Por Mariela Perez Valenzuela
Correspondente chefe na República Dominicana Os dominicanos o consideram um presente muito especial da natureza e especialistas estão realizando estudos para garantir sua sobrevivência nas costas desta nação caribenha.
Três exemplares do peixe-boi Trichechus manatus (seu nome científico) batizados como Juana, Pepe e Lupita foram soltos em 27 de junho de 2021 na baía artificial de Bayahibe, na província de La Romana (leste).
Durante seis meses os técnicos cuidaram da preparação e formação, antes de serem “entregues” ao meio natural, um mundo até então desconhecido.
Um ano depois, os nacionais souberam que Juanita foi encontrada morta no rio Isabela. Muitos se perguntam se não teria sido melhor mantê-la em seu abrigo. Foi uma experiência triste.
Então, o Ministério do Meio Ambiente, o Aquário Nacional e a Fundação Dominicana de Estudos do Mar (Fundemar) criaram um projeto para a conservação do peixe-boi das Antilhas, que vive do Golfo do México até a foz do rio Amazonas, na América do Sul.
Não se pode falar em beleza no caso deste animal “amigável e calmo”. Corpulento, com nadadeira terminal em forma de espátula, sua pele é fina e enrugada, geralmente recoberta por algas e pequenos moluscos.
De cabeça grande, carece de pescoço e ombros, como se fosse uma peça única. Seus membros anteriores, com garras, são flexíveis e ele os utiliza como um remo para se movimentar no fundo, sentir e até abraçar outros de sua espécie, movimentar alimentos e facilitar a limpeza da boca.
Sua lenda no reino animal o coloca como o único mamífero herbívoro aclimatado para viver nas águas e se alimentar de suas plantas.
Em 2022 a Fundemar assinou um acordo com a empresa local Planeta Azul para realizar o primeiro censo nacional desta grande e cinzenta espécie com drones e um pequeno avião, de forma a conhecer o seu comportamento e distribuição, análise que será concluída este ano.
Para garantir a qualidade do trabalho, pela primeira vez, foi utilizada tecnologia mista, composta por sobrevoos com especialistas que percorreram todo o litoral em busca de espécimes, e o uso de drones.
A diretora executiva da fundação, Rita Sellares, garante que a sua população nas costas do país oscila, segundo dados preliminares, entre 150 a 250 indivíduos.
Cientistas dominicanos são atraídos por esses animais com rostos enrugados e bigodes bonitos, e alguns concordam que eles são úteis como controladores de “ervas aquáticas”.
Por isso, desde junho passado começaram a se aprofundar em seu habitat. Os drones identificaram seu comportamento quando foram fotografados no norte da península de Samaná, onde as águas da região são claras e calmas.
Equipamentos de última geração captam imagens da cauda, dorso e face, densidade populacional, condições ambientais e outros indicadores, até completar um conjunto para cada animal, ao qual é atribuída uma identificação temporária, uma espécie de impressão digital provisória.
A esse respeito, Sellares explicou que nesta fase do projeto a caracterização é feita manualmente, já que não existe um software específico para peixes-boi, embora eles trabalhem em parceria para desenvolvê-lo.
Ao explicar as vantagens do software, ela especificou que toda vez que um animal é fotografado, o banco de dados buscará onde e quando aquele espécime foi visto.
O programa pretende dar um nome a cada um, saber para onde se deslocam e como sobrevivem, o que forneceria informações valiosas para a sua proteção e ajudaria as comunidades costeiras a conhecerem os seus amigos marinhos, como aconteceu com Juana, Pepe e Lupita.
Biólogos, técnicos e especialistas no uso de drones e processamento de imagens trabalham nesta iniciativa, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, da Embaixada da Alemanha no país, da TotalEnergies, do Grupo Piñeiro, da Agua Planeta Azul e do Clearwater Marine Aquarium Research Institute da Flórida.
O Estado dominicano, que a curto prazo terá a base de dados criada pelo grupo multidisciplinar, poderá proteger essas áreas em benefício das espécies e da biodiversidade.
Talvez Pepe e Lupita reapareçam um dia em um desses grupos, para felicidade dos dominicanos, talvez acompanhados de suas novas famílias.
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