23 de November de 2024
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16 a 20 de janeiro: Davos em busca de uma bússola

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16 a 20 de janeiro: Davos em busca de uma bússola

Berna, 22 jan (Prensa Latina) De 16 a 20 de janeiro, o Fórum Econômico de Davos voltou a se reunir naquela cidade suíça sob o lema "Cooperação em um mundo fragmentado". Mais de 2.500 participantes, incluindo cinqüenta chefes de estado ou de governo, compareceram a este resort de inverno nos Alpes. Ao contrário das edições anteriores, com exceção do chanceler alemão Olaf Scholz, nenhum líder de uma grande potência confirmou sua viagem.

Sergio Ferrari*, colaborador de Prensa Latina

Como é de praxe, chegam representantes do mundo dos negócios, da política, da ciência e da cultura. Segundo as autoridades suíças, entre 200 e 300 deles são protegidos pelo direito internacional (por exemplo, chefes de estado e de governo, ministros ou altos representantes de organizações internacionais), o que exige maior segurança.

O mecanismo de segurança do Fórum de Davos (World Economic Forum, WEF, na sigla em inglês) custará cerca de 9.700.000 dólares, dos quais um terço é financiado por ela mesma e o restante por autoridades federais, cantonais e municipais, quer dizer, pelos contribuintes suíços. Fator sublinhado nas repetidas críticas da mídia nacional que questionam essa excessiva participação do Estado em uma convocação de caráter privado.

Mundo em crise

Como apontam os organizadores do Fórum, o mundo vive uma crise exaustiva. E acrescentam que as consequências da pandemia de Covid-19 e a inesperada guerra Rússia-Ucrânia aumentam a incerteza planetária e produzem uma queda acentuada do crescimento e um aumento significativo da inflação. Isso requer buscar soluções coletivas e ousadas.

A 53ª edição do Fórum de Davos será estruturada em torno de cinco eixos temáticos: as crises energéticas e alimentares; a economia em um período de alta inflação, baixo crescimento e alto endividamento; obstáculos da indústria; vulnerabilidade social no contexto de um novo sistema de trabalho, bem como riscos geopolíticos no contexto de um novo sistema mundial multipolar.

A plataforma digital suíça swissinfo.ch encabeça uma análise publicada na segunda sexta-feira de janeiro “O Fórum Econômico Mundial, sob o signo da agitação social” e enfatiza que “a ameaça de uma potencial agitação social testará a temperança das elites políticas e dos negócios” que se reúnem em Davos no alvorecer de um “2023 imprevisível e perturbador”.

A análise insiste que “a subida dos preços dos combustíveis e dos alimentos provocou protestos e greves em todo o mundo no ano passado”, e recorda a opinião de muitos economistas que prevêem mais sofrimento e pressão sobre as famílias, sobretudo as mais modestas, nos próximos meses.

Estudos recentes do Fundo Monetário Internacional e de outras organizações multinacionais reduzem as expectativas de crescimento para 2023 para 2,7% e antecipam que a economia global vai desacelerar mais do que o esperado. Os países ricos não ultrapassarão, com exceções como o Japão, um por cento de crescimento (os Estados Unidos um por cento; a zona do euro 0,5 por cento), enquanto nas nações periféricas (países em desenvolvimento) uma média de 3,7 por cento.

Segundo o Banco Mundial, os países latino-americanos crescerão apenas entre 0,9% no México, 0,8% no Brasil, 2% na Argentina, com excepcionais 5,2% no Paraguai.

Por sua vez, a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) em seu relatório Panorama Social 2022, publicado em novembro do ano passado, considera que 201 milhões de pessoas (32,1% da população total da região) vivem em situação de pobreza, dos quais 82 milhões (13,1%) vivem em extrema pobreza.

Além disso, estima que em 2023 a desaceleração do crescimento econômico na região se aprofunde, atingindo uma taxa de 1,3%, o que representa apenas um terço da registrada em 2022 (3,7%) e uma queda abrupta em relação aos 6,7% de 2021.

Crítica de Davos

Embora o WEF se considere um espaço importante para enfrentar esses problemas agudos que o planeta enfrenta com a atual ordem econômica dominante, muitas são as vozes críticas contra esse evento que há décadas mostra uma grande impotência para propor soluções globais.

