21 de November de 2024
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Honduras tem uma solução para a crise migratória?

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Honduras tem uma solução para a crise migratória?

Danay Galletti Hernández*

A migração como fenômeno social começou há várias décadas em Honduras devido, entre outros fatores, à desigualdade, à pobreza e à busca de melhores condições econômicas fora do território nacional.

Além disso, nos últimos anos, as caravanas surgiram como a forma mais comum de chegar aos Estados Unidos, segundo Ricardo Salgado, matemático, pesquisador social, cientista político e assessor da Coordenação Geral do partido Libertad y Refundación (Libre), que conversou com a Prensa Latina.

Ele também disse que desde o golpe de Estado contra o presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya (2006-2009), o país tem experimentado a aplicação de medidas neoliberais rudimentares por parte das diferentes administrações do Partido Nacional.

“Eles foram basicamente impostos por meio do uso da força, do engano e da fraude. O resultado? A expansão da pobreza para 70 por cento da sociedade e da miséria para quatro em cada dez hondurenhos. O desemprego real ultrapassa os 50% e os acordos de livre comércio deprimiram a produção agrícola”, disse ele quando perguntado sobre esta questão urgente.

Segundo o especialista, Honduras importa quase 90% dos alimentos que necessita, daí o aumento dos conflitos no campo, as vantagens e impunidade concedidas aos capitalistas do agronegócio, e a extrema repressão das forças militares e paramilitares presentes neste ambiente rural.

NÚMEROS DA CRISE SOCIAL

O Observatório das Migrações Internacionais de Honduras contou mais de uma dúzia de caravanas desde outubro de 2018 – data de partida do primeiro grupo maciço da cidade de San Pedro Sula – até o final de 2021, e considerou este país como o país centro-americano cuja população mais migra.

Um estudo publicado pelo espaço acadêmico da Universidade Nacional Autônoma afirmou que a relocalização internacional começou especialmente no final do século 20, associada ao impacto do Furacão Mitch em 1998. Em 1990, cerca de 156.000 hondurenhos, três por cento da população, viviam fora do país.

A pesquisa mostrou que, no início de 2000, o número de emigrantes ultrapassava 340.000, e de 2019 a 2020, mais de um milhão de hondurenhos, 9% da população, viviam em outras partes do mundo, principalmente nos Estados Unidos e na Espanha.

A mídia local noticiou, em 15 de janeiro, a saída da primeira caravana de migrantes de 2022 com centenas de pessoas, hondurenhos e de outras nacionalidades latino-americanas, da Gran Central Metropolitana de San Pedro Sula, no departamento de Cortés.

O sociólogo Eugenio Sosa resumiu as causas deste fenômeno para a Prensa Latina em três áreas principais:

– A primeira se refere à crise social e suas consequências diretas: pobreza, precariedade, falta de renda e desemprego.

– O segundo inclui os diferentes tipos de violência: homicídios, crime comum, perseguição política de defensores dos direitos humanos e comunidades, deslocamento devido ao extrativismo e ao crime organizado.

– A terceira está associada a problemas de democracia e ineficiência institucional devido à corrupção e impunidade, o que gera desesperança e o sentimento de que “as coisas não podem mudar no país”.

Sosa advertiu que, paralelamente ao aumento na busca de uma saída, os hondurenhos também enfrentam deportação e prisões nos diversos pontos de fronteira, e apontou que uma das peculiaridades são as mudanças na demografia migratória com a incorporação massiva de adolescentes, crianças e famílias.

O FENÔMENO: ELE TEM FREIOS?

Salgado advertiu que limitar ou deter o problema da migração é essencial para a refundação do país.

“De fato”, disse ele, “as remessas familiares são agora uma das três maiores fontes de divisas estrangeiras no país, mas, paradoxalmente, o aumento da migração causa mais desemprego, um dos gatilhos.

Em sua opinião, o novo governo chefiado pela primeira mulher presidente de Honduras, Xiomara Castro de Libre, tem esta crise como um de seus desafios.

