Em causa, de acordo com um boletim semanal daquela agência intergovernamental, estão ataques ocorridos entre 8 e 25 de fevereiro sobretudo nos distritos de Chiùre e Macomia, respetivamente com 54.534 e 2626 deslocados naquele período, mas sobretudo crianças (35.295).
“Os ataques e o receio de ataques por parte de grupos armados”, descreve a OIM, verificou-se sobretudo em Ocua, Mazeze e Chiùre-Velho, no distrito de Chiùre, com os deslocados a fugirem para a vila de Chiùre (15.354) ou para Erati, na vizinha província de Nampula (33.218).
Os registos da OIM apontam para 11.901 famílias deslocadas, por barco, autocarro ou a pé, em pouco mais de duas semanas de fevereiro no sul da província de Cabo Delgado.
No mesmo boletim, a OIM refere que entre 22 de dezembro de 2023 e 25 de fevereiro de 2024, “ataques esporádicos e medo de ataques de grupos armados” em Macomia, Chiure, Mecufi, Mocímboa da Praia e Muidumbe já levaram à fuga de 15.470 famílias, num total de 71.681 pessoas.
A polícia moçambicana disse na segunda-feira à Lusa que está a “filtrar” o movimento de deslocados provocado pela nova vaga de ataques terroristas dos últimos dias, sobretudo no distrito de Chiùre, à procura de eventuais insurgentes nesses grupos.
“Estamos a trabalhar com as comunidades, tendo em conta que temos de filtrar para poder perceber se neste grupo de regressados no distrito de Chiùre se encontram lá alguns infiltrados, alguns que podem estar associados ao terrorismo”, disse o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) na província de Cabo Delgado, Aniceto Magome.
Vários ataques terroristas no sul de Cabo Delgado provocaram mortos entre a população nas últimas duas semanas em aldeias do distrito de Chiùre, levando à fuga de pelo menos 13 mil pessoas só para a vila de Chiùre, concentrados em campos de reassentamento instalados em três escolas, mas também em casas de familiares, segundo fonte da autarquia local.
“A província de Cabo Delgado, neste momento, encontra-se numa situação relativamente calma e falando concretamente do distrito de Chiùre dizer que a situação já se encontra controlada, as Forças de Defesa e Segurança encontram-se no terreno”, disse Aniceto Magome, em declarações à Lusa em Pemba, capital da província, no norte de Moçambique.
Acrescentou que as populações estão a colaborar e que há agora “uma acalmia a nível do distrito”, mas ressalvando que se trata de um momento ainda incerto.”Neste exato momento a situação já se encontra calma, mas a situação é sempre volátil. Nós temos de tomar em conta isso e não podemos baixar a guarda. Por isso é que estamos a fazer patrulhas para ver se esta situação prevalece e conseguimos controlar a movimentação do inimigo”, acrescentou.
Garantiu que as Forças de Defesa e Segurança “trabalham de forma conjunta” para tentar voltar “a transmitir o sentimento de segurança” à população.
“Não temos ocorrências especiais a nível dos outros distritos, mas vamos continuando com o nível de prontidão combativa em alta para ver se a situação prevalece nesse sentido”, acrescentou o porta-voz da PRM em Cabo Delgado.
O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou nas últimas semanas vários ataques e vítimas mortais, sobretudo no sul da província de Cabo Delgado, após um período de vários meses de acalmia.
A província enfrenta há seis anos alguns ataques reivindicados pelo EI, o que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos do gás.
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