Os dois primeiros dias de greve registaram repreensões por parte da Polícia Nacional em alguns pontos do país, enquanto a intimidação se estendeu aos delegados provinciais da Justiça, disse à Rádio Correio da Kianda o porta-voz das organizações de trabalhadores, Teixeira Cândido.
A fonte destacou ainda que o Executivo ainda não convocou as centrais sindicais para retomarem as negociações.
Na véspera, a Ordem dos Advogados de Angola (OAA) manifestou-se indignada com a detenção de alguns grevistas nas províncias do Bengo e Huambo, e exigiu a sua libertação imediata.
Os juristas recordaram que o direito à greve está consagrado nas Convenções Internacionais dos Direitos Humanos, na Constituição da República e na legislação angolana, pelo que solicitaram ao comandante-geral da Polícia Nacional, à Provedoria de Justiça e à Procuradoria-Geral da República que intervir pelos cidadãos.
“Não há nenhuma disposição na Constituição que legitime a detenção de cidadãos, criminalize sindicalistas ou grevistas, no exercício pacífico, legal e legítimo de um direito fundamental”, alertaram.
Cándido garantiu à Rádio Correio da Kianda que uma equipa de advogados está a trabalhar na defesa dos sindicalistas detidos no Huambo.
A Assembleia Nacional rejeitou esta Quinta-feira um pedido do grupo parlamentar do partido União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), que propunha um ponto de debate sobre a greve nacional, causas e consequências.
O voto de rejeição foi explicado sob o critério de não atrapalhar as negociações em curso.
O Sindicato Nacional dos Trabalhadores Angolanos – Confederação Sindical, a Central Geral dos Sindicatos Livres e Independentes de Angola e a Força Sindical exigem, entre outras questões, um aumento salarial na função pública de 250%, que concordaram em reduzir para 100%.
Também o aumento do salário mínimo nacional para 245 mil kwanzas, que caiu para 100 mil kwanzas (cerca de 120 dólares), além da diminuição da taxa do Imposto sobre o Rendimento do Trabalho.
O Governo insiste, por sua vez, que a economia nacional não tem condições de sustentar um aumento do salário mínimo dessa magnitude, que seria obrigatório para todos os empregadores.
As negociações têm sido direcionadas para uma fragmentação do aumento salarial por setores da economia e categorias empresariais (grandes, pequenas e médias); enquanto está sendo tratada uma proposta para dividir o aumento salarial até 2027, a uma taxa de 25% ao ano.
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