La Paz, 16 out (Prensa Latina) A agenda dos Estados Unidos contra a Bolívia e seus recursos naturais continua vigente, disse hoje em uma entrevista exclusiva à Prensa Latina o filósofo Rafael Bautista Segales, autor de 18 livros sobre descolonização e geopolítica.
Por Jorge Petinaud Martínez
Correspondente-chefe na Bolívia
Segales foi diretor nacional de Geopolítica do Bem Viver e Política Exterior da Vice-Presidência do Estado Plurinacional e promotor do prestigioso Workshop de Descolonização e da Comunidade de Pensamento Aeronáutico.
“Embora essa questão esteja ausente na mídia boliviana e até mesmo no debate entre os políticos, essa agenda é funcional aos interesses imperiais”, disse ele a essa agência de notícias.
O intelectual advertiu que isso não se deve ao fato de receberem dinheiro, mas porque na verdade coincide com o que ele considera ser um bloco de recrutamento ideológico que sempre foi vinculado pela direita em torno dos comunicadores.
Eles foram formatados nesse tipo de esquema”, enfatizou o acadêmico, ‘é graficamente o que sustenta as mitologias que nem sequer nos são vendidas, mas impostas a nós’.
Ele listou a “democrática” entre elas e alertou que toda a mídia, incluindo a mídia pró-governo dos governos latino-americanos, mesmo os da Venezuela atacados pelos Estados Unidos, caem nessa retórica imposta pelos Estados Unidos.
“Ao ouvi-los e lê-los, você pensaria que eles estão se desculpando por se distanciarem um pouco dessa retórica”, lamentou.
Segales enfatizou que esse é basicamente um dos segredos da dominação, naturalizado de tal forma que o próprio idioma expressa esse controle, mas de maneira tão sofisticada que não é percebido.
Com relação à Bolívia, ele disse que o fato de não haver cobertura da mídia sobre a tentativa de golpe ocorrida em 26 de junho deste ano, e o que está por trás disso, mostra que a mídia só torna visível o que é aparente, o cenário, os atores.
“O como, o quando, o onde, e assim por diante…, mas nunca fazem a pergunta sobre quem tem o poder supremo de instrumentalizar qualquer tipo de ruptura na ordem constitucional para fazer surgir um golpe com um disfarce democrático”, destacou.
Ele lembrou que isso foi o que aconteceu na Bolívia em 2019, quando muitos acreditaram na retórica de fraude do Movimento para o Socialismo, a mesma coisa que eles queriam impor na Venezuela este ano.”
“Essa é uma das questões que temos que aprender, e não é recente, é da época do governo de Salvador Allende (1970-1973), quando já vimos um laboratório, um esquema de como os movimentos populares podem implodir por dentro”, evocou, insistindo na necessidade de aprender a lutar na frente da mídia.
“Infelizmente, nossos governos populares acreditam que temos de responder nos mesmos termos à mídia de direita, e é aí que perdemos”, disse ele.
Na realidade, o que precisamos fazer é moldar o pensamento crítico nesses setores da mídia”, alertou Segales, ‘para garantir que essas informações não sejam meramente informativas, mas que se tornem uma formação ideológica’.
Ele lamentou que, na época da ascensão dos chamados governos progressistas na América Latina e no Caribe, muitos líderes não deram ouvidos a Hugo Chávez e Fidel Castro, que tinham clareza geopolítica.
“Não estamos no mundo do século XX, estamos em um mundo que precisa de novos conceitos e novas categorias que não são mais nem mesmo as do marxismo dos séculos XIX e XX”, disse o filósofo.
Ele insistiu que o socialismo do século XXI precisa entender que também existe o capitalismo do século XXI, que não dormiu e, portanto, agora enfrenta um império decadente em um estágio pós-imperial, muito mais perigoso, mais insensato, mais irracional e que não deixará a América do Sul escapar.
“Eles consideram o arco sul-americano como seu quintal e o Caribe como seu cassino, portanto a saída não é mais unilateral, mas regional, não há outra opção”, concluiu Segales.
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