“Como enfrentá-la?”, disse ele, “criando empregos, reativando a atividade agrícola e prestando atenção às áreas urbanas e rurais empobrecidas”.

A origem é fundamentalmente social e econômica, Gilberto Ríos, um dos líderes da Libre, disse à Prensa Latina, “portanto, se voltarmos a um executivo preocupado com as necessidades dos cidadãos, crescimento financeiro e investimento em educação, saúde e segurança, é possível colocar um freio na situação”.

Ele lembrou que, durante a campanha eleitoral, Castro prometeu inclusive criar condições para o retorno dos migrantes, forçados a partir nos últimos anos como resultado das condições de miséria, da concentração da riqueza nas mãos de poucos, da escassez de oportunidades e da depressão econômica.

A verdade, Salgado salientou, é que nem a política coercitiva promovida pelo governo estadunidense do republicano Donald Trump (2017-2021), nem o posicionamento das forças de segurança guatemaltecas e da Guarda Nacional Mexicana nos pontos de fronteira e a pandemia de Covid-19 conseguiram deter a marcha dos caravanistas.

“Toda essa violência não serviu para mudar a paisagem. Entretanto, agora é hora de dar ao povo a opção de recuperar a dignidade roubada pelo grande capital. As propostas de Castro sempre foram para combater as causas que forçam os hondurenhos a fugirem do país”, argumentou ele.

Nos últimos quatro anos, a migração vem experimentando uma nova forma de migração na forma de caravanas, lembrou o especialista Eduardo Sosa, que considera esta a forma de migração mais generalizada, visível e aberta, e a que atinge mais duramente os governos politicamente, porque este êxodo destaca sua má gestão.

Ele também reconheceu que a questão é abordada de forma extremamente fragmentada, pois “é um problema transnacional e cada país o enfrenta diretamente com Washington, com uma agenda insuficiente e poucos recursos”.

Portanto, disse ele, a primeira prioridade é que os estados mesoamericanos enfrentem o problema por meio da aplicação de políticas regionais.

MULHERES: FACES DA MIGRAÇÃO

A situação atual da grande maioria das mulheres em Honduras é desastrosa, como resultado de 12 anos de uma administração de direita que promoveu o tráfico de drogas, instalada após o golpe de Estado de 2009, disse Katia Cooper, membro do movimento feminista socialista, à Prensa Latina.

Para a ativista, as consequências mais visíveis dos governos nacionalistas são o aumento da pobreza, da violência, da precariedade e da desigualdade, uma das mais altas da região, já que, segundo dados do Banco Mundial, em 2019, 15% da população vivia com menos de 1,90 dólares por dia.

O relatório, que não inclui o impacto da pandemia de Covid-19 e as consequências negativas da passagem dos furacões Eta e Iota em 2020, também mostrou que, no mesmo período, 4,8 milhões de pessoas sobreviveram com menos de 5,50 dólares por dia, a segunda maior taxa de pobreza da região depois do Haiti.

Esta situação, reconheceu Cooper, afeta mais as mulheres pobres, as mães solteiras e os trabalhadoras do campo e da cidade, que também sofrem com os comportamentos sociais de um sistema capitalista, conservador, religioso e patriarcal, a corrupção estatal, a impunidade e a violência baseada no gênero.

“Acrescente-se a isto o medo constante de ser vítima de feminicídio, relacionado a atividades ou comportamentos criminosos dentro de casa. A situação geralmente afeta mulheres com recursos limitados, baixa escolaridade e, portanto, dependentes dos homens por seus laços emocionais e econômicos”, disse ela.

Em sua opinião, o plano de trabalho de Castro deveria focalizar a reestruturação do judiciário, o aumento das oportunidades de geração de renda e das fontes de emprego, a abertura e extensão de programas de saúde preventiva e reprodutiva e de orientação sexual.

rmh/dgh/vmc

*Enviada especial da Prensa Latina para a Nicarágua

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