Madri, 15 set (Prensa Latina) A obra de Pablo Neruda transcende o enorme legado de sua escrita, como mostrou hoje Barcelona em sua homenagem ao poeta chileno, a respeito de sua ação para salvar vidas na Espanha.
Por Fausto Triana
Na realidade, não faltam motivos para recordar Neruda neste mês de Setembro, concretamente no dia 23, quando morreu em circunstâncias estranhas em 1973, pouco depois do sangrento golpe de Estado de Augusto Pinochet.
Seu sobrinho, Rodolfo Reyes, advogado como Elisabeth Flores, viajou à capital catalã para assistir à inauguração de um grande mural no bairro onde está localizada a mítica Sagrada Família de Gaudí.
Em homenagem aos 120 anos de nascimento de Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, verdadeiro nome do autor de 20 poemas de Amor e uma Canção de Desespero, Barcelona prestou homenagem ao feito do artista que conseguiu salvar a vida de mais de 2.200 espanhóis, exilados após a Guerra Civil.
Reyes, que junto com Flores e um grupo de advogados chilenos tentam provar que Neruda foi assassinado pela ditadura de Pinochet, expressou seu entusiasmo pelo acontecimento em Barcelona.
“Em sua essência, esta foi uma homenagem de Barcelona ao Chile por Neruda ter salvado 2.200 pessoas no Winnipeg (o navio), de pessoas ameaçadas de morte em campos de concentração na França e trazido para o nosso país, incluindo numerosos intelectuais”, disse ele exclusivamente à Prensa Latina.
Explicou que no encontro no distrito de Eixample houve momentos extraordinários, com testemunhos de refugiados que tinham apenas três e quatro anos quando o Winnipeg zarpou.
Da mesma forma, Reyes aproveitou a oportunidade para relembrar o entusiasmo e as contribuições da ex-prefeita de Barcelona Ada Colau, de Fernado Marín, Eulogio Dávalos, Roc Blackblock, Mono González, que “juntamente com Elisabeth e eu, levaram à realização deste projeto”.
Num processo longo e complexo, com Neruda como cônsul em Paris e com a ajuda do embaixador em França Rodrigo Soriano, os refugiados espanhóis conseguiram atravessar a fronteira nos Pirenéus e uma vez na França, a bordo do navio SS Winnipeg, cruzaram o oceano para começar uma nova vida no Chile.
Precisamente, o mural inaugurado neste domingo se intitula Vaixell dels pobles migrats (Navio dos Povos Migrados), uma grande pintura que evoca aquele navio que cruzou o Atlântico até o porto de Valparaíso, no país sul-americano.
O artista urbano de Barcelona Roc Blackblock e o chileno Alejandro Mono González, destacado cenógrafo reconhecido por seus murais, são os autores da obra de quase 480 metros quadrados, na qual destacam a dor da perda e ao mesmo tempo a esperança do futuro.
Na parte inferior inclui uma pessoa carregando uma mala vintage, com desenho de um navio, e cheia de motivos coloridos, casas, ondas e montanhas.
O prestigiado cantor e compositor espanhol Paco Ibáñez, com notável carreira na musicação de poemas de autores latino-americanos, e Marina Rossell animaram a atividade, na qual também foram ouvidas leituras de poemas de Neruda.
Participaram do evento diplomatas da embaixada do Chile na Espanha e autoridades de Barcelona.
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