No dia 27 de agosto, o STF adiou a análise para esta quarta-feira após a leitura do relatório sobre a ação, um dos casos mais importantes deste segundo semestre.
O tribunal superior apreciará uma ação de recuperação de terras movida pelo governo do estado de Santa Catarina, no sul, contra o povo Xokleng.
O pedido se refere às terras indígenas Ibirama-Laklãno, onde vivem os povos Guarani e Kaingang. Desde 2017, o Estado invoca a tese do marco temporal para reclamar o território.
Segundo essa interpretação, a posse da terra só é garantida àqueles que demonstrarem estar no local na data da promulgação da Constituição Federal, 5 de outubro de 1988. Na prática, isso limita o reconhecimento.
Em 2019, o STF deu status de ‘repercussão geral ‘ ao processo, o que significa que a decisão tomada no caso servirá de diretriz para a direção federal e todas as instâncias da justiça no que diz respeito aos procedimentos de demarcação.
A Defensoria Pública da União (DPU) julgou contra esse marco e considera que o critério é inconstitucional e arbitrário.
Segundo o DPU, a tese não leva em consideração o processo histórico de apropriação e violência sofrido pelos indígenas.
Isso se deve ao fato de que muitas comunidades foram forçadas a se mudar de seus territórios e não os ocuparam em 1988.
O presidente Jair Bolsonaro defende esse marco, alegando que muito poucos indígenas vivem em um lote de terra, o que bloqueia a expansão agrícola.
A determinação do Supremo Tribunal Federal, que pode necessitar de mais de uma audiência, abrirá um precedente legal em um momento em que o ex-militar governante e o agronegócio promovem mudanças legislativas nas áreas protegidas.
Os indígenas que permanecem acampados no centro de Brasília desde 22 de agosto decidiram continuar se mobilizando para acompanhar o histórico julgamento do STF.
Os indígenas, que fazem parte do acampamento Luta pela Vida, ocupam a área do Complexo Cultural Funarte, localizado entre a Torre de Televisão e o Centro de Convenções.
Na sexta-feira, os indígenas marcharam pela Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes e atearam fogo a um caixão em frente ao Palácio do Planalto (sede do Poder Executivo).
Um fracasso no tribunal implicaria em um retrocesso para os direitos dos povos indígenas no Brasil.
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