Nunca ocupei um lugar sem ter certeza de que estava qualificada para a tarefa que me foi confiada; sem medo ou pressão, disse a ex-chefe de Estado em uma carta aberta publicada em seu perfil no site de rede social X.
Estou disposta, mais uma vez, a aceitar o desafio de debater em unidade. Precisamos de um rumo e de um projeto para construir o melhor peronismo possível numa Argentina que se tornou impossível para a maioria dos seus habitantes”, acrescentou.
A deputada sublinhou ainda a necessidade de conceber o PJ “como o instrumento que deve dar o primeiro passo para reagrupar todas as forças políticas e sociais em torno de um programa de governo que devolva a esperança e o orgulho de ser argentino” a esta nação, mergulhada na crueldade e no ódio dos tolos.
Fernández salientou que nunca tinha visto, na Argentina contemporânea e democrática, que o país em geral e o peronismo em particular tivessem vivido um momento como o atual.
Indicou também que o presidente Javier Milei “não só grita e insulta do palco de forma cada vez mais agressiva, violenta e vulgar todos os que exprimem uma opinião diferente da sua, como também ataca reformados, universidades e até hospitais psiquiátricos”.
A figura do Presidente da Nação a gritar e a insultar gera um clima de violência generalizada. Tudo isto enquanto o feroz programa de ajustamento desestabiliza uma sociedade que continua a ser atingida por tarifas impagáveis e salários insuficientes (…). Há uma espécie de estranha e perigosa ‘liderança’ do caos e da destruição, da qual nada de bom pode sair”, afirmou.
Na carta, a ex-presidente faz uma retrospetiva da história do peronismo, com especial destaque para o período 2001-2015, que inclui o mandato de Néstor Kirchner (2003-2007) e os dois mandatos que exerceu (2007-2011 e 2011-2015).
Como caraterísticas deste período, enumerou o alívio da dívida estrutural, o pagamento do Fundo Monetário Internacional, a mobilidade social ascendente, a criação de universidades, o desenvolvimento científico e tecnológico, a recuperação do património nacional e o aumento do orçamento da educação, entre outros.
Fernández recordou que o peronismo governa atualmente apenas cinco das 23 províncias argentinas, mas “continua a ser a força com o maior número de deputados e senadores nacionais e isso exige, por compreensão histórica e responsabilidade política, a sua própria reconstrução, respondendo às novas exigências sociais”.
É claro que é necessário endireitar o que foi distorcido e pôr em ordem o que foi desordenado. Isto levanta a necessidade de criar um espaço de discussão e participação que não existe atualmente e que a sua ausência só gera confusão e vazio.
Não tenho dúvidas de que, nesta fase, o partido é o local mais apropriado para desenvolver o continente que gera o conteúdo e que este, além disso, tem direção e objectivos”, disse.
Reconheço que o desafio é grande e que os quadros do partido não são suficientes; mas também tenho grandes esperanças (…) Temos de incorporar as novas gerações nas escolas secundárias, nas universidades, nos sindicatos e nos movimentos sociais e, a partir daí, reconstruir a nossa presença nos bairros populares, juntamente com as igrejas, as sociedades de desenvolvimento, os clubes de bairro e todas as instituições organizadas pela comunidade”, afirmou.
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