La Paz, 23 mar (Prensa Latina) A artista plástica Alexandra Bravo defendeu hoje os direitos humanos dos migrantes no Festival Internacional de Artes 2025 em Santa Rosa de Cuevo, na remota região do Chaco oriental boliviano.
Por Jorge Petinaud Martínez
Correspondente-chefe da Bolívia
Reconhecida como a principal figura da arte plumária na Bolívia, Bravo representou com sucesso seu país na Bienal de Arte de Veneza, Itália (abril-novembro de 2024), com a exposição Nadie es ilegal en nuestro planeta (Ninguém é ilegal em nosso planeta).
“Agora sinto a necessidade de aprofundar essa questão por meio da arte, dadas as ações arbitrárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com seres humanos de nosso continente”, disse em entrevista concedida pela internet à Prensa Latina.
Ele acrescentou que, assim como defende a proteção da biodiversidade e do meio ambiente e, por isso, trabalha com penas de aves, se opõe a muros, cercas de arame farpado, bloqueios e manipulação de vistos, instrumentos usados para dividir o que ele chamou de Abya Yala (Pátria Grande).
“Também sou contra conflitos territoriais e ameaças a países da América Latina e do Caribe, como está acontecendo agora com o México, Panamá, Venezuela, ou com a imposição de uma cerca entre povos irmãos como Argentina e Bolívia”, disse ele a essa agência de notícias.
Ela comentou que por esse último motivo, e por ocasião do Bicentenário de sua terra natal (6 de agosto), criou uma coleção de trajes feitos de penas que apresentará em uma passarela neste domingo em homenagem a Juana Azurduy, heroína das forças de independência da Argentina e da Bolívia.
As cores da nossa bandeira se destacarão na passarela”, disse ele, ‘o mar, ao qual nunca renunciaremos, e um uniforme no qual uma modelo representará Azurduy; ela foi promovida a tenente-coronel em 1816 pelo general argentino Manuel Belgrano e, em novembro de 1825, foi visitada em Chuquisaca pelo libertador Simón Bolívar, que considerou uma honra conhecê-la’.
Bravo explicou que a questão dos migrantes a toca profundamente, pois durante a ditadura de Hugo Bánzer, no início da década de 1970, sua família foi desintegrada pela perseguição política e só conseguiu se reunir no Chile de Salvador Allende.
Lá, pôde continuar seus estudos de arte sob a tutela do artista Oswaldo Guayasamín, entre outros, até 1973, quando conseguiram escapar da repressão das forças golpistas do General Augusto Pinochet e chegaram como refugiados políticos à Suíça, onde aperfeiçoou seus conhecimentos em artes visuais e estudou psicologia.
“Durante os mais de 40 anos em que vivi na Europa, de 1973 a 2016, pude visitar 30 países porque naquele continente havia muitas facilidades para viajar, especialmente para os jovens”, lembrou Bravo.
Ele criticou que agora, infelizmente, o Espaço Schengen também estabelece muitas barreiras, e do Sul Global é muito difícil viajar, conhecer o mundo, estudar e pesquisar, elemento fundamental para o desenvolvimento econômico e cultural nessa idade.
“Cortam nossa liberdade, apesar de ninguém ser ilegal em nosso planeta, como expressei em Veneza com a exposição que apresentei, e em particular o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se destaca por cortar esse direito humano”, reiterou o artista.
Referindo-se ao festival multidisciplinar de Santa Rosa de Cuevo, do qual participa junto com outros 100 artistas de nove países sob a direção artística do italiano Mimmo Roselli, ela comentou que ele funde simplicidade e conceitualismo.
Acrescentou que, desde o dia 16 deste mês, vem trabalhando em oficinas com crianças, jovens e mulheres, que estão desenvolvendo projetos de arte plumária, que serão exibidos em um espaço especial de 27 a 30 deste mês, durante as exposições artísticas do próprio festival.
“O tema da migração indocumentada foi pesquisado como psicoterapeuta na Suíça, onde trabalhei com a migração boliviana, e agora esse conhecimento é a base do conceito que vou expor em Santa Rosa de Cuevo”, concluiu a artista.
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