Na publicação da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, os pesquisadores revelam que encontraram quatro registros do vírus recombinante no país, nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Até o momento, nenhuma infecção por esta variante foi registrada em outros países.
Segundo o estudo, a nova variante combina genes dos subtipos B e C do HIV, predominantes no gigante sul-americano, por isso é chamada de vírus recombinante.
“O que chama a atenção no surgimento dessas formas recombinantes é a dupla taxa de infecção. Os indivíduos estão contaminando e recontaminando”, afirma a bióloga Joana Paixão Monteiro-Cunha, coautora da pesquisa.
Ele explica que para que surjam variantes como a relatada no estudo é necessário que dois subtipos sejam encontrados no mesmo organismo hospedeiro e se reproduzam, misturando características genéticas de ambos.
Segundo Paixão Monteiro-Cunha, os vírus recombinantes podem ser únicos quando encontrados em um único indivíduo que sofreu reinfecção ou podem ser viáveis ou circulantes quando convertidos em versões transmissíveis. É o caso da nova variante descoberta, denominada CRF146_BC.
O vírus recombinante foi descoberto em 2019, durante um estudo populacional em que pesquisadores, entre eles Paixão Monteiro-Cunha, analisaram cerca de 200 amostras de pacientes infectados atendidos no Hospital das Clínicas de Salvador, capital baiana.
Depois de encontrar a variante, compararam as informações do genoma do vírus com bases de dados públicas contendo sequências genéticas do HIV.
“Tínhamos lá, nesses bancos de dados, outras três amostras que tinham exatamente a mesma estrutura dinâmica do vírus encontrado na Bahia”, lembra o estudioso.
Especifica que nenhum dos identificados é o “paciente zero” da variante, aquele infectado duas vezes por dois subtipos de HIV que se recombinaram. Todos os quatro casos já são resultado da transmissão do CRF146_BC.
Não se sabe se a variante tem maior transmissão ou virulência, ou seja, se avança mais rapidamente para a fase da doença, chamada de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids).
Para Paixão Monteiro-Cunha, os pesquisadores só tiveram acesso ao quadro clínico do primeiro caso descoberto na Bahia e o paciente estava em tratamento com antivirais, sem indicação de que o vírus recombinante seja resistente ao medicamento.
Estima-se que um milhão de pessoas vivem atualmente com HIV no Brasil.
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