19 de December de 2024
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Dívida sufoca países em desenvolvimento

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Dívida sufoca países em desenvolvimento

Havana, (Prensa Latina) Poucas horas antes do final de 2023, o Banco Mundial (BM) mostrou os números escandalosos pagos pelos países em desenvolvimento nos pagamentos do serviço da dívida, uma questão que, sem dúvida, afetou a atenção a necessidades críticas.

Por Teyuné Díaz Díaz

Chefe da Editorial de Economia da Prensa Latina

A saúde, a educação e o meio ambiente foram relegados para essas nações, pois foram obrigadas a cumprir, através de um pagamento recorde de 443,5 bilhões de dólares de suas dívidas em 2022.

Isto através de aumentos sustentados nas taxas de juros, com países os mais pobres são aqueles que correm maior risco de sofrer crises de incumprimento, especialmente no complexo contexto internacional.

“A cada trimestre com altas taxas de juros, mais países em desenvolvimento são afetados e enfrentam a difícil decisão de escolher entre pagar a dívida pública ou investir na saúde pública, educação e infra-estruturas”, explica o Banco Mundial.

De acordo com o Relatório da Dívida Internacional do Banco Mundial, os pagamentos do serviço da dívida – “incluindo capital e juros” cresceram cinco por cento em 2022 em comparação com 2021.

AVISOS ANTECEDENTES DE CRISE

Durante 2023, diferentes organizações internacionais alertaram sobre a gravidade do problema.

Por exemplo, em maio, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) abordou a sua preocupação sobre a sustentabilidade dos serviços públicos dívida nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento.

O estudo alerta para o provável abrandamento das perspectivas econômicas das regiões em desenvolvimento, dado o enfraquecimento da atividade econômica global, a redução do comércio internacional, a inflação elevada e a volatilidade dos mercados financeiros e

de matérias-primas.

Pandemia de Covid-19, indica CEPAL, aumentaram os níveis de endividamento público na América Latina e no Caribe e, após a crise sanitária, essa tendência piorou.

O aumento do serviço da dívida continua, especialmente em moeda estrangeira, forçando os países enfrentar dilemas dolorosos que envolvem o sacrifício de investimentos e gastos sociais.

Um ambiente insustentável para satisfazer estes compromissos financeiros, o que, por sua vez, implica uma crise com profundas consequências para o desenvolvimento e efeitos duradouros sobre o crescimento, o investimento, a pobreza e a desigualdade, sublinhou a CEPAL.

Mais tarde, em Julho, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) instou o G-20, as 20 economias mais desenvolvidas do mundo, a interromper o pagamento das dívidas aos países de renda baixa e média.

Um pedido que surgiu poucos dias antes da reunião dos ministros das finanças do G-20 para debater o combate à pobreza, a reforma das principais instituições multilaterais e a arquitetura da dívida internacional.

No seu relatório, o PNUD destacou que, entre 2020 e 2023, cerca de 165 milhões de pessoas caíram na pobreza e ascendem agora a cerca de 1.650 milhões de indivíduos, mais de 20% da população mundial.

De acordo com estes dados, 25 países de baixo rendimento gastaram mais de 20% do seu rendimento no serviço da dívida em 2022, o maior número de nações desde 2000, um número que poderá continuar a aumentar.

Desde então, o administrador daquela organização internacional, Achim Steiner, afirmou que o serviço da dívida está a tornar-se cada vez mais difícil para os países apoiar a sua população com investimentos na saúde, na educação e na proteção social, conforme também relatado pelo Banco Mundial e pela CEPAL.

Steiner especificou que nesta situação um governo não pode mais pagar aos seus professores; Não pode contratar médicos e enfermeiros nos hospitais, nem fornecer medicamentos aos centros de saúde rurais.

O aumento da pobreza é alarmante, o peso da dívida é insustentável, especialmente para os países de baixa renda, observou ele.

Da mesma forma, em Julho e antes da reunião do G-20, o Grupo Global de Resposta a Crises, observou que a dívida pública global atingiu um valor máximo de 92 bilhões de dólares e dessas obrigações 30% pesam sobre os países pobre.

Durante a apresentação do texto, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, sublinhou que “metade da humanidade vive em países que são obrigados a gastar mais no serviço da sua dívida do que na saúde e na educação, o que significa nada menos que um desastre para o desenvolvimento.”

Em acordo com a CEPAL e o PNUD, o Grupo alertou que o pagamento das obrigações limita o desenvolvimento destes Estados, uma vez que os governos reduzem os orçamentos para as suas despesas sociais e, consequentemente, 3.3 bilhões de pessoas não têm acesso a programas destinados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ou a transição energética.

Apesar dos alertas, durante a reunião dos ministros do G-20 não houve consenso quanto à reestruturação da dívida dos países de renda baixa e média.

O panorama atual carece de perspectivas de melhoria, reconheceu o G-20, representativo das nações com 85% do Produto Interno Bruto mundial, mais de 75% do comércio internacional e cerca de dois terços da população mundial.

Mesmo nessa reunião, o grupo admitiu que o fosso entre ricos e pobres continuará a aumentar se não forem rapidamente implementadas políticas que incluam mecanismos para os mais vulneráveis. No entanto, eles não concordaram em interromper o pagamento da dívida.

PROPOSTAS NÃO OUVIDAS

Enfrentar os elevados níveis de endividamento e os riscos de sobreendividamento são questões urgentes, mas nem os alertas das organizações internacionais nem as suas propostas foram ouvidos.

Por exemplo, a CEPAL e a ONU concordaram na necessidade de adoptar suspensões de pagamentos, prazos de empréstimo mais longos e taxas de juro mais baixas, bem como expandir massivamente o financiamento acessível a longo prazo, e outros para eventos imprevistos. O Banco Mundial defende que os governos devedores, os credores – oficiais e privados – e as instituições financeiras multilaterais devem ser mais transparentes, melhorar as ferramentas para a sustentabilidade da dívida e criar mecanismos de reestruturação mais ágeis.

Em qualquer caso, nem os alertas nem as soluções possíveis alcançaram um consenso entre devedores e credores e, com isso, o aumento imparável das desigualdades e da pobreza.

arc/tdd/ls

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