Havana, 29 mai (Prensa Latina) A equação da estratégia mundial dos EUA com o conflito na Ucrânia parece estar cada vez mais clareando uma de suas principais variáveis: o alvo também é a União Europeia União (UE), cujos governantes parecem admiti-lo.
Em 24 de fevereiro de 2022, o presidente Vladimir Putin anunciou o início de uma operação de guerra na Ucrânia, para atender aos pedidos da população rebelde da região de Donbass, cujas autoridades denunciaram oito anos de genocídio por parte de Kiev.
Embora já o tivessem feito antes do conflito, uma vez iniciado, a reação das potências ocidentais, principalmente dos Estados Unidos, foi intensificar a guerra econômica contra a Rússia, agora acompanhada de uma participação quase direta no conflito.
Mais de 10.000 medidas punitivas unilaterais, incluindo 10 pacotes de sanções da UE, no entanto, tiveram um efeito bumerangue, especialmente para o bloco comunitário, já que incluiu um boicote à compra de hidrocarbonetos russos, além de fertilizantes.
Especialistas dentro e fora da Rússia tentaram denunciar que um dos propósitos da ação dos EUA em levar a UE a desistir do novo gasoduto North Stream II era reduzir a vantagem comercial garantida pela compra do gás russo barato.
Com a suspensão da entrada do North Stream II, a posterior sabotagem daquele gasoduto e seu gêmeo já em operação, o North Stream I, além de problemas com o Yamal-Europa, pela Polônia, a chegada de gás foi drasticamente reduzida russo para a Europa.
Em 2020, a Rússia forneceu à UE mais de 200 bilhões de metros cúbicos (40% do consumo desse combustível) e 540 milhões de toneladas de petróleo bruto e seus derivados. O bloco agora deve garantir quase todos esses hidrocarbonetos de outros fornecedores.
A Polônia, um dos países anti-russos mais ativos da Europa, perde 28 milhões de dólares por dia devido ao superfaturamento na compra de petróleo em outras regiões, diz a RIA Novosti.
As empresas norte-americanas da época prometiam garantir parte do gás liquefeito necessário à Europa, mas isso estava longe de satisfazer a procura, o que levou à subida dos preços da energia e com ela a uma inflação galopante, com graves consequências socioeconômicas.
A parte energética do desenvolvimento da Europa, que até recentemente registrava um superávit comercial com os Estados Unidos de mais de 120 bilhões de dólares, segundo o jornal El País, é o ponto que Washington mais bate para reduzir as capacidades de seu concorrente.
Na época, o agora ex-presidente Donald Trump inaugurou o confronto com a China, ao exigir a redução de grande parte dos 300 bilhões de dólares do superávit comercial do gigante asiático. Trump colocou em jogo sanções comerciais que disfarçou com aumentos drásticos de tarifas para produtos chineses em uma guerra econômica que herdou e deu continuidade a Joe Biden, que acrescentou o ingrediente da ameaça militar no caso de Taiwan.
ENFRAQUECENDO A EUROPA AO MÁXIMO
Além de minimizar uma das fontes do vertiginoso desenvolvimento da UE como o gás natural russo, os Estados Unidos conceberam o chamado Chip Act, que parece buscar mais um golpe para reduzir a capacidade competitiva da Europa.
A Lei de Redução da Inflação ou Chip Act, aprovada no verão passado pelo Congresso dos EUA, prevê cerca de 370 bilhões de dólares para investimentos em tecnologias verdes, energia renovável, transporte e economia de energia.
Um dos objetivos deste documento é realocar fábricas de semicondutores nos Estados Unidos em atividades industriais, mas também estimular a transferência para solo norte-americano de empresas estrangeiras ligadas à tecnologia verde. Segundo a American Semiconductor Association, a fabricação desse produto pelo país do norte representa hoje 12% do mercado mundial, três vezes menos que em 1990. No entanto, a lei já teve um efeito negativo na Europa, acelerando sua descapitalização industrial, após a transferência de dezenas de empresas-chave no setor de energia renovável, em meio aos planos da UE para seu processo de descarbonização regional.
Ao contrário da China, os Estados Unidos, correndo o risco de entrar em uma guerra comercial com a UE por causa do Chip Act, teriam mais dificuldade para falar sobre sanções ou guerra econômica com seus parceiros europeus, mas o objetivo de reduzir sua influência no mercado parece ser semelhante.
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