Por exemplo, como destaca a análise da swissinfo.ch , os Milionários Patrióticos, uma associação que reúne mais de 100 pessoas ricas, principalmente estadunidenses, já havia emitido uma avaliação altamente crítica do WEF no ano passado.

“A verdade é que Davos não merece a confiança do mundo agora. Apesar das incontáveis horas que passou discutindo como este mundo pode se tornar um lugar melhor, este fórum gerou pouco valor tangível em meio a uma torrente de complacência.”

Morris Pearl, presidente do Milionários Patrióticos, em declarações recentes à mesma plataforma digital suíça (a antiga Rádio Suíça Internacional) sustenta que “o WEF é um símbolo de desigualdade, não vi nenhuma evidência sólida de que as pessoas que dirigem o WEF ou participam do fórum estejam planejando mudar o desenvolvimento dessa crescente desigualdade.”

Por sua vez, o Greenpeace, em nota publicada na sexta-feira, 13, destaca as profundas contradições em relação ao ambiente entre a retórica do WEF e suas práticas concretas.

“Os ricos e poderosos se reúnem em Davos para discutir o clima e a desigualdade a portas fechadas usando o meio de transporte mais desigual e poluente: jatos particulares”, enfatiza a ONG internacional.

De acordo com um estudo da consultoria ambiental holandesa CE Delft, o número de voos em jatos particulares de e para aeroportos na direção de Davos dobrou durante o Fórum de 2022. Os pesquisadores atribuem cerca de um em cada dois voos ao próprio encontro. De todos esses voos, 53 por cento eram de menos de 750 quilômetros, que poderiam facilmente ter sido percorridos de trem ou carro; 38% foram voos ultracurtos de menos de 500 km. O voo mais curto registrado foi de apenas 21 km.

Quase 80% da população mundial nunca voou e sofre com as emissões da aviação que prejudicam o clima, diz o Greenpeace. Numa época em que o Fórum de Davos afirma estar comprometido com a meta climática de 1,5°C estabelecida em Paris, esta “festa anual do jato particular” é uma aula magistral de hipocrisia e mau gosto.

Por outro lado, setores juvenis, autônomos e progressistas da sociedade civil suíça repetem os apelos dos anos anteriores para denunciar o Fórum de Davos, “que tenta salvar o mundo há mais de 50 anos. No entanto, são precisamente eles que continuam dando a vitória ao capitalismo e a crise climática”, enfatiza um grupo de organizações que se mobilizam no fim de semana que antecede o início do Fórum.

Na Casa do Povo de Zurique (Volkshaus), realiza-se “O outro Davos”, que se define como “um contraevento” e que lança como lema: “em solidariedade contra a inflação, contra a catástrofe climática e contra a guerra”. No mesmo sábado, dia 14, inicia-se a “Greve contra Davos”, pela justiça climática, uma marcha de 26 quilômetros desde a cidade de Küblis que, passando por Klosters, tenta chegar à sede das reuniões do WEF.

Alternativas de Davos?

Uma voz com propostas e soluções globais ou um Fórum repetitivo e desvalorizado. Essa é a questão que, mais uma vez, se coloca em torno da nova edição do WEF para a terceira semana de janeiro.

Por trás de cada iniciativa internacional estão indivíduos, personalidades. O WEF não foge à regra. Dentro de seu Conselho de Administração, há muitos rostos familiares.

Alguns deles, entre outros: Kristalina Georgieva, diretora do Fundo Monetário Internacional; Christine Legarde, Presidente do Banco Mundial; Knozi Okonjo-Iweala, diretor da Organização Mundial do Comércio; Peter Brabeck-Letmathe, ex-CEO da Nestlé; Andre Hoffmann, executivo de várias empresas multinacionais, incluindo a Holding Roche; Marc Schneider, diretor-presidente da Nestlé.

Davos, sua estrutura organizacional, a grande maioria dos participantes regulares, os requisitos econômicos para participar deste conclave, expressam a visão hegemônica deste mundo submerso em crises políticas, militares e econômicas. São rostos e vozes de poder e pelo poder. Aqueles que já dirigem as rédeas planetárias chegam a Davos.

O planeta Terra, em chamas, continua buscando e esperando por soluções climáticas, democracia e recuperação econômica com equidade. Uma sociedade global submersa na incerteza. E neste concerto, um Davos desvalorizado. Um pouco mais do mesmo.

rmh/sf/hb

*Jornalista argentino, radicado na Suíça.

(Retirado de Firmas Selectas)

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