Ollantay Itzamná*, colaborador de Prensa Latina
As modernas democracias representativas que conhecemos, na lógica política aristotélica, seriam a perversão da perversão. Algumas democracias reduzidas ao ritual eleitoral, onde a cada quatro ou cinco anos, as vítimas (por ignorância ou necessidade) marcam a foto de seus carrascos para empobrecê-los ainda mais.
A Guatemala, no próximo dia 25 de junho, é chamada a ir às urnas, mais uma vez, para “votar” (mas não eleger) seu presidente, 160 legisladores, 20 deputados do PARLACEN e 340 governos municipais. Há mais de 9,3 milhões de guatemaltecos qualificados para votar. São 30 partidos políticos, e 22 binômios presidenciais que concorrem. O país, territorialmente, mal tem a dimensão de um Município em alguns países do Sul do Continente.
Neste belo e pequeno país, onde a opulência dos ricos é milhares de vezes maior que a dos monarcas europeus da Idade Média, quase ninguém sabe para que servem as eleições. O grau de miséria e fome das famílias empobrecidas é tal que elas aguardam ansiosamente (a cada quatro anos) os “sacos de feijão ou o dinheiro” que os candidatos lhes dão nas campanhas eleitorais, para depois cobrar-lhes mais de, segundo informações oficiais, em 2001, 54% dos guatemaltecos encontravam-se em situação de pobreza. Em 2018, cerca de 64% dos guatemaltecos sofriam de pobreza multidimensional. Isso sem contar os quase quatro milhões de guatemaltecos que sobrevivem como migrantes nos Estados Unidos. Nesse período, a Guatemala foi às urnas quatro vezes e continuou votando por mais empobrecimento. Masoquismo? Ignorância? Manipulação patronal da fome?…
Para o próximo dia 25 de junho, no plano das candidaturas presidenciais, não resta outra opção senão o neoliberalismo patrocinado pelo governo dos Estados Unidos. Mesmo os três candidatos “progressistas” à presidência não propõem mitigar, muito menos superar, o sistema neoliberal privatizante. Esta situação pode explicar por que cresce a opção pelo “voto nulo” entre os descontentes na Guatemala.
A democracia representativa eleitoral foi distorcida a tal ponto que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), controlado pelo atual regime de governo, decidiu antecipadamente quem deveria ser eleito e quem não deveria. Evitando, desta forma, que os eleitores decidam nas urnas.
A perversão eleitoral é tal que, apesar de a Constituição Política da Guatemala, em seu artigo 186, estabelecer expressamente que filhos de ex-ditadores não podem ser candidatos, a filha de um ex-ditador, condenada a 80 anos de prisão por genocídio, está concorrendo à presidência e é um dos favoritos.
Enquanto isso, a única candidata à presidência das democracias comunitárias, Thelma Cabrera, pelo Movimento de Libertação dos Povos (MLP), foi impedida de participar das eleições gerais de 2023, argumentando que seu candidato à vice-presidência, Jordán Rodas, não cumprir os requisitos da Lei.
O MLP é a única organização política que se propõe a superar o neoliberalismo revisando os contratos de privatização de bens e serviços públicos, propõe a convocação de um processo de Assembleia Constituinte Popular e Plurinacional e promete uma guerra frontal contra a corrupção. Há outras duas organizações políticas cujos binômios presidenciais foram impedidos pelo TSE. Mas, o MLP, apesar de ser vítima da exclusão política, e enfrentar uma disputa eleitoral financeiramente desigual, trava uma tremenda batalha eleitoral, mesmo sabendo que luta contra a vontade expressa do TSE e dos partidos políticos neoliberais.
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