“Meus interlocutores, incluindo vários juízes, me assinalaram que existe um sistema de justiça para os ricos e outro para os pobres, e que as experiências dos usuários dependem de seus meios econômicos, classe social e vínculos”, afirmou em um relatório emitido depois de sua visita ao país.
Ele alertou que os primeiros se beneficiam de um sistema eficiente que permite que seus casos sejam acelerados para evitar penas de prisão, enquanto os menos afortunados ficam presos em procedimentos demorados e recebem penas mais severas. “Essa experiência diferenciada é agravada quando as dificuldades econômicas se cruzam com a discriminação, e o perfil racial impede o tratamento justo das comunidades indígenas, migrantes e afrodescendentes”, disse ele.
Satterthwaite, que passou duas semanas no Chile, reuniu-se com representantes do governo, do Congresso Nacional, juízes, promotores, advogados e organizações da sociedade civil, incluindo LGBT, afrodescendentes e pessoas com deficiência.
Para alguns grupos, os problemas são graves, como os migrantes que enfrentam a separação da família quando não podem pagar ou obter assistência jurídica.
Os povos indígenas não têm reconhecimento constitucional, enfrentam desafios em relação a suas terras e territórios e muitos não veem nenhuma maneira de fazer valer seus direitos humanos básicos por meio do sistema jurídico, diz o relatório.
O representante da ONU expressou preocupação com o fato de muitos mapuches detidos recorrerem a greves de fome e considerou que tais ações drásticas deveriam ser raras em um sistema bem desenvolvido com a capacidade de tratar todos igualmente.
Ele explicou que os problemas não se limitam aos mais vulneráveis, em uma sociedade desigual em que um por cento da população detém 49,6% da riqueza.
Pesquisas mostram que a classe média empobrecida também tem dificuldade para obter assistência jurídica, pois muitas vezes não pode arcar com os altos custos de um advogado particular.
Ao destacar o trabalho feito aqui para superar o legado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), ele expressou sua consternação com o fato de que muitos casos de tortura, execuções sumárias e desaparecimentos ainda estão pendentes.
Ela também expressou preocupação com o lento progresso nos processos de uso excessivo da força e tortura pelos Carabineros durante a agitação social de 2019, quando cerca de 30 pessoas foram mortas e milhares ficaram feridas, incluindo mais de 400 com lesões oculares.
A relatora também se referiu às recentes alegações de tráfico de influência nas nomeações para a Suprema Corte e o Gabinete do Procurador-Geral.
Ela observou a urgência de reformar o sistema de nomeações e garantir serviços acessíveis e de alta qualidade para criar maior confiança e legitimidade no sistema judicial.
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