23 de December de 2024
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Povos indígenas organizados, força motriz dos protestos na Guatemala

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Povos indígenas organizados, força motriz dos protestos na Guatemala

Cidade da Guatemala (Prensa Latina) Os povos indígenas organizados são a força motriz dos protestos das Jornadas de outubro de 2023 na Guatemala, destacou o renomado historiador e antropólogo social Mauricio José Chaulón.

Por Zeus Naya

Correspondente-chefe na Guatemala

“A capacidade orgânica e a experiência de luta e resistência têm sido os pilares das mobilizações e o sentido do próprio protesto”, declarou o analista político guatemalteco com exclusividade para Prensa Latina.

As autoridades indígenas – valorizou – tornam-se então exemplos de liderança social, política, ética e histórica, que se amalgamam com a liderança social das organizações urbanas populares e proletárias.

“Isso fortalece a luta de classes do povo e das cidades”, disse a esta agência o professor da Universidade de San Carlos da Guatemala.

Na sua opinião, o espírito das diferentes visões de mundo dos povos indígenas que vêm e se desenvolvem a partir de raízes comuns como os maias e os xinkas, conferem maior poder às mobilizações sociais.

Além disso, acrescentou, mais aprofundamento na procura de objetivos comuns, que estejam em linha com transformações qualitativas que não podem ser adiadas, sublinhou.

Ao mesmo tempo, sublinhou, “as autoridades indígenas são apresentadas como exemplos contra maus governantes, como aqueles que atualmente provocam a corrupção que procura minar o processo eleitoral”.

As organizações ancestrais, juntamente com os setores populares, dão um grande exemplo de que só o sentido de comunidade pode derrotar o sistema que se baseia em interesses particulares, destacou o professor.

INTEGRAÇÃO DE DIFERENTES SETORES Para Chaulón, os protestos desde o passado dia 2 de outubro contra a atuação do Ministério Público (MP) fazem parte de um longo processo de lutas sociais, provocados pelas contradições históricas da estrutura socioeconômica dominante. A mesma – afirmou o especialista à Prensa Latina – que não quis nem conseguiu resolver os graves problemas que gera.

“Estamos vendo como a luta de classes se intensifica na Guatemala; a dialética nos mostra que com maior opressão chega um momento em que a reação do povo é mais forte e mais inevitável”, explicou.

Na história mais recente do país, que podemos registrar desde a assinatura dos Acordos de Paz (29 de dezembro de 1996), esses protestos não têm precedentes, afirmou o professor.

“Conseguiram integrar diferentes setores que, desculpem a redundância, historicamente estiveram separados pelas mesmas consequências de poder”, argumentou.

Com a liderança dos povos indígenas organizados – acrescentou – os protestos reconstroem o tecido social das grandes maiorias desde o sentido da classe trabalhadora e em vários lugares desde o sentido étnico.

Mas todos convergem na luta contra a corrupção e na defesa do pouco que resta da democracia na terra do quetzal, comentou o igualmente analista social.

A elevação da consciência coletiva – considerou – transcende as exigências de que o processo eleitoral seja respeitado para passar a criticar graves problemas sociais e económicos.

Mencionou entre eles o racismo, o patriarcado, a desnutrição, a fome, as desigualdades, o abuso de poder, o analfabetismo, a precariedade material e imaterial da educação e a falta de acesso à saúde.

Da mesma forma, acrescentou, condições migratórias, violência, falta de habitação e desemprego, entre outros.

“Setores sociais que tradicionalmente não estavam envolvidos nestes protestos, hoje manifestam-se através do sentido de comunidade: bairros, bairros, aldeias, municípios, territórios, vilas”, descreveu.

Enfatizou que esta é uma das características mais importantes destes dias de protesto de outubro de 2023 no país, o que os torna históricos em comparação com outros, frisou.

Embora todos – especificou – façam parte do mesmo processo, descreveu como transcendental o envolvimento das classes médias urbanas no diálogo e na partilha de slogans, consciência e práxis com os povos indígenas e setores populares.

OS PROTESTOS GARANTEM QUE UM GOVERNO ELEITO SEJA ASSUMIDO?

Na opinião de Chaulón, os grupos de poder estão a tentar fazer tudo para evitar que o presidente eleito, Bernardo Arévalo, tome posse em 14 de janeiro de 2024.

“O seu principal interesse é anular o processo eleitoral, argumentando que houve fraude, o que é totalmente falso”, refletiu.

Mas não contaram com protestos populares e isso os deteve; Contudo, neste momento recorrem a mecanismos legais para fazer com que diminuam de intensidade, observou.

Neste sentido, alertou o antropólogo social, “possivelmente o MP tentará publicar os supostos resultados da investigação ao partido Movimento Semilla, que está repleto de falsidades, para anular as eleições”. é”.

Segundo o analista guatemalteco, trata-se de um golpe de Estado através da manipulação da lei ou do lawfare (guerra legal).

No entanto, notou, a intensidade das manifestações impede isso e por isso o poder recorre ao Tribunal Constitucional (CC) para fazer retirar os bloqueios.

Isto, com o objetivo de expulsar as pessoas localizadas fora da sede do MP e fazer com que as manifestações se tornem apenas protestos, sem causar qualquer pressão sobre o sistema dominante, descreveu.

Procuram – quis dizer – que as pessoas se cansem e se desgastam, por outro lado, a palavra de ordem das organizações sociais é “nem um passo atrás” e continuar bloqueando estradas estratégicas e manifestações em frente à sede do MP.

Com tais ações demonstram força, e se for necessário dialogar o fazem, mas sem enfraquecer as mobilizações, disse o professor à Prensa Latina.

Explicou que o CC emitiu uma resolução na quarta-feira, 18 de Outubro, na qual autorizou o uso da força para expulsar os manifestantes da sede do MP, razão pela qual a nação entrou em estado de alerta.

“A indignação das comunidades e dos povos que participam aumentou, e é algo que o governo sabe, mas vai continuar a tentar forçar o enfraquecimento das mobilizações e vão tentar ganhar tempo”, disse.

É possível – estimou – que sua estratégia seja que a procuradora-geral Consuelo Porras permaneça no cargo até 14 de janeiro e que quando Arévalo tomar posse lhe peça que renuncie.

Pode ser que ela e os seus cúmplices próximos fujam do país e a estratégia para desestabilizar o novo Executivo seja feita de outra forma, disse o especialista.

“Mas tudo isso com o patrocínio dos setores mais conservadores da classe dominante. Se as manifestações continuarem, a inauguração poderá ser realizada”, concluiu Chaulón.

arb/znc/ml

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