Ao pé da escada do avião, o Brigadeiro General Samuel Rodiles, chefe da missão militar cubana no país africano, fez o relatório sobre o regresso completo de todas as forças, cinco semanas antes da data acordada na Declaração Conjunta com o Governo angolano ( 1 de julho de 1991).
Culminou assim a ajuda prestada pela nação caribenha perante as ameaças à independência daquele povo, e pela qual durante mais de 15 anos cerca de 300.000 cubanos percorreram milhares de quilómetros para lutar ao lado dos angolanos, na chamada Operação Carlota.
Em 4 de novembro de 1975, teve início o deslocamento de tropas da ilha, atendendo a solicitação do Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostino Neto.
Cuba cumpria assim ‘um dever internacionalista elementar’, explicou Fidel Castro em 22 de dezembro de 1975, durante o encerramento do primeiro congresso do Partido Comunista do país caribenho.
‘Simplesmente aplicamos uma política de princípios. Não ficamos parados quando vemos um povo africano, nosso irmão, que de repente quer ser devorado pelos imperialistas e é brutalmente atacado pela África do Sul’, disse ele na ocasião.
A decisiva participação antilhana em conjunto com as inexperientes Forças Armadas de Libertação de Angola (Fapla), permitiu inclinar a balança e derrotar a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) e o exército sul-africano.
Os triunfos militares de Cuito Cuanavale, Quifangondo, Cabinda, Ebo e o heroísmo do Sumbe e Cangamba abriram caminho, a par de acções diplomáticas, para que a 22 de Dezembro de 1988, Cuba, Angola e África do Sul assinassem um acordo que mudou a história. do chamado continente negro.
O acordo não só estabeleceu a segurança de Angola e a paz entre os países do Sudoeste Africano, mas também garantiu a independência da Namíbia.
O líder sul-africano Nelson Mandela atribuiria outro significado a esse triunfo: o de se tornar o ponto de inflexão definitivo para completar a libertação do continente, incluindo a derrota do regime do apartheid.
‘O povo cubano ocupa um lugar especial no seio dos povos da África. Os internacionalistas cubanos deram uma contribuição à independência, liberdade e justiça na África que não tem paralelo nos princípios e desinteresse que a caracterizam’, disse. para a nação caribenha em 1991.
Cuba havia prometido que de Angola só levaria a amizade íntima, a gratidão do povo e os restos mortais de seus ‘queridos irmãos caídos no cumprimento do dever’, como afirmou o General do Exército Raúl Castro, então Ministro da Defesa, em Dezembro de 1976. Forças Armadas Revolucionárias.
E assim foi. Os corpos de dois mil 85 combatentes que deram suas vidas nessa luta, junto com outros 204 que morreram no cumprimento de tarefas civis, foram as únicas coisas que as tropas caribenhas trouxeram de terras africanas.
Os cubanos não aspiravam a nada material, como defendia Fidel Castro em 1975: ‘Alguns imperialistas perguntam-se porque é que ajudamos os angolanos, que interesses temos aí. (…) Não! Não perseguimos nenhum interesse (…)’.
Três décadas depois, amizade e liberdade surgem como os verdadeiros triunfos desse épico.
‘Aquelas missões realizadas conjuntamente no mesmo posto de combate – frisou o general Samuel Rodiles – onde, juntos, angolanos e cubanos morreram lado a lado, aquele vínculo de amizade nunca poderá dizer adeus’.
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