem do projeto.

Resta saber como reagirão os Estados Unidos, afastados desta iniciativa, e se prepararão para o bombardeio midiático, e mesmo para a intensificação do declínio do hegemonismo.

Parodiando Publio Terencio Africano, com aquela coisa de que nada do humano me é estranho, nem qualquer tentativa da América Latina de quebrar correntes seria estranha a Washington.

Essa ideia de integração e coordenação pode ir além dos objetivos urgentes de sobrevivência da América Latina e do Caribe diante da inflação exportada pelos centros de poder.

Poderia se tornar uma estratégia mais abrangente para entrar plenamente no caminho das mudanças irreversíveis e fazer, como dizia o poeta Machado, trilhar o caminho. arb/lma/ml

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