Por Germán Ferrás Álvarez
Correspondente-chefe na Rússia
Na madrugada de 8 de dezembro de 1991, os presidentes das Repúblicas Soviéticas da Rússia (Boris Yeltsin), Ucrânia (Leonid Kravchuk) e Belarus (Stanislav Shushkévich) reuniram-se em segredo para assinar o chamado Tratado de Belavezha, pelo qual dissolveram o União Soviética.
Com a assinatura de três dos presidentes das 15 repúblicas que compunham a URSS, eles também deram lugar a uma união voluntária conhecida como Comunidade de Estados Independentes (CEI).
Esses Acordos de Belovezha, que foram assinados na mansão do governo bielorrusso em Viskuli, enterraram a história de 69 anos de governo da União Soviética com um golpe de caneta.
Conforme relatado na época, o presidente do Cazaquistão, Nursultán Nazabayev, também foi convidado para este pacto, mas no último minuto ele se recusou a voar para Viskuli.
Os signatários já haviam decidido destruir a URSS no dia anterior em um jantar, mas não sabiam que a poucos metros deles estava um esquadrão especial da Segurança do Estado de Belarus, que aguardava a ordem de prisão dos reunidos, que eles nunca receberam de Moscou.
Significativamente, a primeira pessoa a ser informada da notícia foi o presidente dos Estados Unidos, George Bush, que foi chamado por Yeltsin, enquanto Shushkévich, encarregado de comunicá-la a Mikhail Gorbachev, alegou que não pode se comunicar com o líder soviético naquela noite.
UMA DECISÃO CONTRA A VONTADE DE UMA NAÇÃO INTEIRA
Com a perestroika e a glasnost promovidas por Gorbachev, o sistema político e social da União quebrou, correntes nacionalistas surgiram com força e em todos os centros regionais de poder surgiu a ideia de mudar a estrutura do que até então era a URSS.
Durante o ano de 1991, o mundo inteiro especulou sobre como os novos Estados que ainda precisavam uns dos outros iriam se organizar, especialmente em termos econômicos. O próprio Gorbachev já tinha uma ideia disso, e por isso em 17 de março daquele ano convocou um plebiscito sobre a continuidade ou não da União Soviética.
Um total de 148 milhões de soviéticos, dos 185 com direito a voto, se pronunciaram a favor da manutenção da união como uma federação renovada de Estados soberanos. O “sim” venceu com 76% e Gorbachev, que aceitava o multipartidarismo e defendia um novo Acordo Sindical perante o primeiro Parlamento eleito democraticamente, acreditava que sua ideia iria adiante.
Mas isso não aconteceu assim, e junto com as concepções nacionalistas, o interesse pessoal dos líderes das várias repúblicas cresceu em cascata.
As declarações de independência vieram uma após a outra, mesmo em pequenas repúblicas, embora o toque final tenha sido dado pela proclamação da Ucrânia como país independente. Daí para a reunião de 8 de dezembro foi apenas um passo.
GOLPE FINAL
No dia 21 de dezembro, 13 dias após o Tratado de Belavezha, em reunião na antiga capital do Cazaquistão soviético, os presidentes de 11 das 15 repúblicas da União Soviética – exceto a Geórgia e os três estados bálticos: Lituânia, Letônia e Estônia – , ratificaram a criação da CEI por meio da assinatura do Protocolo de Almá-Atá.
Diante desses fatos, e incapaz de lidar com os acontecimentos, Gorbachev renunciou ao cargo e a União Soviética deixou formalmente de existir em 25 de dezembro de 1991.
O Soviete Supremo reconheceu a extinção da União no dia seguinte; A Rússia assumiu os compromissos e a representação internacional do Estado desaparecido e foi reconhecida como país sucessor da União Soviética no direito internacional.
A dissolução da União Soviética resultou em uma das perdas territoriais mais repentinas e dramáticas de qualquer estado na história. Em apenas dois anos, o imenso país perdeu quase um terço de seu território e quase metade de sua população.
Anos depois desses eventos, o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin, expressou sobre a queda da União Soviética que “foi a maior catástrofe geopolítica do século XX”.
Com sua queda, as economias dos cidadãos foram aniquiladas e os velhos ideais destruídos, declarou o presidente.
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