Por Glenda Arcia
Correspondente-chefe de Prensa Latina na Argentina
Em diálogo com a Prensa Latina, recordou os primeiros contatos com o Comandante-em-Chefe, seu encontro em Havana e o trabalho realizado para implementar programas como Yo, sí puedo e Operación Milagro, capazes de transformar pessoas e comunidades.
“Fidel passou pela minha vida. Eu o conheci quando Elián González foi sequestrado nos Estados Unidos e escrevi uma carta ao então presidente argentino, Fernando de la Rúa (1937-2019), para criticar o voto contra Cuba na Organização das Nações Unidas Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a questão dos direitos humanos”, diz Camba. “Foi muito impressionante que, em meio a um contexto como aquele em que vivia o país caribenho, com uma criança sequestrada e um povo reclamando-o, a Argentina julgou aquela nação, enquanto aqui os genocidas estavam soltos e havia crianças nas ruas com desnutrição. Por isso fiz a carta. O texto, com o qual muitas pessoas se identificaram, chegou até Fidel e por isso pude conhecê-lo. De um cantinho da Patagônia fui para Havana”, acrescentou.
Desde então, Camba não se separou do país antilhano e participou de múltiplas ações convocadas pelo Movimento de Solidariedade na Argentina.
A minha geração é a da Noite dos Lápis, os desaparecidos de 15 e 16 anos, durante a última ditadura cívico-militar (1976-1983). Quando percebi o que se passava e depois de entrar na Escola Nacional de Belas Artes Manuel Belgrano, dediquei a minha vida e a minha carreira a denunciar o que se passava, disse.
A artista e lutadora social afirma que os detidos, torturados e assassinados naqueles anos tinham os mesmos ideais do guerrilheiro Ernesto Guevara (1928-1967) e foram seus pensamentos e obras que a levaram a Fidel Castro.
“Se eu tivesse outra idade quando Che lutou na Bolívia, teria morrido com ele. Quando Fidel criou as missões de alfabetização e colaboração médica, senti que tinha que fazer parte disso, porque lutava com uma ideia, não com armas. Desde então, tenho uma tarefa que nunca terminará e sei que a minha vida até ao fim pertence ao Comandante”, afirmou.
Diante da necessidade de contar com uma figura jurídica que facilite a implementação neste país sul-americano do programa de ensino cubano Yo, sí puedo e do programa de oftalmologia Operación Milagro, foi criada em 2004 a Ummep, encarregada de coordenar o trabalho iniciado um ano antes e desempenhar um papel fundamental na cooperação entre este país e Cuba.
Em 2007 também foi criada a iniciativa Gestão Social Comunitária, projeto que está em processo de renovação.
Idealizado entre 2001 e 2002 por impulso da líder histórica da Revolução Cubana e da pesquisadora Leonela Relys, Yo, sí puedo é um método de ensino composto, no qual se utilizam números para facilitar o aprendizado associando figuras a letras.
Até agora, mais de 10 milhões de pessoas em trinta estados foram alfabetizadas com ele.
A proposta pedagógica combina educação presencial com audiovisuais e a coordenação de um facilitador, o que garante uma projeção social transformadora dos alunos.
Também possui versões em outros idiomas, além do espanhol, e até o sistema Braille, para cegos.
“Na Argentina, mais de 35.000 cidadãos já foram beneficiados. Nosso país foi declarado livre de analfabetismo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, mas quando se vai ao Impenetrável, na província de Chaco, mais de 30% das pessoas não sabem ler e escrever. O mesmo acontece em Jujuy, na quebrada ou nas comunidades indígenas”, explicou Camba.
“Inicialmente, com a ajuda de organizações sociais e do Cadastro Nacional de Trabalhadores na Agricultura, conseguimos atingir quase todo o território nacional. No entanto, depois de assumir a Presidência em 2015, a primeira coisa que Mauricio Macri quebrou foram os planos rurais e hoje só temos um acordo oficial com a província da Terra do Fogo”, acrescentou.
Como destacou, a alfabetização tem um grande impacto social e gera um vínculo muito forte porque ajuda os excluídos do mundo.
“Há quem não consiga usar um celular, um caixa eletrônico ou entender o que assina. Quando eles aprendem e conseguem ser incluídos, é muito importante”, destacou.
Da mesma forma, destacou que a Ummep também aspira trabalhar de forma articulada com as escolas de ensino fundamental e médio para garantir a continuidade dos estudos dessas pessoas.
“Algo que me impressionou na Terra do Fogo foi a crescente presença de homens. Antes, 99% das pessoas alfabetizadas eram mulheres e os homens não queriam fazer parte da iniciativa. Agora eles vêm até nós e não só os idosos, mas também os jovens”, disse.
Já foram realizadas mais de 50.000 cirurgias. Essa iniciativa passa por diferentes fases: inicialmente, os pacientes argentinos tiveram que viajar para Cuba, depois para a Bolívia e, atualmente, podem ser operados no Centro Oftalmológico Ernesto Che Guevara, em Córdoba.
“Tudo exigiu um esforço impressionante, idealizado por Fidel e Hugo Chávez (1954-2013), que propuseram a criação da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América. Quem se tratou em Cuba primeiro foi com medo e voltou mudado, dançando. Mais tarde, Evo Morales triunfou na Bolívia (2006) e vários hospitais foram instalados naquele país, dois deles na fronteira com a Argentina. Isso foi incrível”, enfatizou.
Ainda me lembro de Fidel falando daquele projeto com um mapa do cone sul. Ele mexeu as mãos e disse: “Eu vejo muito claramente. Vamos fazer o que Che queria, mas desta vez com jalecos brancos.” Foi realmente chocante porque brasileiros, paraguaios, argentinos e peruanos foram operados na Bolívia, acrescentou.
Segundo Camba, em 2008 foi levantada a possibilidade de procurar um local para realizar as cirurgias neste país e escolheram um lugar em Córdoba, porque Guevara passou vários anos de sua vida lá e a última visita de Fidel e Chávez ocorreu.
Além disso, esse território tem uma importante história de luta popular e estudantil, está localizado no centro do país e havia garantias de segurança.
“Em 8 de outubro de 2009, em homenagem a Che, foi realizada a primeira cirurgia. Depois disso, crescemos muito, trabalhamos com uma equipe de argentinos e vieram dois assessores de Cuba. Em 2014 conseguimos comprar um terreno e construir nosso próprio hospital”, disse.
Também explicou que estão sendo feitos os esforços necessários para capacitar os profissionais dentro da unidade.
“O que estamos pensando para mudar as coisas não é apenas operar, mas infectar outras equipes médicas e fortalecer o sistema público de saúde com bolsas de estudo”, disse.
arc/gas/cm