É o que acreditam cubanos de várias gerações, marcadas por aquelas três palavras que ressoaram em 6 de outubro de 1976 na cabine do vôo 455 da Cubana de Aviación que decolou de Barbados para a Jamaica.
‘Pegue água, Felo!’ Foi o apelo angustiante quando o piloto Wilfredo Pérez tentou em vão manter o DC-8 em vôo, ferido mortalmente por duas explosões causadas por mãos de mercenários.
Temos uma explosão a bordo, estamos descendo imediatamente! Temos fogo a bordo! Solicitamos aterrissar imediatamente!, gritou o capitão Pérez à torre do aeroporto de Barbados em Seawell, de onde não pôde retornar.
73 pessoas morreram, todos os que estavam a bordo: cubanos, guianenses e coreanos. Mas o de Barbados, hoje há 45 anos, não foi o mais mortal dos ataques criminosos contra a Cuba revolucionária.
PRIMEIRAS AÇÕES TERRORISTAS
Uma das primeiras ações terroristas do governo dos Estados Unidos teve um caráter monstruoso. Agentes da Agência Central de Inteligência (CIA) sabotaram o navio francês La Coubre, que transportava armas e munições compradas pelo governo revolucionário.
Duas explosões que desencadearam o caos e a morte no porto de Havana. A segunda das detonações ocorreu quando dezenas de pessoas vieram resgatar as vítimas da primeira explosão. Aconteceu em 4 de março de 1960.
101 pessoas morreram naquele dia, incluindo seis marinheiros franceses. Centenas de outros ficaram feridos.
Naquela época, o terrorismo fazia parte da política dos Estados Unidos. O objetivo era subjugar o povo cubano, protagonista da Revolução que triunfou em 1ú de janeiro de 1959 sob a liderança do líder Fidel Castro, que sobreviveu a centenas de planos de ataque.
O Senado dos Estados Unidos investigou e verificou pelo menos oito dessas conspirações, que segundo a Segurança do Estado Cubano totalizaram mais de 600 em pelo menos 40 anos.
MODALIDADES PRINCIPAIS
As principais modalidades da guerra terrorista contra Cuba foram a sabotagem ou destruição de alvos civis; ataques piratas contra instalações costeiras, navios mercantes e embarcações de pesca; ataques contra instalações cubanas e pessoal no exterior, incluindo sedes diplomáticas, escritórios de aviação e aeronaves.
Para tanto, as autoridades norte-americanas, velada ou publicamente, financiaram a constante instigação por meio de emissoras de rádio e televisão para a execução de atos dessa natureza, inclusive as formas de praticá-los contra centros de produção e serviços.
Cuba também foi alvo do terrorismo biológico que teve no colimador safras e inclusive a população. Foi o caso da epidemia hemorrágica de dengue que entrou na ilha em 1981 com um saldo de 158 mortes, incluindo 101 crianças.
O modus operandi foi aprovado em 17 de março de 1960 pelo presidente Dwight D. Eisenhower (1953-1961), que deu luz verde a um programa de ação encoberta contra Cuba, então secreto, e cujo documento, já desclassificado, especificava:
‘O método para alcançar este fim consistirá em incitar, apoiar e, na medida do possível, dirigir a ação, dentro e fora de Cuba, de grupos seletos de cubanos que possam cumprir qualquer missão por sua própria iniciativa’.
Esses ‘grupos seletos’ foram os que incendiaram a El Encanto, a maior loja de departamentos do país, em 13 de abril de 1961, e onde morreu um de seus funcionários.
Em 30 de novembro daquele ano, o presidente John F. Kennedy (1961-1963) aprovou o chamado ‘Projeto Cuba’. Nos 14 meses seguintes, a ilha caribenha sofreu 5.780 ações terroristas, incluindo 716 sabotagens contra instalações industriais.
A CIA desempenhou um papel de destaque nessas tarefas, ensinando Orlando Bosch e Luis Posada Carriles, os principais perpetradores do crime em Barbados, a plantar bombas. Eles viveram até o último dia em Miami e não pagaram por seus crimes.
Posada chegou a liderar a onda de ataques explosivos que afetaram as instalações turísticas de Cuba em 1997. Esses ataques, que causaram a morte do jovem italiano Fabio Di Celmo, foram ordenados e pagos pela Fundação Nacional Cubano-Americana de Miami.
Em 1999, a justiça cubana considerou o governo dos Estados Unidos culpado pela morte de 3.478 cidadãos e pelos ferimentos que incapacitaram outros 2.199. Todos foram vítimas de atos terroristas.
PARADOXO INACEITÁVEL
É um grande paradoxo que hoje Washington tenha Cuba na lista de países que a Casa Branca acusa de promover o terrorismo. Foi uma decisão nos estertores do governo Donald Trump (2017-janeiro de 2021) que o presidente Joe Biden mantém sem restrições.
‘O governo dos Estados Unidos cria esta iniciativa de listagem, dá a ela conteúdo e escopo, ao mesmo tempo é o escrutinador das ações de outros Estados, empresas e entidades. Eles também decidem se algum deles se qualifica para inclusão na lista, e como se isso não bastasse, ele é o sancionador ‘.
Assim opinou a jurista Desiree Llaguno, professora assistente de Direito Internacional Público da Universidade de Havana, em entrevista à Prensa Latina. É precisamente a aplicação das sanções que é o objetivo das listas, sublinhou.
Não é por acaso que inúmeras empresas cubanas estão na lista obscura com as quais os Estados Unidos pretendem sufocar a economia da ilha caribenha, seja cortando remessas, proibindo transações e processando embarques de combustível, entre outras modalidades.
O turismo não escapa disso, que até o flagelo da pandemia Covid-19 representava uma das maiores e mais rápidas fontes de renda de Cuba. Centenas de hotéis e instalações turísticas foram atingidas por Washington.
Há também um número crescente de cubanos ‘especialmente designados’ (SDN, por sua sigla em inglês), funcionários do governo e altos funcionários das Forças Armadas Revolucionárias e do Ministério do Interior aos quais o governo dos Estados Unidos impôs sanções unilateralmente.
Resulta, mais uma vez, a combinação do terrorismo com a política que os Estados Unidos aplicam contra o vizinho país caribenho e que sustenta o mais longo bloqueio econômico, financeiro e comercial da história.
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